Adesão a Consórcios e consequente migração de serviços para outra região, é vista com apreensão e desconfiança pela população que teme ficar isolada no Vale do Paramirim.
A Conduta já sacramentada há alguns anos pelo Município de Tanque Novo, que optou por desligar-se completamente do Território da Bacia do Paramirim, assumindo interesses com a região de Guanambi, participando não somente dos consórcios e formalizando adesão às diretorias regionais de serviços como DIREC e DIRES, estando apenas ligado ao Vale do Paramirim pela água do Zabumbão, também o município de Botuporã, que apesar de se beneficiar de diversos serviços por aqui instalados, inclusive dos recursos hídricos, inicia movimento de migração, com o intuito de assumir interesses com o Consórcio Alto Sertão, acreditando a atual gestão, ser mais vantajosas as ofertas de serviços. O ponta pé inicial ocorreu com o projeto encaminhado à Câmara Municipal, que passa a apreciar para decidir em duas sessões a adesão pretendida.
É fato que Tanque Novo, apesar de estar próximo, historicamente despreza os interesses comuns, as aspirações e lutas do Vale do Paramirim, exceto as águas do Zabumbão, posicionamento agora reforçado pelo atual gestor Paulo Ricardo Carneiro (PP), que inclusive é aconselhado por “consultores políticos” de Bom Jesus da Lapa, onde possui residência, sendo que suas ações e relacionamentos administrativos, estão voltados para parcerias em outras regiões. De certa forma, também não é surpresa a iniciativa do prefeito de Botuporã, Edimilson Antônio Saraiva (PP), que já participa de reuniões e demonstra convicção em conduzir os trâmites para a migração definitiva de Consórcios e território no que diz respeito a parcerias e ofertas de serviços Intermunicipais.
Apesar de divergências sobre essa nova situação, que divide a população, essa é uma opção possível e a escolha depende apenas da aprovação dos vereadores. Está comprovado que os consórcios têm ganhado cada vez mais espaço de forma associada para prestação de serviços públicos que dificilmente os municípios teriam capacidade de ofertar com qualidade, até pela questão da ausência de recursos. Os consórcios públicos constituem poderosos instrumentos para os municípios, especialmente os menos abastados de recursos, enfrentarem conjuntamente os problemas que assolam suas populações, somando recursos materiais, financeiros e humanos de cada ente, por meio da utilização conjunta de maquinas, equipamentos e mão de obra especializada. A dúvida crucial é que, estando tão distante, menos expressivo diante dos outros municípios, dependendo obrigatoriamente do sistema de regulações, Botuporã não corre risco de boicotes?
Inegável que a identidade de Botuporã foi construída aqui na Bacia do Paramirim, inclusive a maior riqueza, a água do Zabumbão que está nesse território. Enquanto municípios ribeirinhos como Rio do Pires, Ibipitanga, Macaúbas e Boquira, comungam os mesmos anseios, lutam bravamente pelo fortalecimento do Consórcio do Vale, mesmo sem terem seus territórios abastecidos pela água do Zabumbão, a provável saída de Botuporã para o consórcio do Sertão Produtivo, tal como Tanque Novo o fez, poderá fragilizar gradativamente a relação dentro do território com os outros municípios. “Essa é uma situação delicada para o município de Botuporã que pode ser interpretada com desconfiança no território. Acho que lá não teremos o mesmo reconhecimento e prestígio assim como Tanque Novo, que hoje está no meio de 20 municípios com realidades totalmente diferente da nossa, então é muito complicado. Acredito que o prefeito deveria, junto com outros gestores do nosso território, era lutar para fortalecer o nosso consórcio e não fragilizar ainda mais o território da Bacia do Paramirim”. Enfatizou uma das lideranças políticas da região.
Os questionamentos são muitos, especialmente sobre a pactuação em saúde que deve sair de Paramirim, o que obrigaria pacientes a deixarem de ser atendidos a 40km, deslocando-se para Guanambi, distante 140km, sendo que pelo Consórcio de Saúde, são ofertados apenas exames e diagnósticos, não existindo internação para tratamento. Outros moradores se mostram preocupados com a educação (DIREC), cujo núcleo é Macaúbas e há possibilidade de transferência para Caetité, também a Diretoria de Saúde (DIRES) e outros serviços sofreriam obrigatoriamente mudanças. Há quem suspeite de “interesses escusos” por trás destas posturas da gestão, que segundo moradores e algumas lideranças, não estão comprovadas as vantagens concretas para a população.
Quanto ao ingresso já encaminhado de Botuporã no Consórcio de Saúde do alto Sertão, aprovado inclusive em assembleia, um especialista em gestão de saúde, afirma que “a forma desta proposta apresentada só faria sentido se Botuporã se desvincular da 23ª Dires de Boquira e ir pra Caetité, do contrário o município corre o risco de ver travada sua referência, ficaria isolado, nem um lado nem o outro. Lembrando que mesmo saindo pra Caetité/Guanambi, outro impasse seria a continuidade da pactuação integrada com Paramirim”. Ressaltou. No que diz respeito à possível migração para o Consórcio Sertão Produtivo, vale frisar que Botuporã possui muitos projetos aprovados pelo Consórcio de Desenvolvimento do Vale do Paramirim, dentre os quais, recuperações de estradas vicinais e a construção de pontes, que obrigatoriamente teriam que ser cancelados.
Nossa reportagem tentou contato com o presidente da Câmara de Vereadores local, para obter informações sobre a apreciação e votação dos projetos, mas, até o fechamento desta matéria não obtivemos êxito. Apenas informações de que o Projeto de Lei já foi encaminhado, sendo que na última quinta-feira (10), a Secretária Municipal de Saúde Tharcisia Saraiva, acompanhada de uma técnica do Consórcio de Saúde Alto Sertão (Michelle), estiveram pessoalmente na Câmara, detalhando os benefícios a serem avaliados pelos edis. Dentre as informações, falou-se sobre o rateio financeiro da ordem de R$ 12 mil reais que devem ser pagos mensalmente pelo município para assegurar exames e diagnósticos. Ficou expresso que a parceria não inclui tratamento ou internação.