Nesta segunda-feira (25), completou um mês do rompimento da Barragem I da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), aproximadamente 3 mil pessoas em Bom Jesus da Lapa participaram de uma mobilização, com o objetivo de prestar solidariedade às vítimas da tragédia e em defesa do Rio São Francisco. Este mesmo ato público também ocorreu em diversas capitais e cidades do país.
Em Bom Jesus da Lapa, a concentração foi na entrada da Barrinha, e além do apoio da população local, contou também com a participação de caravanas de várias cidades da região, saindo em caminhada até o Santuário do Bom Jesus da Lapa.
Durante a caminhada, diversas representações fizeram uso da fala para denunciar o crime em Brumadinho e suas consequências para o Rio São Francisco, chamando a atenção para a necessidade permanente da luta em defesa do rio. Destacando que além de todos os sofrimentos que o Velho Chico vem sofrendo por conta da poluição, do assoreamento, da retirada das águas dos seus afluentes para servir o capital, convive ainda com a contaminação, em função das ações irresponsável da Vale.
Sobre a ponte Gersino Coelho, onde os participantes tiveram a oportunidade de visualizar a situação do Rio São Francisco, foram feitas várias paradas simbólicas. “Esse momento é importante, porque temos a oportunidade de olhar para o nosso São Francisco para dialogar, e entender que precisamos ter contato com esse rio. Não podemos separar a nossa vida da vida do nosso Velho Chico, se ele morrer, a gente também morre junto”, destacou Andreia Neiva, que faz parte da Coordenação Nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
“Temos que denunciar não só a Vale, mas também esses governantes que defendem a privatização como projeto, e não beneficiar o povo brasileiro. Temos que afirmar e entender que privatizar os nossos recursos naturais, é o mesmo que privatizar as nossas vidas.Sem água não tem como viver, por isso precisamos lutar em defesa do Rio São Francisco e contra esse modelo de exploração imposto ao nosso povo. Temos que denunciar esse crime da Vale, no entanto, temos que denunciar também o agronegócio, que está matando os rios e nascentes da nossa região com esse modelo de desenvolvimento”, disse Caetano, do Movimento Camponês Popular (MCP).
Já o Padre Marcos, chamou a atenção para a necessidade da construção de um pensamento de pertencimento em defesa do Rio São Francisco, destacando que o acontecimento de Brumadinho atinge a todos. “Todos nós somos atingidos com o crime de Brumadinho, porque matou os nossos irmãos. Onde existe um irmão que sofre, nós também sofremos juntos. Precisamos lutar, e ninguém vai nos impedir de cobrar justiça e gritar, não a morte do Rio São Francisco, e não ao crime da Vale. A nossa vida vale muito mais. Precisamos nos apropriar do nosso rio como nossa fonte de vida”, finalizou.
No momento em que os participantes da mobilização chegaram ao Trevo do Cristo, os alunos e professores da rede municipal os aguardavam para fazer parte da caminhada e na oportunidade, foi feita uma apresentação teatral. Ao longo da Avenida Manoel Novais foram se juntando ao protesto novas escolas, representadas por seus alunos e direção. A caminhada foi finalizada no Santuário do Bom Jesus da Lapa com um momento celebrativo.
O ato foi organizado e articulado, com a realização de várias reuniões em Bom Jesus da Lapa, pela Brigada Popular em Defesa do Rio São Francisco, composta pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), do Movimento Popular pela Soberania na Mineração(MAN), do Levante Popular da Juventude, da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) e representantes da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Universidades, Secretaria Municipal da Educação, Maçonarias, Igreja Católica, Sindicato dos Trabalhadores Rurais(STR), Comissão Pastoral da Terra(CPT), Pastoral da Criança, Comunidades Remanescentes de Quilombos (CRQ’s) e Pastoral do Meio Ambiente(PMA), entre outras entidades. E teve como objetivo denunciar o crime da Vale e suas consequências para o Rio São Francisco, cujas águas podem ser contaminadas por cerca de 13 milhões de metros cúbicos de rejeitos derramados com o rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão. De acordo o Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), a contaminação no Velho Chico virá dos metais pesados contidos na lama, que não ficarão alojados na hidrelétrica de Três Marias, podendo causar danos à saúde da população que depende do rio.
Passado um mês da tragédia causada pelo rompimento da Barragem 1 da Vale em Brumadinho (MG), os trabalhos de buscas tentam localizar 134 desaparecidos e o número de mortos chega a 179.