Viver a terceira idade significa para muitos o descanso por anos de trabalho, ou até mesmo a possibilidade de realizar sonhos e planos antigos. No entanto, para uma parcela cada vez maior, a condição de idoso acaba se tornando sinônimo de sentimentos como desespero e tristeza, e chega até mesmo a causar uma vontade de tirar a própria vida. Em 2017, um boletim do Ministério da Saúde divulgou que indivíduos, especialmente do sexo masculino, com 70 anos ou mais, apresentaram uma média de mortes por suicídio de 8,9 mil nos últimos 6 anos. Um dado chocante, visto que a média nacional foi de 5,5 por 100 mil.

 

Para a enfermeira e professora da Universidade Federal da Bahia, Adriana Valéria da Silva Freitas, o suicídio de idosos é ainda hoje considerado um tabu. Autora de diversos trabalhos, e iniciante em uma das primeiras pesquisas sobre o assunto na Bahia, ela acredita que existe uma pressão social atribuída ao envelhecimento.

“As causas de um suicídio na terceira idade podem estar associadas ao próprio processo de envelhecimento, que geralmente provoca sensações de perdas no papel social das pessoas idosas. Isso se deve ao fato de sermos uma sociedade de consumo que preza pela juventude, o que acaba gerando uma condição de desvalorização”, afirma.

Além do fator social, Adriana pontua que algumas doenças comuns à velhice, como por exemplo, a demência, também podem se tornar possíveis motivos, ao passo que incapacitam e provocam a perda da autonomia e independência. “Quando já não podem realizar as atividades básicas e instrumentais da vida diária, ocorre isolamento, tristeza e até mesmo depressão, levando muitas vezes o idoso preferir morrer a depender de pessoas que lhes preste cuidado”, explica.

Para a pesquisadora Adriana Freitas, a prevenção também passa pela conscientização social 

A realidade sobre a qual Adriana escreve pode ser comprovada na prática em Instituições responsáveis por acolher e cuidar de idosos baianos. Assistente Social do Lar Irmão José, localizado no bairro de Brotas, Suzana Fonseca conta que diariamente escuta expressões perigosas dos residentes.

“Eles costumam dizer frases tristes como “está na hora de eu ir embora”, “queria que Deus me levasse logo” e “estou dando muito trabalho”, conta. Segundo ela, muitos também sofrem com doenças mentais. Alzheimer, esquizofrenia e até mesmo depressão estão entre as mais citadas.

No entanto, ela afirma que até o momento, a Instituição não registrou nenhum caso de tentativa ou ato consumado. No Brasil, atualmente dados sobre suicídio de idosos em abrigos não são encontrados com facilidade. Porém, a notificação é uma exigência da da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o que, em comparação com os dados da OMS, demonstra a possibilidade de existir uma falha no processo de apuração.

Prevenção, uma necessidade

Em algumas instituições como o Abrigo São Gabriel para Idosos de Deus, a prevenção é feita diariamente para afastar o sentimento de tristeza. “Procuramos oferecer diversos tipos de terapia utilizando música e animais, além de banhos de mar e momentos com orações religiosas”, explica o presidente da organização, o Irmão Gabriel.

Atualmente, o abrigo mantém cerca de 75 idosos, cuja maioria veio das ruas. Segundo Gabriel, em 19 anos de operação, o local nunca registrou nenhuma tentativa ou suicídio. De acordo com Suzana, no Lar São José, alternativas como eventos e atividades são utilizadas com frequência. Os idosos também dormem em quartos coletivos para estimular a convivência e diminuir a solidão.

Para Adriana, além de recorrer aos já conhecidos locais e profissionais da saúde, a prevenção deve necessariamente passar pela conscientização cotidiana sobre o ato de envelhecer. “As pessoas precisam entender que apesar de ocorrerem algumas limitações provenientes do envelhecimento, é possível viver bem nesta fase da vida”, finaliza.