Ser no senado a voz da Bahia no Brasil. É com esse discurso que Geddel Vieira Lima (PMDB) apresenta-se como candidato a uma vaga como senador da República. "Acho que esse talvez seja o meu grande diferencial em relação aos outros candidatos. Não preciso aprender a caminhar no congresso nacional. Eu já vou chegar trabalhando pelo estado", disse o ex-ministro Ministro da Integração Nacional em entrevista ao Bahia Notícias. O pemedebista afirma que chegou a ser "claramente sinalizado' que seria o candidato ao governo do estado, mas que a sua candidatura acabou 'ficando inviável', o que resultou na confirmação de Paulo Souto (DEM) como nome da oposição para ser o adversário de Rui Costa (PT) na disputa da sucessão ao Palácio de Ondina. Geddel declarou que se considera favorito em relação aos seus adversários por uma vaga no senado e que, ao contrário do que poderia se imaginar, considera a ministra Eliana Calmon (PSB) uma adversária mais forte que o vice-governador Otto Alencar (PSD). "Digo com muita simplicidade que eu não vejo nada de bicho-papão na candidatura dele (Otto Alencar). A última eleição que ele disputou foi em 1998, o resto foi como candidato a vice-governador. Tenho apreço por ele, mas acho que, sinceramente, o meu adversário é a ministra Eliana Calmon".
BN: Queria que você começasse falando sobre essa decisão. Por que Geddel Vieira Lima, que estava tão convicto que ia sair candidato a governador, decidiu tentar uma vaga no congresso nacional?
Geddel: Essa pergunta não merece uma resposta tão curta. Eu lutei, com todas as forças do meu espírito, para ser candidato a governador pelo convencimento que tinha, e tenho, de que me encontro preparado, do ponto de vista gerencial, maduro e político, para enfrentar os grandes desafios que a Bahia tem pela frente. Mas Nelson Rodrigues já mostrou que a vida é como ela é. Chegou determinado momento que, apesar de me ter sido sinalizado claramente que eu seria o candidato e ter tido conversas muito firmes nessa direção, ficou inviável. Mas não adianta mais abordar esse tema. O Democratas indicou o nome de Paulo Souto, havia certa preferência de setores importantes do PSDB, e se consolidou o nome de Paulo Souto. Me cabia, a partir daí, uma decisão: ser tomado pelo fígado, e não pela cabeça, e lançar uma candidatura própria ou buscar o conforto de um mandato sendo candidato a deputado estadual ou federal. Mas eu apostei na unidade, com uma resposta a todos aqueles que me acham temperamental, que sairia chutando o balde, e sendo coerente com o que eu venho dizendo em favor da Bahia. O governo que aí está já deu. Não atende as questões de segurança, não tem política para o semiárido, fez com que a saúde da Bahia se tornasse frágil e a educação apresenta indicadores de qualidade muito ruim. Em função dessa avaliação, eu optei por ousar, como é da minha característica, aceitar o senado da república, para compor uma chapa que é fortíssima e que vai para as ruas falar de futuro para vencer as eleições. Foi essa razão que me levou: a responsabilidade com meu estado.
BN: Queria que você contasse como foi esse trâmite, porque (o publicitário) Fernando Barros contou para a rádio Metrópole que você chegou a ser comunicado por ACM Neto que o candidato seria você. Isso é verdade?
Geddel: É verdade, mas está superado. A política tem suas circunstâncias próprias e eu tenho dito e repito. Quem vive de lamento e amargor, ou debruçado no passado, não é feliz nem constrói o futuro. Isso pra mim está absolutamente superado. Eu vou continuar em frente e cumprir tudo que eu ajustar com a Bahia e os eleitores. Tenho absoluta certeza que poderemos dar uma grande contribuição ao debate que a Bahia espera nesse momento. Sem nenhum tipo de receio com os enfrentamentos que virão e sempre com a ideia sinalizada que nós podemos construir um futuro melhor que esse presente que nós estamos vivendo no nosso estado.
BN: Sobre o seu planejamento em longo prazo, o senhor ainda pensa em voltar a disputar o cargo de governador?
