VEGETAÇÃO EM PARAMIRIM

A área de Paramirim é composta por formações geológicas muito antigas. Há 400 milhões de anos, na era paleozoica, nosso município estava sob o mar Devoniano, um dos corpos d’água do supercontinente Pangeia. No período jurássico, há 250 milhões de anos, a América do Sul começou se desprender da África. Nesse momento, todo o Sertão da Bahia possuía altas altitudes e estava coberto por coníferas (semelhantes às atuais florestas canadenses). Por volta de 65 milhões de anos, após a separação completa entre a América e a África, em sincronia com profundas mudanças climáticas, aparecem em nossa região os primeiros indivíduos da nossa flora atual.

Hoje, Paramirim está integralmente situado dentro da região fitogeográfica da caatinga. No entanto, devido a sua vasta diversidade de solos e formas do relevo, a vegetação que o recobre pode ser dividida em três domínios: as florestas estacionais, as savanas-estépicas e os refúgios vegetacionais.

As florestas estacionais são formadas por arvores decíduas, que perdem 50% das suas folhas no período de estiagem. Situam-se acima de 500 m de altitude, sobre um relevo fortemente ondulado. O porte relativamente grande de suas arvores (± 15 m) indica a presença de solos profundos e bem decompostos – argissolo e latossolo. Nesse tipo de vegetação, encontram-se as acácias, a barriguda, o Ipê-rosa e o cedro.

Já a savana-estépica, com suas diversas subdivisões, costuma ocorrer em solos menos profundos e sobre um relevo plano ou suavemente ondulado. Distingue-se pela presença de espécies xerófilas, ou seja, adaptadas aos climas secos e à pouca quantidade de água. Geralmente, possui dois estratos: i) superior (arbóreo), composto por arvores como umburana, senegalia, aroeira, acácia, umbu, barriguda, baraúna; ii) inferior (gramíneo-lenhoso), são os cactos, como a mandacaru, o xique-xique, a cabeça-de-frade, a palma, e os arbustos, como a faveleira e o pinhão.

Nas áreas de maiores altitudes (acima de 1.100 m), como nos arredores dos povoados de Muquém, Curral Velho e Curral dos Bois, encontram-se os refúgios vegetacionais. Geralmente, são conhecidos como “campos de altitude” ─ vegetação rasteira e arbustiva, muito sensível a qualquer intervenção humana. A espécie vegetal mais frequente, nesses refúgios, é a canela-de-ema.

As espécies vegetais supracitadas possuem muitas utilidades econômicas e medicinais. A madeira da famosa barriguda, prima dos baobás africanos, pode ser utilizada em caixotaria; das suas cascas se extrai remédios para tratamentos hepáticos e reumatoides; sua fibra é um excelente biorremediador, utilizado em caso de vazamentos de óleos petroquímicos. A aroeira, além de possuir uma madeira forte, proporciona chá contra a infecção na garganta. As sementes da umburana possuem agentes anti-inflamatórios e auxilia no tratamento de problemas pulmonares e estomacais.

A partir da leitura do mapa de vegetação, contatamos que cerca de 50% da superfície do nosso município é ocupada por agricultura e pastagens. Estas coberturas ocorrem onde antes existiam as savanas e as florestas estacionais. Algumas frações destas áreas foram alteradas de forma irreversível, ou seja, não há meios para a recuperação da vegetação original. Existe, inclusive, focos de desertificação (degradação do solo em climas áridos, semiáridos e subúmidos), um dos aspectos da tragédia ambiental do Nordeste brasileiro.

De modo geral, a cobertura vegetal em Paramirim está profundamente degradada e carente de preservação. Esse problema tem solução? Sim. A meu ver, o processo se inicia pela conservação do que restou, com base na legislação vigente. Trata-se da delimitação das Áreas de Preservação Permanente (APPs), com posterior fiscalização e gestão dos usos dos recursos naturais. Logicamente, a educação ambiental também é um importante capítulo, uma vez que se constitui numa das maneiras de induzir a população à busca da consciência sobre seus direitos e deveres para com o meio ambiente.

Também, é necessário reflorestar. Esta ação se incidirá, principalmente, sobre as margens dos rios. Os principais rios paramirinhenses sofrem com a deterioração das suas margens. Isto, além de provocar o assoreamento dos leitos fluviais, agride o lençol freático, visto que a cobertura vegetal reduz a intensidade do impacto das chuvas sobre o solo, aumentando a água que irá se infiltrar e abastecer os lençóis freáticos. Com as margens preservadas, nossos riachos e córregos, em tempos de estiagem, secarão com menor velocidade.

Os paramirinhenses precisam se conscientizar das riquezas do seu espaço. A agricultura e a pecuária extensivas não podem ser os únicos pilares da nossa economia. Conscientizar-se implica enxergar as potencialidades que o uso sustentável dos recursos pode nos oferecer, seja através do turismo ou do extrativismo.

TEXTO DE:  Ricardo Kassius – Licenciado em Geografia (UFBA) e mestrando em Geografia (POSGEO – UFBA).