O Programa minha casa, minha vida, do Governo Federal, tem se espalhado por esse Brasil afora e se mostrado de grande valia para as pessoas sem e/ou de baixa renda, os sem teto e os menos favorecidos que carecem de moradia própria. Muitas dessas pessoas apostaram nessa brilhante iniciativa social e hoje se encontram debaixo de um teto próprio, com endereço fixo, livres de aluguel, com mais segurança e com a autoestima elevada. Contudo, como quase todo projeto de cunho social, o Programa tem encontrado sérios problemas, principalmente nos municípios distantes, isolados, mal administrados, em que os governantes se sentem donos dos destinos alheios e se julgam acima do bem e do mal.
Essa parece ser a situação do distrito de Ibiajara, no município de Rio do Pires, Bahia. A espera pela implantação desse tão desejado Programa durou muito tempo, até que, finalmente, ele foi anunciado, fazendo com que os futuros beneficiários se enchessem de esperança em, finalmente, ver o sonho da casa própria se tornar realidade. Mas isso, infelizmente, não aconteceu. Ficou, de fato, em sonhos e esperanças. Começou-se a construção de, aproximadamente, 30 casas, principalmente em um terreno doado pela igreja, mas também em terrenos comprados pelos pleiteantes ou de propriedade particular. O que parecia uma ação social exemplar e inédita para o distrito, acabou sendo brutalmente abortada, causando um sentimento de frustração, decepção, angústia e revolta para todos aqueles que confiaram na possibilidade de, finalmente, ter um lugar seu para chamar de lar. O pior é que, como sempre, nenhuma explicação é dada, por quem de direito, para esses costumeiros desmandos. Na verdade, isso não é de se estranhar, tendo em vista o alto número de supostos projetos inacabados, abandonados e/ou deixados pela metade, no distrito de Ibiajara, sem que satisfação alguma seja dada ao povo. Por exemplo, existe um mercado municipal em construção que está lá abandonado há mais de 20 anos; o projeto que levaria água do Rio da Caixa para o distrito acabou sendo, misteriosamente, abandonado, após altos investimentos do dinheiro público em abertura de valetas, compras de canos, construção de reservatórios, gastos com mão de obra, etc., etc., etc. A ampliação do Posto de Saúde da comunidade está com suas obras interrompidas há muito tempo, não se sabe o porque; o calçamento da rua principal que dá acesso à vila, uma promessa de décadas, finalmente teve início, foi interrompido por várias vezes e, no dia da festa da padroeira do distrito, Santa Maria do Ouro, foi entregue, a toque de caixas, como terminado, mas também está pela metade, visto que, a parte inicial da avenida, até a altura do posto de saúde, ficou sem ser feita, embora faça parte do projeto original. Sem falar da Rua Samuel Moreira, cujo calçamento foi interrompido na altura do Grupo Escolar Elza Azevedo, ficando o resto da rua, menos de 30 metros de extensão, em terra pura. Uma creche comunitária está sendo construída, mas não se sabe se vai terminar, embora faça parte de um projeto nacional.
Essas coisas, para o leitor, talvez não signifiquem muito, mas precisamos lembrar de que estamos falando de um distrito com uma população de menos de dois mil habitantes. Proporcionalmente, isso é um absurdo!!! Nem a pequena parcela que toca ao distrito é revertida em benefício comum.
Voltando à questão das casinhas, algumas delas se encontram, há mais de um ano, em ponto de emadeiramento (vide foto em anexo), esperando, ninguém sabe o quê, para conclusão dos serviços que muitos acham pouco provável de acontecer. Isso porque, ao invés de se providenciar material para a continuidade dos serviços, o que se percebe é justamente o contrário. Alguns materiais, a exemplo de caixas d’água, sacos de cimento, blocos e outras coisas mais, já foram tirados do canteiro da obra, ou de seu depósito, e destinados a outros cometimentos, em outras localidades do município. O tal jogo de “desvestir um santo, para vestir outro”, uma prática muito comum entre gestores inescrupulosos para ludibriar o povo e tentar se justificar perante o Tribunal de Contas. Exemplo dessa prática foi o que aconteceu com os paralelepípedos para o calçamento do povoado da Placa, no mesmo município. A obra foi interrompida e os paralelepípedos redirecionados para o serviço em Ibiajara.
Pois bem, ainda no tocante às casas populares, cuja construção encontra-se pela metade, alguns beneficiários já se prontificaram a tentar concluir a construção de sua casa por conta própria, mais foram barrados pela administração municipal. Ou seja, eles não fazem, nem permitem aos outros fazerem, deixando-lhes entre a cruz e a espada e de pés e mãos atados. Um empresário de São Paulo, com laços familiares em Ibiajara, sensibilizado com a situação, se prontificou a ajudar financeiramente no término das casas, mas, naturalmente, não lhe foi permitido, e com razão. Afinal, esse é um projeto social de inteira responsabilidade da administração municipal. Contudo, o cerne da questão aqui, e que deve ser levado em consideração, é a preocupação do empresário diante da inoperância dos gestores municipais e do sofrimento da população.
Por se tratar de uma área relativamente isolada, distante dos meios de comunicação, sem quase ninguém que possa e/ou esteja disposto a apontar essas irregularidades e torná-las públicas e visíveis, os gestores municipais, no seio do conforto de suas mansões, estão pouco se lixando, para usar uma expressão bem popular, com a população carente, com o bem comum, e acabam fazendo sempre TUDO PELA METADE. É lamentável.
Ibiajara, junho de 2012.
Obs: Como se pode ver, este texto foi escrito em junho de 2012. Contudo, por se tratar de um ano eleitoral, decidi não publicá-lo porque minha preocupação não diz respeito a interesse político-partidário. Estou, sim, preocupado, com a situação sócio-comunitária de Ibiajara e com a efetivação de políticas públicas para o seu povo.
Diógenes Cândido de Lima é Doutor em educação/estudos da linguagem pela Southern Illinois University. Professor pleno de língua inglesa e de linguística aplicada da UESB.