Geddel: Está muito claro que governo é destino. Eu tentei ajudar o destino. E se tiver escrito nas estrelas que um dia eu vou ser governador, eu vou ser. Agora, se não for, eu não posso carregar na alma nenhuma frustração. Eu vou continuar ajudando a Bahia nos espaços que couber ajudar. O importante é que eu tenho a certeza que, para mim, eu abracei a vida pública como um chamamento irresistível da minha vocação. E, como dizia Otávio Mangabeira, e disse na minha fala no dia da apresentação da chapa, eu estou abraçado a vida pública até o fim dos meus dias. Tenho um amor profundo por essa terra, uma vontade de vir cada vez melhor, e, digo sempre, tenho que me comportar como aquilo que eu sou, contemporâneo do futuro. Por tanto a minha responsabilidade é ajudar a construir uma Bahia melhor no futuro, porque é no futuro que os meus filhos, nossos filhos, vão viver.
BN: Você falava, ainda na época das construções de candidaturas, que um dos pontos que você colocava como dificuldade para você ir para Brasília era a questão familiar. Seu pai enfrenta problema de saúde, teriam negócios da família para tomar conta, como vai ficar isso?
Geddel: Volto a lhe dizer, a minha vocação para vida pública é absolutamente irrefreável. Eu agora estou abraçado a essa causa de ser senador, ser a voz da Bahia no Brasil, e estou motivado. Vamos ganhar essa eleição e vou devolver para o Senado da República, digo isso com absoluta convicção, uma coisa que a Bahia perdeu há muito tempo: uma liderança nacional que tenha coragem, experiência e vontade de ser a voz da Bahia. Enfrentar os problemas e defender o nosso estado. Eu não preciso aprender os caminhos de Brasília. Fui deputado durante muito tempo, fui ministro, e me tornei, sem medo de ser chamado de arrogante, ou fingir uma falsa modéstia, um nome nacional. E acho que posso ajudar muito. E sobre meus problemas pessoais, de não querer ir para Brasília, querer ficar mais próximo da minha família e da Bahia, terei que superar de novo. Se eu quero servir ao meu estado, tenho que servir onde sou chamado.
BN: Como o senhor tem visto esses comentários que a chapa feita em torno de ACM Neto e Paulo Souto é uma chapa historicamente anti-carlista e a chapa do próprio PT ter integrantes historicamente ligados ao carlismo?
Geddel: Tem quanto tempo que o senador Antonio Carlos (Magalhães) morreu? Sete anos. É uma figura hoje da história, com seus defeitos e qualidades. Eu acho que você ficar reduzindo a política da Bahia a carlismo e não-carlismo é de uma pobreza intelectual e uma falta de visão de futuro imensa. Eu tive divergências com Antonio Carlos Magalhães. Fortes divergências. O que foi feito, foi feito. Eu não tive divergências com ACM Neto e Paulo Souto. Divergências pessoais, eu digo. Tive divergências políticas, que são superadas na medida em que você vê que aquilo que você apostou estava errado. Eu não posso ter compromisso com o erro ou incompetência. A minha posição é a mesma do eleitor. O eleitor que votou em Fernando Collor, em nome de uma suposta coerência, ele tem que votar em Collor a vida inteira? O eleitor tem o direito e o dever de fazer a avaliação de desempenho. Eu, como homem público, tenho o dever de fazer a avaliação por desempenho. E se a avaliação por desempenho mostrar que as apostas que eu fiz foram equivocadas, eu tenho a coragem e a necessidade e o dever de mudar. Sempre apostando naquilo que possa ser melhor para o meu estado. Não vejo nenhum tipo de incoerência e, volto a dizer, esse discurso é pobre. Minhas divergências com Antonio Carlos, duras e pessoais, estão registradas na história, mas ficaram no passado. Eu não tenho o direito de ser o homem debruçado no passado em busca de memórias perdidas no tempo. Isso está em um grande livro, "Em busca do tempo perdido", do Marcel Proust, eu tenho que ser, como disse, contemporâneo do futuro. É para o futuro que eu estou olhando.
BN: Internamente no PMDB, você é um dos que defende que chegou a hora de romper com o governo Dilma. Mas, pelo o que tem sido sinalizado em Brasília, é muito difícil que Michel Temer não seja o candidato a vice na chapa de reeleição de Dilma Rousseff. Ele é muito ligado a você. Como fica a sua situação, fazendo palanque para Aécio Neves aqui, sendo que uma pessoa tão próxima a você é candidato a vice-presidente da República de novo?
