O trabalho de planejamento é feito sempre com base em três cenários possíveis, o mais conservador – ou pessimista – o mais otimista e um intermediário. Traçar cenários não é uma tarefa fácil, mas é possível com base no estudo de dados estruturais e conjunturais, consultas a especialistas e uma pitada de especulação e outra de intuição. Mas essa possibilidade – de planejar – só existe com uma realidade com um mínimo de previsibilidade, artigo em falta no Brasil.
Ainda assim, vamos imaginar quatro caminhos para o País. No primeiro, Temer se segura no cargo. Seu único objetivo é manter um foro privilegiado de araque, uma vez que as acusaçãoes contra ele são por crimes cometidos durante o exercício do mandato e o STF já autorizou abertura de inquérito. Pensando cada um por si, deputados, senadores, ministros, partidos, vão abandoná-lo e, das ruas, o grito Fora Temer vai aumentar de som. Isolado, Temer não terá nenhuma – ou quase nenhuma – condição de governabilidade e de aprovar as reformas com as quais – sem sustentação popular – garantia o apoio do empresariado e do mercado financeiro.
O segundo caminho é a cassação pelo TSE. Aqui, cabe dúvidas em relação aos recursos que poderá impetrar, alongando o prazo de uma decisão final da corte. Continuará no cargo, mas com que apoio? Com que objetivo? Com quantas greves gerais marcadas? Nesta hipótese vislumbra-se um tipo de político que os ingleses batizaram de Pato Manco, tem cargo mas não manda em nada e o paoio parlamentar custará caro.
A terceira possibilidade é a abertura de um processo de impeachment. Este processo tende a ser mais rápido que o sofrido por Dilma Rousseff, mas, mais uma vez, teremos um governo imbuído apenas de sua própria defesa. A quarta é a renúncia. Trata-se da solução mais rápida. Porém de decisão mais difícil. E há outros problemas. Uma eleição indireta feita por um Congresso enlameado por seus próprios integrantes. Por mais que o novo presidente esteja dentro da legalidade, os problemas de legitimidade continuarão e a formação de uma maioria programática para aprovar as reformas será de extrema dificuldade.
A eleição indireta é certamente a opção posta na mesa que mais agrada aos mercados por ter menor grau de imprevisibilidade. Mas a solução a curto prazo pode ser um problema no médio e longo prazos. Reformas aprovadas sem legitimidade – sem o debate necessário; sem a transparência necessária em relação a posicionamentos, escolhas e objetivos; sem uma liderança de fato aceita pela maioria da sociedade e capaz de minimamente unir o país – podem ser revogadas, seja pela Justiça, seja pelo governo seguinte.
Os cálculos políticos e econômicos estão a todo vapor e todas as hipóteses são estudadas. O certo é a incerteza. E onde há incerteza há impossibilidade de planejamento e a retomada da economia fica cada vez mais distante do dia de hoje. O Brasil precisa de empregos hoje, a indústria precisa de consumidores hoje, a economia precisa crescer hoje. Mas, nestes tempos, o hoje vem depois do agora e o que o Brasil precisa agora é de uma solução política. De preferência uma que dê um alívio ao presente e previsibilidade ao futuro. Nenhum caminho é fácil. e Enquanto houver Lava Jato e esta classe política não haverá previsibilidade.
As eleições gerais e diretas podem conferir legitimidade ao líder. Embora possa retardar as reformas necessárias mas apressadas. Problemas: Haverá tempo para mudar as regras, os partidos e os personagens que conduziram nosso país a esta situação? Por outro lado, surge a pergunta: Vale a pena investir no agora e sacrificar o hoje? Façam suas contas e tentem planejar o que fazer nos próximos dias. O futuro nos leva sempre à incerteza.