Para especialistas, a eleição de outubro está praticamente dada. A não ser que “o acaso faça uma surpresa”.

Todos nós que já passamos dos 40, nos recordamos com clareza das angustiantes apurações de votos, quando a contagem sempre devagar das células eleitorais sugeria que o candidato da esquerda ao prefeito caminhava para a vitória, ouvia-se os gritos dos famosos ‘cabos eleitorais’ que saiam do recinto de apuração, com crachá no peito, mostrando os últimos resultados aos seus correligionários e proferindo frases esperançosas: “Calma, falta apurar os votos da Zona rural! Ainda não abriram as urnas da serra, faltam as do Colégio tal”.

Naquela época, geralmente os grandes latifundiários, líderes de comunidades, detinham o poder do convencimento e indução ao voto, seja pela pressão econômica, agrados eleitorais, ou até mesmo pelas ameaças de demissões, perseguições, enfim, os tais caciques tinham certeza de alguns resultados regionais, afinal, nos anos do pão e da chibata, fazendeiros, grandes criadores e comerciantes, ditavam as normas. Eles quase sempre iam bem, e os empregados, de mal a pior.

A coincidência com as eleições presidenciais deste ano, é que os ‘caciques da campanha de Bolsonaro, mesmo depois de se utilizarem de todos os artifícios possíveis, a essa altura, o primeiro escalão da campanha deve estar nervosamente debruçado sobre o mapa do país à procura dos votos de qualquer zona rural ou urbana que possa salvá-los de uma derrota quase certa nas eleições de daqui a 26 dias. A nova pesquisa Ipec (ex-Ibope), apontou uma situação de estabilidade em relação à anterior divulgada na semana passada. É o mesmo quadro registrado pelas demais. Estabilidade é uma coisa boa para quem está na frente, e ruim para quem está atrás.

Descontados os nulos e brancos, Lula tem 50% dos votos válidos contra 35% de Bolsonaro. Ele precisa de 50% mais um único voto para liquidar a eleição no primeiro turno. Além disso, os números mostram que se o segundo turno fosse hoje, ele derrotaria Bolsonaro por 52% a 36%. Há uma semana, 47% dos eleitores disseram que não votariam em Bolsonaro de jeito nenhum. Agora, são 49%, uma oscilação dentro da margem de erro da pesquisa. Oito em cada 10 eleitores afirmam que já definiram seu voto e que não mudam mais.

O Sudeste é a região com o maior número de eleitores (42%). Lula passou de 39% para 41%; Bolsonaro caiu de 33% para 30%. Entre os que ganham de 1 a 2 salários mínimos (27% dos eleitores), Lula subiu de 47% para 49%, e Bolsonaro caiu de 31% para 26%. O comício militar de 7 de setembro servirá para que Bolsonaro dê sua última demonstração de força. Por maior que seja, ela não subtrairá um único voto a Lula, podendo, no máximo, apenas atrair eleitores de Ciro Gomes (PDT) e de Simone Tebet (MDB).

Vai depender, porém, de como Bolsonaro se comporte no palanque montado em frente ao Forte de Copacabana, no Rio. Se ele for mais Bolsonaro do que Jair, sua rejeição aumentará. Se for mais Jair do que Bolsonaro, talvez diminua, mas ninguém garante. À falta dos votos de uma zona rural no nordeste que possa chamar de sua, restará a Bolsonaro apelar ao Sobrenatural de Almeida, criação imortal do jornalista e teatrólogo Nelson Rodrigues, por sinal pernambucano e torcedor fanático do Fluminense. Sobrenatural de Almeida era um fantasma, responsável por tudo de ruim que acontecesse ao Fluminense, segundo Nelson. Ele surgia quando menos se esperava, e geralmente em momentos decisivos. Quem sabe, ele não dá uma mão a Bolsonaro…