Geddel: Se Michel Temer fosse candidato a presidente da República e o PMDB não tivesse renunciado a seu direito de ter, como grande partido, uma plataforma própria para apresentar aos brasileiros, evidentemente que eu estaria junto ao PMDB na marcha nacional. Como não tem candidato a presidente da República, termina prevalecendo as realidades regionais. Essa é uma característica do PMDB. Você vê isso na Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul e vários outros estados que estão com essa configuração. Isso não vem de agora. Eu tenho uma amizade de 20 anos com Michel Temer, falo com ele o tempo todo. Para você ver, quando eu fui anunciado candidato ao senado, conversamos e ele me desejou sorte, parabenizou, mas ele tem a compreensão política que ela não se sustenta nas relações pessoais obrigatoriamente. Se Temer tiver qualquer problema de ordem pessoal, ele vai contar comigo em qualquer circunstância, como eu tenho certeza que contarei com ele. Mas, do ponto de visto político, eu tenho que defender aquilo que for melhor para o meu estado. O melhor para o meu estado não é a preservação agora, através de uma terceirização de candidatura de um governo que, volto a dizer, colocou todos os indicadores da Bahia lá no chão. Digo sempre quando eu vejo esse "tititi" que a campanha dele vai ser comparando o governo deles com o governo de Paulo Souto, que isso vai ser uma missão difícil para eles. Fácil vai ser a nossa em comparar o governo deles com eles mesmos. Vamos comparar o governo da TV com o governo que a gente vê.
BN: Queria que o senhor fizesse definições sucintas sobre sua relação com Paulo Souto, Aécio Neves e Joaci Góes, que tem sido indicado como uma 'imposição' sua na chapa da oposição.
Geddel: Vamos começar de trás para frente. Primeiro, apenas corrigindo. O nome de Joaci Góes não precisa ser imposto. O nome dele se impõe pela sua história, talento e contribuição que ele pode dar nesse processo eleitoral em uma futura gestão na Bahia. Sempre tive com ele uma relação fraternal. Ele sempre me distinguiu com gestos de carinho e apreço, me dirigindo elogios os quais eu não sou merecedor. Com Aécio Neves, somos militantes de uma mesma geração. Fui líder do PMDB durante sete anos e ele liderou o PSDB, tivemos grandes participações conjuntas no avanço do Brasil. Eu fui, por exemplo, relator da lei da quebra do monopólio das comunicações. Me orgulho muito de dizer que tive uma participação efetiva nessa verdadeira revolução que virou a comunicação no Brasil. Quando fui relator das leis de comunicação da quebra do monopólio, vocês ainda registravam no seu imposto de renda o aparelho telefônico como um bem. Foi essa abertura que permitiu que a gente hoje tivesse tanta facilidade e avanço nas comunicações. Por tanto, tenho uma relação longa com Aécio. É um homem competente da minha geração, um patriota, que tem ideias que podem servir ao Brasil com muita qualificação. O Paulo Souto, nós tivemos divergências na militância política na Bahia, mas nunca deixei de reconhecer nele um quadro qualificado. Em determinado momento, em 2006, até considerei retrocesso manter Paulo Souto. Mudei de posição na medida em que vi que aquilo que eu apostei, o Jaques Wagner, ficou muito a desejar. Por tanto, vi que eu estava equivocado em considerar que Paulo Souto era um retrocesso. E agora, evidentemente, em 2014, enquanto estava disputando com ele, é claro que eu achava que Souto era um retrocesso, porque eu imaginava que era o melhor candidato. Na medida em que não sou eu o melhor candidato, eu acho que ele é muito melhor do que o candidato terceirizado do governador.
BN: Nessa conjuntura, falasse que a chapa tem um integrante do DEM, um do PSDB e outro do PMDB, mas que, na verdade, o PMDB ficou mais poderoso porque teve dois nomes avalizados com a entrada de Joaci Góes. Você negou que houve 'pacotaço', disse que Fábio Mota na Semut (Secretaria Municipal de Urbanismo e Transporte) foi uma indicação do prefeito ACM Neto, um gesto para o PMDB ter um espaço maior na gestão. Mas ficou uma dúvida: teve algum tipo de conversa para o que PMDB participasse da chapa de ACM Neto em 2016?
