ESGOTO NO RIO – ÉRICO CARDOSO

Nesta quarta-feira (22) celebra-se o Dia Mundial da Água, data instituída pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1993. O dia é saudado anualmente por ambientalistas, técnicos ligados à área e a população, que a cada ano se mostra mais preocupada com as deficiências nas ações de proteção, descaso de governos e autarquias com as reservas naturais, falta de fiscalização e abandono nas áreas de reservas hídricas.

No Brasil, onde estão localizadas as maiores reservas de água doce do planeta, esse tema somente é lembrado nas espetaculares peças publicitárias de governos, nesse e em outros momentos que lhes são adequados.Percebe-se uma decadência e consequentemente o aumento da degradação nas reservas, corrupção e graves equívocos justamente na postura dos órgãos que deviam fiscalizar, zelar pela recuperação, evitar as catástrofes ambientais anunciadas, que tem nas reservas hídricas o seu calcanhar de Aquiles.

AÇUDE DE MACAÚBAS

A nível regional, no nosso sertão sofredor, mais especificamente no Vale do Paramirim, que há pouco mais de 20 anos era um celeiro de alimentos, com rios e fontes saudáveis. Ressalta-se que por estas bandas se colhia até arroz às margens do Rio Paramirim, que corria límpido, robusto, indo abastecer diversos municípios.  Outras fontes, como o Rio da Caixa, o reservatório do Açude em Macaúbas que eram referência e hoje se encontram aniquiladas ou completamente secas.

Exemplos evidentes do descaso, mal uso dos recursos hídricos, uma clara mensagem de que algo está errado, a natureza vem sendo agredida, nossas reservas hídricas feridas de morte. Nascentes sendo extintas por garimpos clandestinos e ninguém se mobiliza (apesar das constantes denúncias), pedreiras se proliferando, lixo, assoreamento e tantos outros males. Sem recursos ou apoio os governos municipais nada podem fazer quanto às tão urgentes obras de saneamento básico, sem as quais, estamos poluindo uma das mais importantes fontes de abastecimento humano, a Barragem do Zabumbão, uma “caixa d'água’ que, abandonada, desprotegida, definha sem ao menos cumprir sua principal função a dessedentação animal e abastecimento humano. Tudo isso por falta de ação. Egoísmo e politicagem.

TRECHO DO RIO PARAMIRIM E VISÃO PARCIAL DA BARRAGEM DO ZABUMBÃO

A Codevasf é uma empresa pública, cuja missão é promover o desenvolvimento nas regiões em que atua, fornecendo água de qualidade através da Embasa, que por sinal vende essa água a preço de ouro. Esse seria, em tese, o papel fundamental para cumprir a missão institucional. O pensamento do corpo técnico e dos gestores da Codevasf, pelo menos da diretoria, está sempre direcionado para a politicagem, cabide de empregos e não para a proteção da água, para seu uso sustentável e para a ampliação do número de pessoas com acesso a ela para múltiplos usos”, como tenta propagar a senhora Kênia Marcelino, presidente da Companhia.

A ironia chega a pontos inacreditáveis, quando a empresa se valendo da data, tenta vender uma imagem de competência, afirmando em nota distribuída à imprensa que neste ano, o tema do Dia Mundial da Água é “Águas Residuais” – Segundo afirmação, o termo designa os recursos hídricos que após serem utilizados em alguma atividade humana deixam de ser próprios para o consumo, mas que podem ser tratados para reaproveitamento ou para adequada reabsorção pela natureza. Segundo a ONU, mais de 80% do esgoto produzido no mundo volta à natureza sem ser tratado e cerca de 1,8 bilhão de pessoas usam fontes de água contaminadas por fezes.

GARIMPOS NO MORRO DO FOGO – FOTO ARQUIVO O ECO

Neste contexto, a Codevasf tem a cara de pau de afirmar que "tem envidado constantes esforços para preservar a água das áreas em que atua. Desde 2007, a empresa investiu mais de R$ 1,3 bilhão na implantação de sistemas de esgotamento sanitário e ligações domiciliares de coleta apenas em municípios da Bacia do Rio São Francisco. Ao todo, 90 sistemas tiveram obras concluídas: 85 na Bacia do São Francisco e 5 na Bacia do Rio Parnaíba".

