Por Celino SouzaCelino Souza

Conquista, 40 graus. Não, não me refiro ao calor dos últimos dias, mas sim á efervescência da chamada “febre das pirâmides”, ou como alguns preferem Marketing Multi Nível (MMN), um esquema multibilionário e fraudulento, um negócio que prometia faturamento alto e rápido, de mais de R$ 10 mil por mês. De repente, num estalo, numa velocidade digna de um raio, uma legião de novos ricos surgiu na cidade, da noite pro dia, ostentando lindos e possantes carros, todos devidamente plotados com as respectivas marcas das empresas que seus condutores representavam.  O palco do desfile, não raro, eram as avenidas Olívia Flores, Rosa Cruz, Siqueira Campos, Frei Benjamin e festas regadas a whisky 21 anos, Chandon, Absolut e charuto cubano. Dizem que rolava algo mais também, drogas bancadas por, assim chamados, “otários” que colocaram o suado dinheiro na fogueira da usura.

Choveram convites para novos adeptos dessa “promissora corrida do ouro”. Contas se multiplicavam, postagens nas redes sociais falavam até em fortunas para comprar mansões, ferraris, helicópteros. Um luxo só. Mas só no papel.

Muito não durou até a máscara cair e vermos centenas de aplicadores sumirem como fumaça ao vento, deixando para trás outros tantos lesados, obnubilados pela ganância. Dinheiro se dissipando, preso por determinação da Justiça. Carros plotados agora “mascarados”, sem as inscrições do MMN e muitas cabeças fervendo e corpos insones.

Advogados, empresários, pecuaristas, policiais, músicos, jornalistas, médicos, diaristas. Poucas foram as classes que não emprestaram alguns dos seus profissionais para servirem como “cobaias” dos faraós dos tempos modernos. Amigos, parentes, pais e muita gente que conheço, foi lesada por um ou mais de um destes esquemas.

COMO-N~1

Formou-se uma multidão de desiludidos, agora descapitalizados e prestes á loucura. E a bem da verdade, explico que sou jornalista, não trabalho contra as empresas golpistas, jamais apliquei um centavo sequer e nem estou ganhando nada com isso.

Certo é que temos exemplos vivos (ou quase mortos) de pessoas que passaram a depender de depressivos, barbitúricos e outras drogas para tentar amenizar a dor da perda material; a cegueira piramidal. Casos reais de empresários que beiram a falência depois de perder carro, casa, dinheiro e até família e amigos.

Diagnóstico de loucura pós-pirâmide e bloqueio judicial?. Sim, temos casos confirmados em clínicas psiquiátricas de Conquista e até em Minas Gerais. Fugas da cidade para tentar escapar da ira dos que foram chamados a formar novos grupos? Também houve registros.

A, assim, liminar após liminar, esperança após esperança e sonho após sonhos, dias se passam e incertezas crescem como massa de pão ao fermento. Os que foram bancados pela farra dos faraós se calam, seja por omissão ou por subserviência.

A Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), por seu turno, se queixa da redução das vendas pela falta de circulação de dinheiro. Não sabe – ou parece não querer saber – que, de janeiro até agora, o município de Vitória da Conquista viu escoar pelo ralo mais de R$3,6 milhões, segundo dados coletados pela Justiça, em ações de ressarcimento ajuizadas por advogados das “inocentes vítimas”.

Já escrevi e postei que empresas como a Telexfree, Multiclique, Polishop, Aloe Vera, BBom, NNEX, Herbalife e outras, se beneficiam única e puramente da suposta ignorância das pessoas. Mais ainda: Da ganância e da falta de informação e da preguiça em pesquisar sobre as coisas. Você vai investir um valor considerável, e para obter retorno, vai se tornar aquele amigo chato que todos irão comentar na rodinha.

Importuna família, conhecidos, sua rede de pessoas, todos ao seu redor, e que tem respeito por ti, a entrarem em algo que é falho e certo a te dar prejuízo. Alguns até obtiveram lucro a principio, mas em curto prazo, perderam muito dinheiro. O pior: seu valioso círculo de amigos acabou.

Os que ficam de fora são taxados pelos que estão dentro como os idiotas que não entendem do esquema. Quem ficou de fora foi visto como um imbecil. Quem tem curiosidade logo é bombardeado com respostas dadas que mais se assimilam com a de um robô.

Sempre falsas promessas vindas juntamente com um otimismo absurdamente irritante e as promessas de um lucro altíssimo em curto prazo, coisa que só se consegue com muito estudo, dedicação e trabalho, na vida real.

Os golpistas, desde o topo da pirâmide, os cargos mais altos, até os mais recentes adendos, sabem no fundo, de todos os riscos, mas se encobrem com esse falso otimismo para adestrar e atrair mais otários que investirão dinheiro, e pagarão o ‘salário’ dos que estão mais acima, e assim por diante.

Enquanto você, “isca viva”, luta pra conseguir alguns centavos, os que estão no topo da pirâmide e aderiram primeiro, estão nadando em dinheiro e fazendo viagens ao exterior. O primeiro fraudador é a única ferramenta necessária para que o ciclo repetitivo comece. E ele só termina com o esquema sendo desmascarado, ou a empresa indo a bancarrota.

Não escrevo sem conhecimento da causa. Segundo o Ministério da Fazenda, o Brasil proíbe qualquer tipo de negócios em pirâmide. A lei 1.521 de 1951 aponta que é crime contra a economia popular, com possível punição de 6 meses a 2 anos de detenção, “obter ou tentar obter ganhos ilícitos em detrimento do povo ou de número indeterminado de pessoas mediante especulações ou processos fraudulentos (“ bola de neve”, “cadeias”, “pichardismo” e quaisquer outros equivalentes)”.

Um conselho: estude, trabalhe, pesquise. Não vá achar que dinheiro vai vir fácil na sua vida. Por trás de todo dinheiro fácil, há alguém querendo se aproveitar de você.

BREVE RELATO SOBRE O ESQUEMA FRAUDULENTO

Explicando o esquema em rápidas e didáticas palavras, com ajuda do especialista Rafael Seabra, editor do Quero Ficar Rico (um dos maiores blogs sobre Educação Financeira do país), uma pirâmide financeira, que também pode ser confundida com marketing de rede (apesar de existirem produtos sérios nesse ramo), é um esquema onde você investe um determinado valor para entrar na pirâmide, beneficiando quem já está nela.

Em estruturas mais elaboradas, você adquire um produto (que podem ser produtos para emagrecer, cartões de crédito, alimentos) de algum membro dessa estrutura (que fica com uma parte do valor) e está apto a participar do negócio.

Os novos faraós prometiam retornos sobre o investimento bem lucrativo para os padrões americanos (algo em torno de 10% ao ano), mas, na verdade, eles repassavam um retorno financeiro aos clientes mais antigos através da entrada de recursos dos clientes mais recentes.

A maioria dos investidores provavelmente não verá a cor do dinheiro investido e já contabilizam suas perdas. Para suavizar essa rasteira, alguns se gabam de “terem tirado o seu” e que “o reste que se dane”. É assim a lei do capital: Os espertos no trono e os “trouxas”, na forca. Ruy Barbosa tinha razão ao cunhar a célebre frase: “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.

Fonte: Blog do Anderson