Geddel: Dou entrevista como eu sempre faço política: com clareza. Ao PMDB foi ofertado, nessa negociação, a vice-governadoria e o senado. Se eu quisesse demostrar poder, teria indicado um nome do PMDB para chapa como vice. Isso seria uma demonstração de que o gesto de grandeza que nós tivemos ao compor essa chapa seria diminuído. É importante a unidade da oposição permanecer. Por isso, fomos buscar um nome que trouxesse o PSDB e que representasse algo a mais nessa chapa. Joaci Góes é um homem do semiárido, sabe perfeitamente, entre outras coisas, a diferença entre leite de cabra e de bode. Joaci é um homem de letras, foi um deputado constituinte brilhante, relator e criador do código de defesa do consumidor, é um empresário que sabe o que é duplicata e fatura, por tanto, sabe a dificuldade de pagar juros em banco e criar empregos. É um homem criado e focado para a educação, que compartilha a mesma noção que eu, que tão importante quanto o Bolsa Família e distribuir renda é distribuir educação. Essa foi a razão de Joaci ser indicado pelo PMDB e aplaudido pelo PSDB, em um demonstração que queríamos fazer algo includente. No mais, se você me perguntar: nós queremos vencer a eleição e participar do governo de Paulo Souto? Queremos. Com quantas secretarias pudermos ter. Quanto maior for o número, melhor, porque participaremos de um projeto emprestando nossa inteligência e nossa capacidade de trabalhar por nosso estado e nosso amor pela Bahia. Se você perguntar se nós queremos participar mais da gestão de ACM Neto e se ele quiser fazer outro gesto, como fez com Fábio Mota, será muito bem-vindo. Que partido não quer participar de uma administração bem sucedida? Se você perguntar sobre a composição da chapa em 2016, evidentemente que nós queremos estar nessa articulação, para eventualmente participar da chapa. Se houvesse acordo para participar da chapa em 2016, seria não acreditar na minha candidatura para senador. E eu vou ser senador da República. Vou ser a voz da Bahia no Brasil. Por tanto, essa é a realidade. No mais, é "tititi" e especulação absolutamente natural de um processo político que foi, em determinado momento, tormentoso, mas que graças ao talento da nossa geração e o nosso compromisso e amor com a Bahia, terminou muito bem, para desassossego dos nossos adversários, que imaginavam que fossem andar em céu de brigadeiro, mas agora estão vendo pela frente nuvens carregadas.
BN: Mas nesse primeiro momento quantas secretarias foram compromissadas com o PMDB em um governo Paulo Souto?
Geddel: Não tratamos de números, não se trata de números em uma negociação dessas. Política é credenciamento, você se credencia, trabalha, luta. Lá em diante, o parceiro sendo correto, e Paulo é correto, ele reconhece o seu esforço. E nós temos quadros que qualificam qualquer gestão. Ou Fábio Mota não qualifica uma gestão? Não é um quadro competente e qualificado? Fábio não já demonstrou capacidade de ser resolutivo? Eu acho que é isso que o prefeito busca. E é isso que nós estamos oferecendo.
BN: No início de março, aconteceu o aniversário da sua filha, que foi amplamente divulgado pela imprensa, com representantes de peso da oposição. Inclusive, o presidenciável Eduardo Campos. Eu queria saber como está a relação entre PMDB e PSB e se na Bahia já existe uma conversa de uma possível aliança no segundo turno?
