Águas estão acima de 8 metros do nível normal do rio, que enfrenta a maior cheia dos últimos 14 anos.
O Rio São Francisco é, sem dúvida, um dos mais importantes cursos de água do Brasil. Com 2.863 km de comprimento, ele passa por cinco estados e 521 municípios, sendo o principal recurso de sustento para muitas comunidades. No entanto, o que é motivo de alegria também pode gerar desespero. Com as fortes chuvas na Bahia e em Minas Gerais dos últimos dias, houve um grande aumento do volume de água do rio, que atingiu sua maior cheia dos últimos 14 anos.
De acordo com a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), o nível da água se encontra a oito metros e 24 centímetros acima do normal e, para algumas comunidades ribeirinhas, está aceso o sinal de alerta. Esta é a situação vivenciada na cidade de Bom Jesus da Lapa, oeste baiano, que enfrenta pontos de enchentes nas regiões próximas às margens do rio e seus afluentes.
Desde o último dia 27 de dezembro, a prefeitura de Bom Jesus da Lapa, através da Secretaria Municipal de Assistência Social, realiza o monitoramento, orientação e acolhimento para diversas comunidades ribeirinhas do município que foram afetadas pelas chuvas ou que estão em perigo devido ao aumento do nível do Rio São Francisco, que passará pela continuidade do regime de chuvas e a liberação de águas da hidrelétrica de Três Marias, em Minas. [Veja mais abaixo]
De acordo com informações, restaurantes da região foram inundados e a população foi orientada a deixar os imóveis. E com a cheia projetada para se estender até o mês abril, a situação exigirá ainda mais atenção das autoridades.
Em nota, a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) ressaltou o período chuvoso e a necessidade de desocupação das regiões de risco. “Tendo em vista que a Bacia do Rio São Francisco vivenciou um longo período de baixa hidraulicidade e que vazões liberadas do reservatória de Sobradinho (na Bahia) da ordem de 4.000 m³/s não são observadas desde o ano de 2009, é fundamental chamar atenção para a importância da não ocupação das áreas ribeirinhas situadas na calha principal do rio, haja vista o período úmido em curso e a possibilidade de elevação das vazões para valores acima de 4.000 m³/s, a depender da evolução do quadro de chuvas na Bacia”, informou.
Operação dos reservatórios
Com as cheias, as condições normais de operação dos reservatórios do Rio São Francisco ficam suspensas e passam a valer as Regras de Controle de Cheias, estabelecidas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). A ANA acompanha a operação em articulação com o ONS e demais entes responsáveis.
Na reunião de acompanhamento realizada nesta quarta-feira (12), foi relatada precipitação acima da média esperada ocorrida desde o mês de dezembro, formando condições propícias de umidade do solo para a elevação do escoamento e vazões dos rios. Para os próximos dias, a previsão é de redução dos volumes precipitados, mas com vazões ainda em alta devido ao tempo de propagação da cheia na bacia.
Ainda segundo a ANA, somente neste domingo (9), choveu cerca de 96% do esperado para todo o mês de janeiro na Bacia do Rio São Francisco. Como consequência, a Cemig e Chesf, agentes responsáveis pelas principais hidrelétricas do rio, identificaram a necessidade de aumentar as vazões defluentes praticadas com o objetivo de preservar os volumes de espera dos reservatórios. “Os volumes de espera são projetados para suportar as ondas de cheia e proteger as populações e estruturas abaixo das barragens contra inundações”, destaca a agência.
Em Três Marias (MG) a defluência foi elevada para 830 m³/s e o volume de espera ainda não foi atingido. Devido à subida das afluências, está programado aumento das vazões de saída a partir de sexta-feira (14). As defluências deverão subir a partir de então ao longo do final de semana e na semana seguinte. Os valores estão sendo definidos pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), que é o agente responsável.
Em Sobradinho (BA) as defluências passaram a ser elevadas a partir desta quarta (12), com 1.300 m³/s, e subindo 500 m³/s a cada 2 dias até atingir a máxima esperada de 4.000 m³/s em 24 de janeiro. O volume atual é inferior ao volume de espera, mas foi identificada a necessidade de preparação para recebimento da onda de cheia que já se encontra na bacia. Em Xingó (SE), a operação é semelhante à de Sobradinho, com incremento de 500 m³/s a cada 2 dias e máxima esperada de 4.000 m³/s no dia 24.