Um direito sagrado, uma necessidade básica para a sobrevivência na terra, água é vida, todos tem o direito de possuí-la em suas torneiras para o consumo humano. Nós aqui do Vale do Paramirim, possuímos uma das maiores riquezas deste interiorzão, a majestosa barragem do Zabumbão, que encanta a todos pela beleza do seu imenso lago com cerca de 104 milhões de metros cúbicos de água armazenada.

Há muito tempo as autoridades que a idealizaram, também aqueles que construíram e hoje, aqueles que “pelo menos no papel” são os responsáveis pela sua administração, conservação e preservação, a CODEVASF, que deveria ao lado do IBAMA, garantir a saúde das águas, a limpeza das suas margens, a manutenção das nascentes, enfim, aqueles que são diretamente responsáveis pela manutenção, estão por omissão deixando a nossa Barragem muito doente. O caso é muito mais grave do que podem imaginar os usuários.
 Recentemente fiz uma viajem de barco pelo lago do Zabumbão. Fiquei maravilhado sua grandeza e ao mesmo tempo, muito preocupado com o cenário  de descaso observado no trajeto. O rio Paramirim, o rio do Morro, as águas do Poção de Água Quente, se confundem e se unem ao desembocarem no lago do Zabumbão. Uma beleza ímpar. Poucos sertanejos sabem que diversas nascentes nela cabem. O cenário é deslumbrante. Cadeias de montanhas, as ilhas com sua vegetação exuberante, charcos entremeados de campos e matas, pássaros, répteis, peixes e tudo mais. Bem diz o hino nacional que estamos deitados em berço esplêndido. Mas, temos que trabalhar e muito para conservar este patrimônio. Comecemos pelo nosso querido rio Paramirim. Ele está morrendo gradativamente numa velocidade inimaginável.
As captações de água realizadas nas imediações da confluência do Rio do Morro realizadas por insistentes garimpeiros clandestinos de ouro, que são verdadeiras pragas, Máquinas mortíferas operados por anjos da morte, que sem nenhum escrúpulo, destroem as serras, as matas ciliares, aterram nascentes e ainda utilizam-se de explosivos e o tão temido mercúrio, que acaba derramando no Zabumbão. Por muitas vezes denunciamos! Apenas em 1998 fomos ouvidos pela nossa querida Promotora Sara, que lacrou maquinários, apreendeu equipamentos e processou responsáveis. De lá pra cá, formulamos novas e graves denúncias, nenhuma providência das autoridades competentes.Ou não ouviram ou fingiram não ouvir os nosso clamores, os apelos do povo.
Outro grande problema, que precisa ser resolvido o quanto antes possível é o esgotamento sanitário da cidade de Érico Cardoso, que contamina e contribui diretamente para a poluição das águas que consumimos. Sabemos que se trata de uma obra de grande porte, sendo ao poder público local impossível a execução. Daí a necessidade de união, de cobranças ao governo do estado e ao governo federal, tendo como principal mediadora a própria  CODEVASF e o IBAMA, que sediados em Bom Jesus da Lapa, sabem dos problemas e o ignoram. A EMBASA, empresa exploradora do precioso líquido, pelo qual cobra caríssimo, também tem responsabilidades com a degradação, pois deposita dejetos e ao usufruir financeiramente, deve ser solidária com a conservação. Dentro de alguns dias será discutida a renovação da sua licença, é momento de diálogo sobre o seu papel na sociedade e para com a barragem.
Exames realizados há alguns dias nas águas da barragem, evidenciaram a presença elevada de coliformes  fecais, trata-se de uma poluição muito expressiva. isso constata a impregnação de bactérias, além da presença de outros elementos tóxicos e a preocupação inclusive com anomalias detectadas por pescadores em algumas espécies de peixes como a traíra. Conseqüência visível da poluição. A água consumida está situada no nível da classe 2, destinada para beber, lavar, irrigar hortaliças, plantio e usos alternativos. Alguns biólogos chegam a afirmar não se preservar a nenhum uso, o que discordamos, mas reconhecemos um certo temor diante da escalada da poluição. Os dados demonstram que estimativas anunciam que a nossa Barragem do Zabumbão não acompanha a porcentagem de tratamento adequado. Quando se efetua a descarga de grandes volumes de água através da comporta, o líquido que é liberado, “exatamente a parte que se acumula no fundo, junto com a maioria das impurezas”, exala um cheiro insuportável, que é percebido há mais de 2km no Bairro Vila Nova. Segundo a esposa do antigo vigia da barragem, que residia nas imediações da grande parede de contenção, foi obrigado a deixar o lugar por não suportar o mal cheiro.
Enquanto intelectualóides amostrados, discutem a ida ou não da água do Zabumbão para o consumo de comunidades necessitadas, visando defender apenas interesses políticos ou comerciais próprios, a nossa Barragem agoniza pela falta de atenção e cuidados. Os riscos de contaminação são cada vez mais evidentes, abrindo acesso fácil para doenças como o cólera, diarréia, hepatite, febre tifóide e até câncer proveniente do mercúrio, dentre outras que os “médicos” conhecem bem. 
Apenas lembrando aos gananciosos, que somente olham para o seu umbigo, para aqueles demagogos que vão às ruas se utilizarem desta problemática como bandeira política, que se não houver um verdadeiro levante em defesa do Zabumbão, todo o Vale do Paramirim corre sério risco de em poucos anos, ver a nossa maior riqueza sem condições de uso.
Na nossa modesta opinião, o problema não está em como será distribuída a água armazenada, pois para isto acontecer, serão feitos obrigatoriamente estudos de viabilidade, discussões, sem nenhum risco de desabastecimento. O grande problema está no desperdício, com sistemas arcaicos de regos de irrigação por inundação, que além de prejudicarem o solo, provocam a evaporação de milhões de litros. Sendo mais grave a falta de cuidados com todo o complexo da bacia. Desde as nascentes até o grande lago que sofre com a degradação.
Segundo estimativas da ONU, através de um seus órgãos, a FAO, agência voltada para a preservação da água e agricultura, em 20 anos, 60% do mundo e 2/3 da humanidade sofrerá escassez desse produto.