Geddel: Não há essa conversa. Eduardo Campos é meu amigo fraterno, querido, foi meu colega na Câmara, temos relações pessoais. Aqui, a nossa conversa é vencer as eleições, fazer a crítica qualificada, mostrar os graves problemas que a Bahia enfrenta hoje, e estamos vivendo um deles, essa greve fora de propósito, que mostra a incapacidade desse governo de planejar. Todos nós sabíamos que esse movimento paredista estava por aí e o governo não consegue resolver. O governo é feito para resolver problemas, mas vamos trabalhar para resolver as eleições, fazendo a crítica e apontando caminhos, soluções, rumos. Segundo turno é segundo turno. Quem sabe até a gente não vença a eleição no primeiro turno. Quanto a Lídice, tenho com ela das melhores relações, já estivemos juntos em uma eleição para prefeito. Acho que ela vai viver um drama, uma candidatura que não vai ser nem carne nem peixe, porque termina nem sendo oposição… É uma coisa complicada. Ela não vai poder ser oposição, porque ela se considera impedida de fazer uma crítica ao atual governo. Enfim, mas esse é um problema para ela administrar. Mas se houver segundo turno, evidente que tenho todas as condições de conversar com o PSB e pessoalmente com Lídice, por quem eu tenho um apreço e respeito.
Geddel: Não há essa conversa. Eduardo Campos é meu amigo fraterno, querido, foi meu colega na Câmara, temos relações pessoais. Aqui, a nossa conversa é vencer as eleições, fazer a crítica qualificada, mostrar os graves problemas que a Bahia enfrenta hoje, e estamos vivendo um deles, essa greve fora de propósito, que mostra a incapacidade desse governo de planejar. Todos nós sabíamos que esse movimento paredista estava por aí e o governo não consegue resolver. O governo é feito para resolver problemas, mas vamos trabalhar para resolver as eleições, fazendo a crítica e apontando caminhos, soluções, rumos. Segundo turno é segundo turno. Quem sabe até a gente não vença a eleição no primeiro turno. Quanto a Lídice, tenho com ela das melhores relações, já estivemos juntos em uma eleição para prefeito. Acho que ela vai viver um drama, uma candidatura que não vai ser nem carne nem peixe, porque termina nem sendo oposição… É uma coisa complicada. Ela não vai poder ser oposição, porque ela se considera impedida de fazer uma crítica ao atual governo. Enfim, mas esse é um problema para ela administrar. Mas se houver segundo turno, evidente que tenho todas as condições de conversar com o PSB e pessoalmente com Lídice, por quem eu tenho um apreço e respeito.
BN: Vi algumas pessoas questionando você no Twiiter sobre o fato de os dois principais líderes da oposição da greve da PM na Bahia fazerem parte da oposição ao governo Wagner: o vereador Prisco (PSDB) e o deputado estadual Capitão Tadeu (PSB). Como você avalia isso?
Geddel: Avalio como uma bobagem. Na outra greve, que foi muito mais greve, Capitão Tadeu era da base do governo. E aí? Você achar que uma greve dessa é feita por Prisco… Acho que é você levantar demais a liderança de Prisco.
BN: Mas foi ele que levou as propostas do governo para aprovação na assembleia…
Geddel: Ele pode ter levado as demandas e as propostas, mas isso (a greve) não é uma decisão pessoal. Eu vi uma foto aqui no próprio Bahia Notícias de milhares de policiais com o braço levantado pregando greve. O que há, sim, e vamos ter coragem para dizer, é a inapetência e incompetência de um governo para resolver problemas. E esse governo não tem demonstrado ter atitude, por mais respeito que eu posso ter, do ponto de vista pessoal, pelos seus integrantes.
BN: Mas você é um político experiente e sabe que a oposição conta com manifestações na Copa do Mundo como um reforço contra o governo tanto federal quanto estadual, e obviamente, movimentos como esse da Polícia Militar quanto mais se prorrogarem, mas a oposição vai capitalizar politicamente. Você não acha que, pelo menos, dentro da oposição do DEM, PSDB e PMDB, não que tenha sido um incentivo, mas não teve um pouco de braço cruzado nessa questão?
