Maioria dos eleitores no interior, demonstraram elevado nível de discernimento e flexibilidade na hora do voto. Ao libertarem-se, decretaram o enfraquecimento das oligarquias.
Analistas políticos que observaram cenários nos mais diversos municípios da nossa região no decorrer do processo eleitoral do ano passado, que elegeu prefeitos e vereadores para o período 2025/2028, concluíram que nunca na história recente, ocorreram fenômenos como os vistos na eleição municipal. O que antes era de certa forma “dominável” pelos caciques políticos, como os famosos e repugnantes “currais eleitorais”, hoje já não existem mais. Isso obrigou partidos políticos, candidatos e apoiadores a se munirem de assessorias especializadas, estratégias de marketing e principalmente de pesquisas de opinião, para, com base em dados atuais e confiáveis, direcionarem suas campanhas para as demandas da maioria.
O estilo de se fazer política no interior mudou. Não foi o discurso bonito, as promessas já desgastadas nem mesmo a presença constante dos candidatos e seus “agradinhos” que conquistaram o eleitorado. Pelo contrário, esses truques, que aliás, foram amplamente utilizados como cartões de visita na maioria dos municípios, não garantiram sozinhos o sucesso nas urnas. O mais surpreendente foi perceber que nem as obras realizadas definiram o destino dos políticos. Cada lugar com suas peculiaridades, no entanto, em geral, o que se percebeu foi desapego a grupos tradicionais e a flexibilização do voto até o dia da eleição.
Para os que conseguiram se eleger, foi necessário conhecer tendências, compreender o momento do eleitor e adequar a simpatia ou indignação de pessoas ou comunidades, trabalhando estratégias eficazes, que “convenceram temporariamente”. O mais surpreendente, segundo especialistas, é que em alguns casos, o político eleito, inclusive, com margem esmagadora de votos, já no início desse novo mandato, vê esvaziar-se sua base, com a debandada de eleitores indignados ao descobrirem facetas e as “verdadeiras intenções” do candidato que elegeu.
Um exemplo de reviravoltas inesperadas, pode ser observado no vizinho município de Tanque Novo, onde o atual prefeito se reelegeu com votação esmagadora e hoje sofre perdas políticas, com debandadas inesperadas, que se iniciou com o desembarque de fortes aliados, como a vereadora Verônica, que foi eleita pelo grupo do prefeito e hoje é Presidente da Câmara e opositora ao atual governo. Ela derrotou a chapa apoiada pelo prefeito Ricardo. Segundo fontes, a vereadora, ex-aliada, percebendo o autoritarismo, isolamento e atitudes desastrosas do gestor que pregava o fim de privilégios para parentes, mesmo tendo como vice-prefeito o irmão, tendo ainda retornado ao cargo de secretária de finanças, a esposa, que havia sido afastada antes do período eleitoral, dentre outras medidas impopulares que indignaram a base. A revolta se transforma em uma forte articulação da oposição resultando na nova composição da Mesa Diretora para o biênio 2025/2026, com a Vereadora Verônica, Presidente da Câmara de Tanque Novo em uma virada histórica.
Esse acontecimento que repercutiu em toda a região, explicitou o enfraquecimento do grupo liderado pelo prefeito, que, segundo fontes, vem sendo taxado inclusive de perseguidor, por demitir servidores e prestadores que colaboravam de forma positiva na gestão, para nomear parentes e amigos próximos. Com isso a revolução de que falamos inicialmente, vem ganhando força em Tanque Novo e por consequência, a oposição que volta a se unir, tendo conseguido agregar todos os descontentes. Nossa reportagem tentou contato com o gestor, mas, até o fechamento desta matéria, não conseguimos êxito. No entanto, permanece aberto espaço.
De acordo com as nossas fontes, no que diz respeito aos políticos que trabalharam a chegada de Verônica à Presidência do Legislativo local, estão: o atual Vice-Presidente da Câmara, vereador Valmir, o 1º Secretário, vereador Delcí, o 2º Secretário, vereador Enilton. Além de Juscélia e Cleiton, tendo sido esse último, o vereador mais votado nas eleições de 2024. A derrota do grupo do prefeito na Câmara certamente irá impactar o diálogo e a governabilidade nesse novo período. Ainda segundo as nossas fontes, ao perceber o estrago político, num rompante de ira e autoritarismo o prefeito determinou o afastamento de Verônica que é concursada da prefeitura e servia como enfermeira, retaliação que de pronto foi combatida na justiça, tendo sido determinada a sua reintegração. Insatisfeito, o prefeito recorreu da decisão e o caso aguarda posicionamento do Tribunal.
Ainda segundo a nossa fonte, cuja identidade está sendo resguardada por temer retaliação, estas atitudes “dignas dos antigos coronéis da política”, praticadas pelo prefeito, revoltou ainda mais a população, causando um efeito manada e provocando reações inesperadas para este momento de início de gestão. Além da reconfiguração na Câmara de Vereadores que hoje tem maioria oposicionista, seis vereadores, o movimento reaproximou nomes de expressão do passado e do presente, que agora articulam juntos no numeroso grupo de oposição, que conta com os ex-prefeitos Juca, Wanderlei e Elson, com o ex candidato a vice-prefeito Iderlúcio (Dula), fortes empresários: Daniel, Idernilton, Ulisses, Alex do Mucambo, além de outras dezenas de comerciantes e empreendedores locais, bem como das famílias tradicionais como os Gringos e os Marias.
Além desse cenário completamente incerto e nunca antes imaginado no início do segundo mandato do prefeito Ricardo em Tanque Novo, outros municípios da nossa região experimentam situações parecidas. Detalharemos em matérias posteriores algumas situações, que reforçam as reflexões narradas acima, onde analistas políticos dissertam sobre as transmutações da política atual. Em resumo, a lição que fica é que, para além da habilidade de convencimento e estratégias no período eleitoral, é crucial que haja humildade e sinceridade nas palavras e promessas ao governar. O gestor atual deve cercar-se dos fatores primordiais na política, informações e assessorias eficientes, pois, está cada vez mais pedregoso o caminho para políticos centralizadores, autoritários, egocêntricos e ardilosos. Esses personagens que se deixam cegar pelo poder, ignoram os “fatos e sinais” que estão claros nos dias atuais. Quem possui e não se desfaz de tais imperfeições, está fadado ao fracasso. Se não hoje, certamente amanhã, ou dentro de curto espaço de tempo na política e na gestão.