Para o deputado estadual Rosemberg Pinto (PT), líder do governo na AL-BA, que contabiliza assinaturas para a CPI, “é preciso jogar luz sobre um setor que movimenta cifras bilionárias e que, em muitos casos, pode estar sendo usado para alimentar esquemas escusos”.

O clima esquentou nos bastidores da Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA) nos últimos dias, com a possibilidade de instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar contratos de limpeza urbana em diversos municípios baianos. A proposta, segundo fontes próximas ao governo, teria partido do próprio governador Jerônimo Rodrigues (PT), como resposta política à crescente articulação da oposição para instaurar a CPI do MST, movimento historicamente ligado ao Partido dos Trabalhadores.

A CPI do MST, que ganhou força nos últimos meses com apoio da bancada bolsonarista e de setores do União Brasil e PL, tem como objetivo investigar supostas irregularidades em assentamentos e repasses de verbas públicas a entidades ligadas ao movimento. A articulação tem gerado desconforto no Palácio de Ondina, sobretudo por mirar em uma das bases de sustentação social e política do PT na Bahia e no país. Diante disso, o governador Jerônimo teria decidido contra-atacar sugerindo a CPI do Lixo — uma pauta sensível que envolve suspeitas de superfaturamento, contratos milionários e possíveis irregularidades em licitações de coleta e destinação de resíduos sólidos em grandes prefeituras baianas ligadas à oposição.

A fala foi interpretada como uma referência indireta à Operação Overclean, deflagrada em 2024 pela Polícia Federal. A operação investiga um suposto esquema de fraudes em contratos públicos de limpeza urbana em diversos municípios baianos, envolvendo suspeitas de superfaturamento, direcionamento de licitações e desvio de recursos públicos. As buscas ocorreram inclusive em Salvador, tendo como um dos alvos o empresário Marcos Moura, que também integra a executiva do União Brasil. A menção velada ao caso acirrou ainda mais os ânimos entre governistas e opositores.

Parlamentares da base aliada confirmaram que há conversas avançadas para reunir as assinaturas necessárias e protocolar o pedido de instalação da CPI já na próxima semana. Segundo o deputado estadual Rosemberg Pinto (PT), líder do governo na AL-BA, “é preciso jogar luz sobre um setor que movimenta cifras bilionárias e que, em muitos casos, pode estar sendo usado para alimentar esquemas escusos”.

A oposição, por sua vez, vê a manobra como uma tentativa de desviar o foco das investigações sobre o MST. “É uma cortina de fumaça. O governo quer intimidar e deslegitimar nosso trabalho, mas não vamos recuar”, afirmou o deputado estadual Alan Sanches (União Brasil), um dos principais defensores da CPI do MST. Especialistas ouvidos pelo jornal O Eco, avaliam que o embate representa mais um capítulo do acirramento político na Bahia, que reflete o ambiente nacional. “As CPIs sempre foram instrumentos de embate político. No caso da Bahia, o que se observa é uma disputa de narrativas: de um lado, a oposição tentando desestabilizar uma base histórica do PT; do outro, o governo tentando expor fragilidades administrativas dos adversários”, afirma o cientista político Cláudio Sampaio.

Nos corredores da AL-BA, o clima é de expectativa. Com os dois blocos já em movimento para colher assinaturas, não está descartado que ambas as CPIs sejam instaladas simultaneamente — o que promete esquentar ainda mais o ambiente político nos próximos meses. Enquanto isso, a população aguarda que, para além do jogo político, as investigações possam de fato trazer transparência e responsabilização sobre temas que impactam diretamente o dia a dia dos baianos.