Geddel: Eu repilo absolutamente esse tipo de ideia que quanto pior, melhor. Eu tenho filhos, que estão sem escola hoje. Eu tenho uma esposa, que vai para rua e eu fico assustado do que pode acontecer (nota: no mesmo dia da entrevista, a mulher de Geddel foi assaltada). Então quem é que, em sã consciência, com responsabilidade, pode apostar que isso seja um bom caminho? Acontece que a oposição não tem instrumentos para resolver essa questão. A oposição tem que se opor. Tem que apontar rumos. Eu não torço contra, eu constato que um governo que, no mesmo período, permite duas greves da Polícia Militar, me permita, podem até divergir, é um governo incompetente. Um governo inepto. Isso é fato. Isso não é uma opinião da oposição ou opinião política, isso é fato. Por tanto, repilo essa colocação. O Prisco é um sindicalista que chegou a política, que tem lá sua liderança. Tivemos outros. O Lula, quantas greves fez no país? O próprio Wagner. Isso era atribuído a um incentivo da oposição? Pelo amor de Deus, vamos dar a César o que é de César. O que há na Polícia Militar da Bahia é um descontentamento que vocês, como jornalistas sabem, que o leitor do Bahia Notícias sabe e que eu, como político, também sei. A Polícia vem, há muito tempo, insatisfeita. E não é só a Polícia. A saúde também está se movimentando. A educação também está se movimentando. Quando houve aquela greve terrível dos professores, foi Prisco que levantou? Foi alguém ligado a oposição? O sindicato era ligado a quem? O PC do B. Que é vinculado a qual governo? A mim? Não. Portanto, vamos tratar com seriedade as coisas que são sérias. O resto é embate político. Nessa esparrela eu não vou cair.
BN: Mas as greves aconteceram em 2012 e 2014, justamente nos anos eleitorais que a Polícia pesou a negociação…
Geddel: Isso pode ser do jogo deles, para aumentar a pressão. E ninguém melhor que Wagner, sindicalista antigo que comandou outras greves, para entender esse jogo de pressão. Até esperei, que como sindicalista, ele tivesse um desempenho melhor ao tratar desse assunto. Se nem nessa área ele está conseguindo um bom desempenho, que é negociar com grevistas, com a experiência que tem, o que podemos esperar em termos dessa gestão que possa ser eficiente?
BN: Quais vão ser os principais aspectos que vão ser debatidos pela oposição na campanha? Um deles deve ser segurança, já sabemos…
Geddel: Deixa lhe falar duas coisas. Um dos compromissos claros que Paulo assumiu comigo foi fazer dos meus sonhos os sonhos deles, das minhas ideias as ideias deles. Segurança, evidentemente, que eu já estou tratando com ele algumas ideias que eu planejava colocar em pauta. Cinturão eletrônico nas nossas divisas para diminuir o entra e sai de bandidos, armas e drogas. Metas claras, muito bem definidas, para elevação do efetivo policial, e não apenas reposição dos que deixam a polícia todo ano por abandono, aposentadoria ou morte. Estabelecer claramente com os policiais uma relação que eles saibam que o estado o amparará quando, em confronto, tombar um bandido, e uma série de outras ações que estou passando para Paulo. Na educação, o governo da Bahia atual criou apenas um único programa, o Todos pela Alfabetização, um programa de alfabetização de adultos. Mas a Bahia continua sendo um estado com mais de dois milhões de analfabetos. Educação para gente é fazer acontecer o programa de creches, criar as condições para que as crianças na primeira infância tenham uma escola de qualidade. É qualificar a rede física. Estabelecer metas de aprendizado, prêmios de produtividade, incorporar novas tecnologias. Por que, por exemplo, a TV Educadora não pode ser um instrumento para a educação e não apenas um instrumento de propaganda do governo? Levei essas ideias a Paulo. Na saúde, a mesma coisa. No semiárido, uma política clara de convivência econômica para a região, retomar o programa de construção de barragens que esse governo abandonou. Em oito anos não construiu nenhuma barragem. Levei a ele ideias que a gente tinha para a cultura, nos vários segmentos da sociedade, estabelecendo prioridades. Não dá para tratar tudo aqui. E ele prometeu incorporar. E mais do que isso: vou voltar-me para o senado. Dizer que estou pronto e preparado para debater os grandes temas: reforma do código penal, reforma política, o projeto de lei de desarmamento, discutir políticas para semiárido, que é uma verdadeira obsessão para mim, levar os grandes temas da Bahia para aquele plenário, e sobretudo, dizer a você, leitor e eleitor, que ao longo desses vinte anos fui um deputado atuante. Fui líder do partido sete anos, fui ministro de estado, tornei-me, gostem ou não de mim, um nome nacional, com meus defeitos e qualidades, meus erros e acertos, sempre defendendo a Bahia. A demonstração maior é que como ministro a única acusação que sofri foi de ter trazido dinheiro demais para a Bahia. Aliás, digo sempre, se isso é pecado, desse não peço perdão a Deus. E ser no senado a voz da Bahia no Brasil. Acho que esse talvez seja o meu grande diferencial em relação aos outros candidatos. Eu não preciso aprender a caminhar no congresso nacional. Eu já vou chegar trabalhando pelo estado. É isso que está me motivando agora.
