Como país em desenvolvimento, o Brasil tem sido marcado por traços de uma política pública medíocre, caracterizada pela malversação dos recursos públicos, ausência de políticas sociais efetivas e não-assistencialistas, corrupção de toda ordem, dentre outros fatores, que vêm concorrendo para o situar dentre os piores níveis de IDH no cenário internacional. Aqui, pouco – ou quase nada – tem sido feito para se trabalhar as causas dos problemas sociais, geradores de inúmeros conflitos, estes sempre atendidos pelas polícias, as quais somente têm atuado no efeito desses problemas.
 
As cidades vêm se desenvolvendo sem se pautar em qualquer Plano Diretor Municipal (PDM), ocasionando um verdadeiro desastre urbano, dando azo à formação de favelas, traduzidas em assentamentos urbanos informais, densamente povoados, caracterizados por moradias paupérrimas e precárias, carentes de infraestruturas básicas. Aliado a este quadro desolador, boa parte da população é desqualificada para o trabalho – porque não teve oportunidade -, muitos são analfabetos, excluídos de quase tudo e sem muita perspectiva de vida, os levando ao envolvimento no mundo do crime, bastando, tão-somente, a inclinação e a ocasião para fazê-lo.
 
Aqueles que conquistaram o tão almejado cargo eletivo, agora se esquecem dos compromissos de campanhas assumidos durante a peleja eleitoral – com raríssimas exceções -, focando apenas seus locupletamentos, de uma ou de outra forma, contribuindo, mais e mais, para aumentar o fosso social, piorando e degradando a vida dos munícipes, principalmente dos menos aquinhoados, levando-os à completa desilusão. Lamentavelmente, as festas jamais são esquecidas, aproveitando-se da massa ignara e moldável, tal qual sucedia no soerguimento do Império Romano, à base do pão e do circo, para o esquecimento dos problemas.
 
É nesse contexto caótico que as polícias do Brasil são chamadas a atuar! É como se aqui estivéssemos para apagar a conturbada chama social, contendo os miseráveis que se imiscuíram no mundo do crime – muitos dos quais, se lhes fossem dadas maiores oportunidades e inclusão social, jamais se permitiriam à empreitada ilícita. Até quando, Brasil? Dia virá – e os sinais já são visíveis – em que o meio político não mais abrirá espaço para os aproveitadores e embusteiros, cedendo lugar somente para homens íntegros, sérios e responsáveis, que conduzirão uma gestão pública voltada efetivamente para solver os inúmeros problemas sociais das cidades brasileiras, diminuindo o fosso social acima referido, via de consequência amenizando os inúmeros conflitos, concorrendo para o equilíbrio, a paz e a harmonia social, oportunizando um trabalho diferenciado das suas polícias.
 
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* Irlando Lino Magalhães Oliveira é Oficial da Polícia Militar da Bahia, no posto de Tenente-Coronel do QOPM, atual Comandante do 14º BPM/Santo Antônio de Jesus, e Especialista em Gestão da Segurança Pública e Direitos Humanos.