Nos sistemas de esgotamento sanitário que a autarquia afirma ter instalado, apenas Botuporã, que está inclusa no Vale do Paramirim, talvez tenha concluído tal programa (apesar das deficiências no funcionamento), pois os demais iniciados, destruiu ruas e avenidas, esburacou todas as cidades localizadas às margens do Rio Paramirim, consumiu centenas de milhões em recursos públicos e todas as obras foram abandonadas sem maiores explicações. Por incrível que possa parecer, o município de Érico Cardoso, onde estão localizadas as nascentes, é o que mais polui com esgotos a Barragem do Zabumbão. Lá, por mais que os gestores solicitem, não recebeu nenhum investimento nesta área de esgotamento. Ações desastrosas que estão condenando uma região. A falta de contenção de  focos de contaminação repercute diretamente de forma negativa na saúde de todo o rio, assim como de toda a população que depende dele.

Os sistemas de esgotamento que deveriam ser implantados pela Codevasf, há anos já poderiam estar funcionando, porém, sumiu o dinheiro e nas cidades, o esgoto segue para lagoas, contamina os córregos que vão in natura para o rio. Tais sistemas se instalados com sucesso, seriam compostos por estruturas como redes coletoras, ligações prediais e estações elevatórias e de tratamento. Entre os benefícios associados aos sistemas destacam-se a minimização de focos de doenças e a despoluição do subsolo e de corpos hídricos. Coisas que ficaram no meio do caminho.

Além do tratamento de esgoto que foram abandonados,  os trabalhos da Companhia voltados para a conservação dos recursos hídricos e para a garantia de acesso a esses recursos pela população incluem instalação de cisternas para captação de água das chuvas em benefício de famílias desassistidas em áreas rurais; instalação de barragens de pequeno porte para dessedentação de animais; implantação de sistemas de abastecimento de água e realização de obras e projetos de controle de processos erosivos e gestão de resíduos sólidos. Porém, os moradores do Vale do Paramirim não têm nada a comemorar nesta data e sim encara a triste realidade de dependência do caminhão pipa, paliativo também recheado de falhas, que além de não solucionar o grave problema e escassez, vai protelando as ações necessárias que deveriam ser executadas com vigor pela Codevasf. Infelizmente, seguimos carentes de tais obras na Bacia do Paramirim, um dos principais afluentes da margem direita do São Francisco.

A conservação da água, a proteção dos mananciais e o uso racional, sustentável e consciente dos recursos hídricos, assim como a proteção da vegetação e do meio ambiente como um todo, são responsabilidades que cabem a todos. Individual e coletivamente todos podemos somar esforços para que a água seja aproveitada em todo o seu potencial, a custos acessíveis, pelo maior número possível de pessoas. Somente a mobilização, unindo gestores, órgãos ambientais e a população organizada, será capaz de mudanças significativas, garantindo a nós a segurança hídrica.

AÇUDE DE MACAÚBAS – FOTO ALÉCIO BRANDÃO

De acordo com a ONU, atualmente mais de 663 milhões de pessoas no mundo vivem sem uma fonte segura de água próxima de casa. A cada ano, 842 mil mortes são causadas por falta de saneamento e higiene, bem como pelo consumo de água imprópria. Dados divulgados neste mês pela Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam que a cada ano 361 mil crianças de até cinco anos morrem por diarreia porque não têm acesso a água potável, esgoto e higiene.

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, lançados em 2015, incluem entre suas metas globais assegurar até 2030 a melhoria da qualidade da água com medidas como redução da poluição, diminuição da proporção de águas residuais não-tratadas e aumento substancial da reciclagem e do reuso seguro da água.

AGUADA DA REGIÃO

Nossa região, apesar de estar inclusa no polígono das secas, possui reservas naturais suficientes para abastecer cada localidade, o que nos falta é decisão, ação, conscientização e luta! Todos juntos para assegurarmos um direito sagrado à água, cobrando de órgãos e autoridades, as intervenções necessárias e urgentes, que garantirão saneamento e água de qualidade para todos.