BN: Algumas pessoas falam que Otto Alencar é muito conhecido, já foi governador e seria favorito na disputa. Mas existem números que comprovam que você estaria à frente dele.
Geddel: Não é estaria à frente, é estaria bem à frente. Digo com muita simplicidade, por tudo que eu visto, eu não vejo nada de bicho-papão na candidatura dele. A última eleição que ele disputou foi em 1998, o resto foi como candidato a vice-governador. Tenho apreço por ele, mas acho que, sinceramente, o meu adversário é a ministra Eliana Calmon.
BN: Você acha então que é favorito a ganhar a eleição…
Geddel: E que minha adversária mais perigosa é a ministra Eliana Calmon.
BN: Os números comprovam isso?
Geddel: Os números e meu sentimento. Eu acho que a adversária é Eliana.
BN: Qual vai ser a sua bandeira na questão da diminuição da maioridade legal? Você é contra ou a favor?
Geddel: Eu não posso lhe dizer agora que sou contra ou a favor. Esse é o tipo do tema que você tem que se debruçar muito. Porque não é só você reduzir a idade penal, se você continua tendo um código penal tão permissivo, do ponto de vista das possibilidades que se oferece ao bandido para ser preso em um dia e estar solto em outro. Ou você cria um arcabouço penal mais sólido para você enfrentar essas questões ou o estado brasileiro também entende que o sistema penitenciário não pode continuar do jeito que está, ou então você não avança na questão do combate à violência. Portanto, acho que você tem que discutir a reforma radical do código penal, adaptando para a nossa realidade as novas exigências e o novo modelo de violência urbana e mesmo rural que vive o país. E dentro desse conjunto, vai se discutir a relação da maioridade legal. Eu não vejo com antipatia, mas não vejo como panaceia se não for dentro de um conjunto de soluções que precisam ser apresentadas para enfrentar esse problema da falta de segurança no Brasil, especificamente aqui na Bahia.
BN: Você falou da sua relação com alguns dos candidatos, mas gostaria de saber o que o senhor acha de Rui Costa, nome do PT para assumir o lugar de Wagner no governo…
Geddel: Rui deve ser um bom amigo do governador, porque para o governador Wagner romper a tradição de fazer prévias, fazendo uma escolha democrática interna, e colocar do bolso do colete diretamente na guela dos aliados do próprio PT, ele deve ser um grande amigo do governador.
BN: E, como político, qual sua visão sobre Rui Costa?
Geddel: Não conheço muito, acho apenas que, pelas declarações iniciais, ele precisa estudar um pouco mais. Uma pessoa que não sabe diferenciar um bode de uma cabra, como é que ele pode governar um estado em que dois terços do seu território fica no semiárido?
BN: Falando em semiárido, agora que os times já estão quase definidos, aonde você acha que será o principal gargalo para vocês conquistarem o Estado? Por exemplo, com a entrada de Leão na chapa de Rui Costa como vice, fala-se muito em sua força na região Oeste do estado…
Geddel: Eu acho que a eleição de quem está na oposição navega no sentimento geral. O que eu sinto é que a população da Bahia, e isso está avançando no Brasil, está dizendo “PT, já deu”. Essa história de que eu vejo de máquina… Primeiro que máquina não funciona quando está enferrujada, quando o maquinista não é bom. E quando há um sentimento mudancista de alternância de poder, as coisas avançam com naturalidade. É esse o sentimento que estou tendo nas ruas. Foi essa a repercussão que eu tive do evento que fizemos na segunda-feira. Temos que falar olhando para o futuro. Qualificar a crítica, mostrar que efetivamente o nosso candidato tem experiência. Mostrar a administração que ACM Neto está fazendo em Salvador, quebrando essa história que você precisa ser do mesmo partido político do governador para bem gerir. Você precisa ter planejamento, atitude, boa equipe, metas estabelecidas e ir para cima, se dedicar exclusivamente à gestão pública e ter coragem de decidir as coisas que acontecem. É mostrar isso e esperar que o povo reconheça. Não pode ter uma estratégia definida de região tal e qual. A nossa estratégia é pela Bahia.
