Em entrevista exclusiva ao A Tarde, o governador Jaques Wagner (PT) revelou que cidades de médio porte da Bahia – como Jacobina e Senhor do Bonfim – poderão enfrentar racionamento de água neste ano, caso não haja volume de chuva em algumas regiões do Estado.
Apesar da seca, Wagner diz que a economia baiana seguirá crescendo neste ano acima da média do Brasil. Para atrair mais recursos, o governador viaja à China com a meta de fechar negócios com grupos dos setores automotivo e petroleiro.
Wagner (PT) entra o ano de 2013 ciente da importância que os próximos 12 meses terão no futuro do grupo político liderado por ele. E num cenário nebuloso, enfrenta dilemas e dualidades próprias do jogo político.
Se, de um lado, ele vira a página de 2012 – ano considerado o mais difícil de seus seis anos de mandato, com greves e perda da eleição em Salvador -, do outro, o cenário delineado para 2013 não é nenhum céu de brigadeiro.
Se ele comemora o fato de a Bahia fechar um ano com um crescimento maior que o do Brasil, também vê bater na porta uma crise econômica que traz como consequência menos dinheiro em caixa para custeio.
Se ele esbanja otimismo com a liderança da Bahia na captação de investimentos chineses em 2012, dentre todos os estados brasileiros – que pode permanecer em 2013 com investimentos na área de petróleo e automotiva -, também vê a China como principal algoz do polo calçadista baiano, que resultou em milhares de demissões na Azaleia.
Se vê companheiros de partido julgados e condenados por corrupção pelo Supremo Tribunal Federal, enxerga no episódio um aprendizado para o PT e um ponto de partida para fortalecer as instituições do País.
Como o senhor avalia o desempenho da Bahia em 2012 e o que o senhor está esperando para 2013?
Em 2012, a gente cresceu menos do que se esperava. Tivemos uma queda do crescimento parte em consequência da crise mundial. A Europa cresceu negativamente, a China cresceu menos e os Estados Unidos cresceram muito pouco. Para nós que exportamos celulose, soja, milho, veículos, isso pesa. Além disso, para manter a competitividade das empresas, a presidenta foi obrigada a fazer várias isenções de impostos. Ou seja, além de vender menos, a gente arrecada menos. Tivemos uma frustração de receita de R$ 900 milhões.
E, dessa vez, não houve compensação para as perdas.
O que a presidenta fez foi abrir espaço fiscal para investimento. Estamos captando empréstimos que vão nos garantir dois anos de investimentos em educação, saúde, segurança. Terei R$ 4 bilhões para investir. O meu problema é o custeio, porque quando faço um empréstimo ele vem carimbado para investimento. Se não tiver aumento da arrecadação, poderemos ter problemas para bancar o custeio.
O senhor acha essa troca justa? Perder uma receita livre para receber em troca uma verba carimbada?
Acho que no Brasil existe um preconceito equivocado contra o que é custeio. Eu digo que qualquer estado é um provedor de serviços para a sociedade. E isso demanda um orçamento gigantesco. Há um mito de que tudo do estado é dinheiro jogado fora. Existe sim dinheiro jogado fora com ineficiência e corrupção. Em cima dessa lógica, o governo autoriza você a tomar dinheiro para investimento, entendendo que se der para custeio o cara vai gastar mal.
O cenário da frustração de receita este ano é pior do que o de 2009?
Sim. A gente teve perda em 2009, mas a queda nos repasses não foi tão dura. E na época houve a compensação porque o governo federal estava com uma gordura maior. Como este ano, a União também teve uma frustração de receita, também apertou o cinto. Além disso, temos o benefício da redução dos impostos, que é a manutenção das taxas de emprego. Não estou dizendo que está todo mundo vivendo na boa. Mas há um horizonte para as pessoas de que as coisas vão melhorar.
A Bahia deve crescer um pouco mais que o país. Como isso foi possível mesmo com os efeitos da seca?
O Nordeste inteiro deve crescer acima do Brasil por conta do processo de inclusão social e o avanço do mercado em maior velocidade. Se não tivéssemos tido a seca, o resultado seria melhor. Mas não tenho muita ilusão. Temos hoje uma quadro dramático, de calamidade mesmo. A gente estava esperando que novembro começasse a chover. Deu uma chuva razoável na Chapada (Diamantina) e só. Não está chovendo, nosso mananciais estão perdendo volume, a gente já teve que mandar suspender a irrigação em vários perímetros irrigado para preservar o consumo humano. Esse quadro não me deixa dormir porque não depende de mim. Estamos cheio de obras de adutoras no interior. Mas não são obras que se fazem da noite para o dia.
