Uma história envolvendo a exploração de chumbo em uma pequena cidade do centro-sul da Bahia e as consequências devastadoras desta para a população. Esse é o plano de fundo de “Boquira”, livro que será lançado pelo jornalista e escritor Carlos Navarro Filho, na próxima quarta-feira, dia 19 de dezembro, em evento que acontece na Casa do Comércio, em Salvador. Esta é a segunda publicação dele.
Tudo começa nos anos 1950, com a descoberta, por um padre, de uma mina de chumbo na cidade de Boquira, distante 650 quilômetros da capital baiana. A partir daí, através de um abaixo assinado, ele requereu o usucapião das terras e as teria vendido. “Mas, como o Brasil era carente de chumbo, a descoberta fez com que o Governo da Bahia, à época, desapropriasse o município para que uma mineradora francesa, a Peñarroya, explorasse o chumbo no local”, explicou Navarro.
Como forma de dar uma legalidade ao fato, o então governo criou um Núcleo de Assistência Rural para que, entre outros benefícios, os moradores da cidade tivessem acesso a diversos serviços como água potável, saúde, escolas e hospitais. Contudo, segundo o jornalista e escritor, nada foi feito em benefício dos viventes. “A empresa saiu do local de exploração, mas deixou as nascentes poluídas, além de um rastro de violência e mortes. Até hoje os moradores não tem água potável em seus mananciais”.
Mas além da situação complicada deixada em Boquira, o chumbo também trouxe problemas em outra cidade: Santo Amaro, no Recôncavo baiano, onde ele era beneficiado. Para Navarro, esta foi a maior contaminação do mundo pelo minério, onde mais de 1.200 pessoas morreram e outras ficaram doentes. Isso sem contar a poluição de um estuário na Baía de Todos-os-Santos e do próprio Rio Subaé. Ainda de acordo com ele, o processo até hoje continua na Justiça.
Com cerca de 130 páginas, o livro – que já foi lançado na própria cidade de Boquira – reúne uma série de reportagens que seriam publicadas em quatro diferentes veículos jornalísticos aqui de Salvador e de São Paulo, nos anos 1970. Contudo, apenas uma delas foi publicada à época, segundo Carlos Navarro. A publicação é uma produção independente (a impressão foi da Empresa Gráfica da Bahia – EGBA), terá o valor de R$ 39 e estará disponível nas principais livrarias da capital baiana após o lançamento.