BN: O candidato Aécio Neves, em reunião com empresários, chegou a dizer que, se preciso, ele vai atuar de forma impopular, não vai ter medo de provocar medidas impopulares, mesmo que isso acabe tornando ele um presidente mal avaliado durante os quatro anos de seu mandato. Queria saber se a aliança PSDB e PMDB, se eleita, também está disposta a cometer medidas impopulares aqui na Bahia para corrigir supostos erros do PT?
Geddel: Isso é uma exigência da responsabilidade. Se você não age assim, você congela o preço da gasolina e quebra a Petrobras. Se você não age assim você traz a inflação de volta. Veja que o pãozinho francês na Bahia está subindo 10% e já se anuncia para terça-feira aumento de 16,04% da energia elétrica. Isso vai afetar os mais pobres, sobretudo. A inflação é o mais corrosivo dos impostos. Portanto você tem que tomar medidas claramente sérias, austeras, para que a administração ande e a população no médio prazo seja beneficiada. Se isso causa impopularidade, paciência, é o preço de quem tem espírito público, é o preço de quem age com responsabilidade, quem age com a visão do futuro. Não cabe mais no Brasil hoje o populismo, a la Venezuela. Você vê o que está acontecendo nos países vizinhos, e vê que quem não age com responsabilidade paga preço na gestão e penaliza a sociedade.
BN: O PMDB hoje que tem sofrido algumas críticas, em termos nacionais principalmente, como um partido que é usurário de cargos. Você diz que é a participação do governo que determina a propagação das ideias e implementação dos conceitos do partido. O PMDB era o partido da democracia, da movimentação democrática brasileira. Depois que acabou a ditadura, parece que o partido ficou sem bandeira. Qual é a principal bandeira hoje do PMDB?
Geddel: Eu concordo com você e lamento muito porque eu sigo uma voz interna. A gente tem que estar permanentemente se reciclando, né? Algumas pessoas dizem que às vezes eu mudo de posição, mas eu usarei o nosso velho Raul Seixas, para dizer “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter a velha opinião formada sobre tudo”. Eu tenho que acompanhar as evoluções das gerações que estão por aí. Eu tenho que acompanhar a evolução da tecnologia, tenho que ir mudando meu pensamento, tenho que seguir aquilo que Ruy Barbosa, o maior de todos os baianos, disse: “até as pedras mudam”. Evidentemente que hoje eu tenho essa convicção de que o PMDB precisa mudar. O PMDB precisa resgatar e criar novas bandeiras, disputar eleições, correr riscos, para que possa reconquistar, de uma maneira definitiva, a confiança que um dia já teve da sociedade brasileira. A minha voz internamente é nessa direção e eu não tenho medo de pagar preços por isso.
BN: Está completamente fora de cogitação do PMDB apoiar Rui Costa no futuro?
Geddel: O PMDB vai ganhar a eleição, como é que o PMDB vai apoiar Rui Costa? Nós vamos ganhar a eleição com Paulo Souto, e eu vou ser o senador da República.
BN: E o senhor pretende ser um ‘leão’ na campanha pró Paulo Souto, mesmo depois de toda essa disputa pela vaga de governador?
Geddel: O 'leão' já está do outro lado. Eu vou ser um lutador, alguém engajado e trabalhando, com claro convencimento do que é o melhor para a Bahia. O que ficou para trás, ficou. Não se faz política e nem se conduz a vida, insisto, repito e encerro, com amargura e lamento. Quem age assim, não é feliz. Minha vida é olhar para frente.
BN: Para terminar, já que o senhor citou tanto: qual é a diferença entre leite de bode e leite de cabra?
Geddel: Hein? Você está fazendo essa pergunta, acho que você não vai publicar. Mas o de cabra eu bebo, o de bode deixo para Rui.