O senhor acha que esse será o seu principal desafio para 2013?
Essa é minha maior preocupação imediata. Até porque se até maio de 2013 não houver chuva em volume, em algumas regiões do Estado vira calamidade. Podemos ter uma situação de ter cidade já médias como Jacobina, Senhor do Bonfim e Capim Grosso com problemas sérios de racionamento de água. E aí, como você abastece uma cidade de 60, 70 mil habitantes com carro pipa? Vamos ter gente não tendo condições de ficar na cidade. É um problema grave.
Tivemos recentemente o fechamento de unidades da Azaleia. Há alguma maneira de salvar o polo calçadista?
O polo não vai acabar. No caso da Azaleia, tivemos dois tipos de problema: a competição desleal e a importação de partes do calçados separadamente. Já tínhamos uma lei antidumping contra a China. Mas eles começaram a fazer triangulação, mandando produtos pela Indonésia e Vietnã. Pedimos ao governo federal e eles estão analisando a ampliação das medidas de proteção contra essa triangulação.
Esta triangulação foi identificada há um ano e meio. O governo federal não poderia ter sido mais rápido?
Na minha opinião, poderia ter tomado medidas mais rapidamente. Para mim, demorou. Mas não quero ficar acusando. Não conheço o drama de quem está gerindo isso. Até porque também há demandas de medidas antidumping dos mais variados setores, como as indústrias de vidro e cerâmica.
Dentro de uma semana, o senhor embarca para a China. Qual o objetivo dessa viagem?
Os objetivos são dois: um no setor automotivo e outro no setor de petróleo. Estamos indo para encontrar o pessoal da Foton, que já teve aqui conosco, e vamos visitar uma empresa chamada BAIC (Beijing Automotive Group), que é uma chinesa com várias linhas de automóveis que também demonstrou interesse (em investir na Bahia). Também vamos visitar a Petrochina, uma das grandes petroleiras chinesas, que já tem até um terreno escolhido na Bahia para uma empresa de brocas de perfuração para petróleo.
Antes de viajar, o senhor finaliza a reforma administrativa?
É o que pretendo, mas não obrigatoriamente isso vai acontecer. Mas, repare, ninguém faz reforma administrativa no terceiro ano do mandato. As coisas estão andando e eu acho que a gente tende a chegar bem para a disputa de 2014. Então, não é hora de fazer pirueta. As áreas que acho que não estão rendendo – que não vou anunciar ainda quais são – a gente pode fazer mudanças. Mas sou cauteloso com essas mudanças porque não gosto de queimar ninguém.
Fala-se nos nomes dos ex-prefeitos Moema Gramacho e Luiz Caetano e da ex-vereadora Olívia Santana. O objetivo da reforma é contemplá-los?
Meu foco é a gestão. Todos os nomes que você citou merecem meu carinho e meu respeito. Dois terminaram seus mandatos e são meus amigos. Olívia foi candidata, não teve sucesso. Mas o número não se encerra aí se eu tiver uma lógica de atender todo mundo. Não posso ficar mudando assim o governo. Até porque, repare, todos esses nomes citados devem ser candidatos em 2014 e vão ter que sair em março. Eu vou colocar alguém para ficar um ano no cargo e sair?
O senhor vai antecipar a escolha do sucessor como fez o ex-presidente Lula?
Cada caso é um caso. Lula tinha força que eu não vou comparar com a minha. Não tem dois Lulas. Além disso, é preciso ter unidade em torno de um nome. É óbvio que eu vou costurar para anunciar muito antes do ano que vem. Eu espero que no segundo semestre a gente já tenha uma definição.
O governador Tarso Genro (do Rio Grande do sul) disse que o PT precisa virar a página do mensalão e criar uma nova agenda. O senhor concorda?
Não é a gente que vira a página. Não tenho nenhuma ilusão que a oposição vá virar esta página, apesar de achar que a pauta do povo não é essa. Também não acho que o PT deva mudar essa pauta. Ele tem que aproveitá-la para cobrar do Congresso Nacional estruturas preventivas como o financiamento público de campanha e transparência nas contas públicas. Não temos que fugir ou esquecer, mas aprender com esse episódio.