Netinho, Claudia Leitte e até campanha de Lídice quando foi assessor do PSB. Gustavo Ferraz, ex-diretor da Codesal, preso na última sexta, dia 8, revela um passado totalmente distante da realidade que, atualmente, ele assume: operador de Geddel.

Nos anos 90, Ferraz era um rosto conhecido pelos empresários do axé music. Ele circulava bem entre os principais blocos de Carnaval de Salvador. Já foi produtor do cantor Netinho, trabalhou no lançamento de Claudia Leitte e também produziu a banda de pagode Terra Samba, comandada na época pelo cantor Reinaldo. Quem fez parcerias com ele e acompanhou o trabalho do atual alvo da Polícia Federal, diz não entender como Ferraz realizou esta trajetória e caiu nos braços de Geddel.

Antes do PMDB, Gustavo chegou a trabalhar em uma das campanhas de Lídice da Mata, quando atuou como uma espécie de assessor do PSB.

Casado, pai de dois filhos, torcedor do Vitória, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Gustavo Ferraz é um advogado de discreta atuação jurídica –trabalhou em apenas três processos nos anos 1990, de acordo com pesquisa feita pela reportagem no sistema do Tribunal de Justiça da Bahia(TJ-BA). Ferraz foi superintendente de Desenvolvimento Industrial e Comercial da Bahia, em 2009. Antes, ele havia dirigido a Agência do Desenvolvimento Econômico de Salvador nos anos de 2007 e 2008, durante a gestão do então prefeito João Henrique, apoiado pelos Vieira Lima.

Entre os anos de 2015 e 2016, ele foi diretor de Habitação da cidade de Salvador e 2016, na primeira gestão do prefeito ACM Neto (DEM). Quando Geddel ainda era aliado do então governador Jaques Wagner (PT).

Em 2016, Gustavo Ferraz tentou uma candidatura à Prefeitura de Lauro de Freitas, cidade da região metropolitana de Salvador e com população estimada em 197 mil habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Sem conseguir viabilizar seu nome, Gustavo Ferraz acabou por compor a chapa como vice do candidato Mateus Reis (PSDB).

Entre 2011 e 2013, Geddel era vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal. A PF e o MPF (Ministério Público Federal) suspeitam que ele recebia propinas pagas por empresários em troca de facilitação ou liberação de créditos do banco público. O esquema de corrupção, que também envolveria o ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é objeto de investigação da Operação Cui Bono. Durante a campanha eleitoral de 2012, o UOL apurou que Gustavo Ferraz era a pessoa encarregada por Geddel de definir quais candidatos a prefeito e vereador seriam apoiados com recursos do PMDB baiano.

De acordo com a PF, Ferraz seria uma pessoa ligada a Geddel que, naquele mesmo ano de 2012, teria sido indicada pelo ex-ministro para receber recursos ilícitos repassados por Altair Alves, apontado pela Operação Lava Jato como um dos operadores de Cunha.

O encontro marcado entre Ferraz e Altair teria acontecido no Hotel Clarion Faria Lima, em São Paulo. “Na ocasião desse encontro (e, ao que tudo indica, em outros), firmam o compromisso de enviar pessoas para representá-los. A pessoa indicada por Eduardo Cunha seria Altair, enquanto Geddel indicaria Gustavo. Ao constatar o registro no Hotel Clarion, percebe-se que Altair Alves Pinto ficou lá hospedado, no quarto 1302, entre os dias 5 e 6 de setembro de 2012”, afirma o MPF.

Réu Confesso
O ex-diretor da Defesa Civil de Salvador, Gustavo Ferrraz, admitiu em depoimento à Polícia Federal (PF) ter buscado dinheiro em espécie em São Paulo a mando do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) e entregue por um emissário do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A admissão teria sido feita à PF logo no sábado.

De acordo com as investigações da Operação Cui Bono, Ferraz foi a um hotel em São Paulo, em 2012, para apanhar o dinheiro.

Braço direito de Geddel, Ferraz foi preso na sexta-feira (8) e foi exonerado logo em seguida pelo prefeito ACM Neto (DEM). Geddel e Ferraz estão presos na Papuda, no Distrito Federal.

A PF encontrou digitais de ambos em notas dos R$ 51 milhões apreendidos em apartamento emprestado ao ex-ministro, conforme os investigadores.