Uma data marcante, que representa a maior expressão de fé dos brasileiros, com maior ênfase no Nordeste, em especial no sertão, no qual a contrição se mostra presente em cada lar. Famílias humildes seguem há séculos a tradição do jejum, orações e peregrinações. É um período que se inicia no domingo de Ramos, pelo qual modificam-se costumes e aviva-se a reflexão sobre o sofrimento, morte e ressurreição de Jesus Cristo.
Após uma semana de preparações, na sexta-feira santa, ainda se observa por todos os municípios da região, o costume da peregrinação aos montes, em via-crúcis – "caminho da cruz"- que representa o trajeto seguido por Jesus carregando a cruz, do Pretório até o Calvário. O exercício da via-sacra, como também é chamada, consiste na caminhada dos fiéis, que, em oração, refazem os passos de Jesus até o monte Calvário, meditando simultaneamente à Paixão de Cristo.
Nossa reportagem acompanhou por mais um ano, a peregrinação que tradicionalmente é repetida, zelando para que o sacrifício seja mantido na mais perfeita ordem, em sentimento de respeito à data.
Ao raiar do sol do dia 14 de abril (sexta-feira santa), os fiéis puderam cumprir um ritual sagrado, na caminhada íngreme que também proporciona a contemplação de cenários encantadores. Visualiza-se os campos e as comunidades rurais, em contato direto com a natureza do sertão, o verde que ainda predomina, empresta uma visão encantadora sob o dourado nascer do sol.
Gente de todas as comunidades, dos mais humildes a personalidades influentes, se unem num só espírito de devoção. A semana Santa é, sem dúvidas, um feriado impar do calendário sertanejo. Após as visitas aos montes, cumpridos os jejuns, orações e penitências, é momento das famílias se reunirem para o preparo do alimento que obrigatoriamente tem o peixe como protagonista. São dias de convivência próxima, nos quais familiares e amigos ao redor da mesa confraternizam, na certeza da alegria que se descortina após o sábado de Aleluia. A chegada da páscoa é festejada, relembrando a ressureição.
De acordo com a liturgia da fé Católica, a peregrinação da Via Sacra, consiste em 14 estações, demarcadas por cruzes ao longo da subida, cada uma com um significado expressivo, onde se deve elevar orações: Primeira Estação: Jesus é condenado à morte; Segunda Estação: Jesus aceita a pesada cruz; Terceira Estação: Jesus cai por terra; Quarta Estação: Jesus encontra Maria Santíssima; Quinta Estação: Jesus é ajudado por Cirineu; Sexta Estação: Verônica enxuga a Face de Jesus; Sétima Estação: Jesus cai pela segunda vez; Oitava Estação: Jesus pede que as mulheres não chorem; Nona Estação: Jesus cai pela terceira vez; Décima Estação: Jesus é despido de suas vestes; Décima Primeira Estação: Jesus é cravado na cruz; Décima Segunda Estação: Jesus morre na cruz; Décima Terceira Estação: Jesus é descido da cruz; Décima Quarta Estação: Jesus é sepultado.
Por aqui, apesar de quase extintos, ainda é possível presenciar a visita de afilhados à casa dos seus respectivos padrinhos e madrinhas, a troca de presentes e a benção. Também ainda é comum observar encenações da paixão de Cristo, geralmente organizadas por jovens ligados a grupos teatrais dos municípios. Já no sábado de Aleluia, ainda existe a tradicional queima do Judas, que representa o simbolismo do castigo de fiéis ao discípulo traidor.
FOTOS: JORNAL O ECO e ZÉ MORENO