Filiando-se, ele vai para o partido de maior bancada, muito recurso do fundo eleitoral e tempo de Tv. Mesmo assim Alckmin não descarta ser vice de Lula. Resta saber como ficaria o PT da Bahia nesse cenário.
O jogo da política é dinâmico e envolve todos os tipos de artimanhas possíveis, especialmente nos bastidores da pré-campanha. É nesse período que antecede os prazos de filiações, que as coisas esquentam, negociações inimagináveis acontecem atrás das cortinas antes do espetáculo se iniciar. Ninguém imaginaria Lula com quase 50% das intenções de voto, apontado como possível vencedor no primeiro turno, abrir diálogo com o centro-direita, convidando Alckmin, eterno adversário para compor a chapa. Mais estonteante é a possibilidade real do ex-governador ir filiar-se ao União Brasil de Bivar e ACM Neto e mesmo assim, continuar com chances de ser o vice na chapa do PT, como divulgou o Bahia Notícias.
Desfiliado do PSDB, partido que ajudou a fundar há 33 anos, o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, não tem um destino selado. Publicamente, três legendas são citadas como ninho potencial para o ex-tucano. Todavia, há uma opção que circula apenas nos corredores e que não estaria descartada: a filiação ao União Brasil, legenda resultado da fusão entre DEM e PSL. Tal movimento, inclusive, não eliminaria uma possível aliança com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem Alckmin poderia ser alçado à condição de vice. O namoro entre o ex-governador de São Paulo e o DEM não chega a ser uma novidade. O entrelace começou após João Doria “trair” a aliança com o partido ao filiar o vice-governador, Rodrigo Garcia, ao PSDB. Como truco, o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, teria convidado Alckmin para ser candidato contra a possível tentativa de reeleição de Garcia – Doria à época já se considerava candidato à presidência da República pelo PSDB mesmo sem prévias, vencidas por ele apenas em novembro. Ao longo dos últimos meses as conversas entre Alckmin e o DEM esfriaram e o tema saiu da pauta política.
Agora, com a confirmação da saída do ex-governador do PSDB, o assunto voltou a percorrer rodas mais restritas de debates. O ex-tucano mantém negociações mais ativas com o PSB, flerta com o PSD, recebeu convites públicos do Solidariedade, porém preserva pontes ativas com o futuro União Brasil. O novo partido ainda carece de homologação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e nasce com uma bancada robusta na Câmara, tempo de rádio e televisão expressivo e uma cifra vultuosa do fundo partidário/ eleitoral. É considerado, portanto, uma “noiva” cobiçada. Uma eventual filiação de Alckmin ao União Brasil não encerraria as possibilidades dele ocupar a vaga de vice numa chapa liderada pelo ex-presidente Lula. As lideranças partidárias tentam tornar viável a negociação. Para o petista, a aliança com Alckmin ampliaria o alcance a espaços que ele não costuma dialogar com facilidade estando fora do Palácio do Planalto, como a elite econômica de São Paulo, e setores mais conservadores da política.
Segundo fontes com acesso a diálogos sobre o tema, mesmo que remota, a hipótese tem sido observada com entusiasmo pelos envolvidos. Lula, então, avançaria sobre uma parcela da centro-direita (a direita não radical) e Alckmin teria um cacife maior – leia-se tempo de rádio e televisão e recursos para campanha – para negociar outras frentes na construção de uma chapa ainda mais competitiva e com o tom de “conciliação nacional”, defendido publicamente pelo petista desde a saída da prisão e a declaração de nulidade das sentenças proferidas contra ele até aqui. As arestas para que a chapa Lula-Alckmin tenha como avalista o União Brasil são figuras tradicionalmente antipetistas, como Ronaldo Caiado, Luciano Bivar e o próprio ex-prefeito de Salvador. Além, é claro, de áreas menos pragmáticas do petismo. Porém ACM Neto estaria compelido a não rechaçar o acordo em troca de um pacto de não agressão na corrida eleitoral para o governo da Bahia. “Lula quer ser presidente. ACM Neto quer ser governador. Se for possível para ambos essa conversa, não vejo um porquê para Neto não aceitar”, brincou um interlocutor com trânsito com Alckmin.