De acordo com levantamentos oficiais, a Bahia ocupa o primeiro lugar entre os estados nordestinos com maior número de demissões dentro do período em análise (dezembro de 2017 a junho de 2018). O Nordeste perdeu 4.590 postos de trabalho e o Brasil fechou 7.743.

Os dados isolados de junho de 2018 revelam mais demissões em setores    ligados ao turismo. A Bahia fechou 956 postos de trabalho em junho de 2018 nos segmentos de hospedagem, alimentação, agências de viagens, locadoras de veículos, serviços culturais, entre outros.

O turismo baiano, desde maio em evidência nacional com a novela Segundo Sol, da Rede Globo, vive um paradoxo no primeiro semestre de 2018: tem crescimento na taxa de ocupação em relação a 2017, com mais de 4 milhões de turistas, enquanto as demissões  nas atividades ligadas ao setor já chegam a 3.148.

Os dados sobre desligamentos foram apresentados, nesta segunda-feira (27), por meio de uma pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) que analisa os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho.

De acordo com a pesquisa, a tendência se manteve no Nordeste, exceto no Ceará, que registrou 479 contratações em junho nesse setor. Na análise nacional, as demissões no turismo chegaram a 7.743, número de desempregados um pouco menor que o de maio, que atingiu 8.754 trabalhadores brasileiros do turismo.

Na avaliação da área de Pesquisas Econômicas da CNC, em face das demissões, a recuperação das atividades turísticas demandará tempo e esforço, pois o ritmo da  retomada do crescimento da economia brasileira encontra-se lento, em um cenário de incertezas políticas.

A turismóloga Fabiana Arruda, 36, é um dos mais de 3 mil demitidos no setor na Bahia. Depois de trabalhar por 3 anos e meio no Gran Hotel Stella Maris, um dos cinco da rede Sol Express em Salvador, ela teve de deixar o emprego em junho. “Me disseram que meu salário era alto demais e que iam me demitir para contratar mais dois, mas não sei se isso ocorreu”, contou.

Segundo Fabiana, a situação que estava ruim começou a ficar pior com o aumento dos combustíveis, cuja crise teve o auge durante a greve dos caminhoneiros, entre 21 de maio e 4 de junho. “Foram saindo mais pessoas e o trabalho  acumulando, passou a ficar bastante puxado, cansativo”, afirma.

Ainda em busca de emprego, a turismóloga diz que busca outras opções na área administrativa. “Além disso, sou habilitada para dar aula de artes (pintura) e posso trabalha com cenografia”, diz Fabiana. Enquanto não surge algo que possa lhe dar renda, a turismóloga atua como voluntária no projeto Superação, com arrecadação de alimentos para o Núcleo de Apoio ao Combate do Câncer Infantil (Naccci).

No Gran Hotel Stella Maris, a gerência informou que as demissões e admissões ocorrem com frequência, a depender do funcionário, e que há 18 meses está com o quadro de 220 colaboradores estável. “Tivemos demissões em 2016, hoje fazemos a substituição quando achamos necessário, mas estamos estabilizados”, disse o gerente Milton Ufano.

Ajustes

Diretor geral da rede Sol Express Hotéis & Resorts e presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação do Estado da Bahia (FeBHA), entidade que representa 4.170 hotéis e 40 mil bates e restaurantes, o empresário Silvio Pessoa prefere não comentar sobre demissões em sua rede, mas admite que teve de fazer ajustes.

“Estamos trabalhando com um número reduzido de hotéis há mais de três anos, o quadro de trabalho está no limite para 60% de ocupação, quando ultrapassa isso nós contratamos trabalhadores extras (temporários). Na rede toda, em Salvador, são em torno de 700 funcionários atualmente”, informou.

 De acordo com o empresário, Salvador perdeu nos últimos três anos mais de 1.500 bares e restaurantes. “Não sei quantos deles voltaram a reabrir, mas é evidente que a crise está aí para todo mundo ver, apesar de cantarem em verso e prosa que o estado vai bem”, declarou.

Mas o setor não está ruim para todo mundo. Localizado no bairro de Pernambués, o Hotel Pousada Salvador, aberto em 2015 com três funcionários, hoje já conta com dez, sendo três do atual quadro contratados no início deste ano. O hotel tem 27 apartamentos e 65 leitos.

“Somos um hotel voltado mais para o público empresarial, o movimento aqui é durante a semana, vem muita gente. Mas sentimos que deu uma caída na movimentação. Com essa crise, algumas empresas estão optando por fazer videoconferências online em vez de eventos presenciais”, disse a gerente Graziela Feliciana. “Ainda estamos sentindo o impacto da greve dos caminhoneiros”.

O coordenador da Câmara Empresarial de Turismo da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio-BA), José Manoel Garrido, avalia que “diversos estabelecimentos de todos os segmentos turísticos reduziram seus quadros de colaboradores”.

“Aliado à redução da atividade econômica, vários estabelecimentos fecharam suas portas, principalmente, nas áreas de alimentos e bebidas”, diz. O resultado das demissões e da crise, afirma, é que “muitos retornaram a informalidade devido à alta carga tributária e a excessiva burocracia estatal”.