O CARNAVAL de Salvador politizou de vez e evidencia uma disputa por mais espaços nas midias paga e espotânea entre o governador Rui Costa (PT) e o prefeito da capital, ACM Neto (DEM), dois dos prováveis candidatos a governador, em 2018. A terceira-via, o senador Otto Alencar só espia, uma vez que não dispõe de caneta executiva para participar dessa refrega momesca.
Evidente que, nada disso influencia diretamente, na eleição de 2018. Mas, é uma máxima do marketing comercial transposto para o marketing-politico, e a Coca-Cola é mestra nisso, dando conta de uma marca tem que está sempre em evidência, mesmo líder.
E o governador e o prefeito se comportam assim: reforçam as entrevistas em emissoras de rádio e tv, dão coletivas, participam de eventos, sambam, cantam, usam as redes sociais e anunciam suas inovações na folia e quem pagou qual das atrações para o Carnaval.
Salvador faz, ainda, um grande Carnaval, mas, já divide espaços com o Rio e São Paulo à frente dos baianos em carnavais de rua mais democráticos, que era o nosso forte, e atraia gente de todo o Brasil. Ainda atrai. E nem precisa ficar dizendo que os hotéis estão com 100% de ocupação nesse reinado do Momo. Isso é óbvio.
É impossível saber quanto cada ente vai desembolsar no Carnaval. Fala-se numa soma, dos três – Estado, Prefeitura e iniciativa privada- em algo em torno de R$ 150 milhões. E ninguém tem certeza o que, de fato, é do cofre público e do cofre privado, provavelmente algo meio a meio. O governo tem um custo alto com a segurança.
O Carnaval de Salvador, por sua natureza, é o mais violento do pais e demanda uma tropa em torno de 20 a 25 mil homens/mulheres armados com 'fantas' e pistolas para que nada de grave aconteça. SP consegue colocar 380 blocos no Carnaval e não usa nem 1/3 desse contingente policial.
Há, ainda a considerar, seguranças e cordeiros dos blocos e camarotes. O Carnaval está se camarotizando de tal forma que já existem locais – e vários – com bailes internos em espaços climatizados, extra-avenida. A rua era o forte do Carnaval de Salvador e está deixando de ser, pelo menos no que diz respeito a movimentação financeira.
E os grandes artistas descobriram, também, que o cofre púlbico é uma maravilha. E que não seja ele, mas com seu aval para que alguma empresa pague, ganha-se muito mais do que organizar um bloco. O melhor é cantar num trio pipoca e embolsar uma grana alta. Fala-se em cachês de R$350 mil/R$400 mil.
Os blocos afros se queixam da falta de recursos. Em parte, não se justifica essa queixa, uma vez que o Carnaval Ouro Negro, do Estado, injetou R$5 milhões nessas entidades e muitas delas têm patrocinios de empresas privadas. Mas, são ainda os que mais sofrem porque procuram manter uma identidade cultural com a Bahia, diferente da maioria dos blocos de trios e dos camarotes. E isso tem um custo elevado.
A moda, agora, é falar no folião pipoca, o antigo folião dos anos 1960/1970, antes que o Carnaval se mercantilizasse de vez, a partir dos anos 1980/Axé Música. E isso vem de longas datas, desde o tempo dos "Os Internacionais"/"Os Corujas" onde a classe média da capital brincava num espaço privê de rua. Os afros também são assim. Todos eles. Pode um dia um sair sem corda, mas, 90% do Momo é dentro das cordas – Ilê, Olodum, Malê, Muzenza, Gandhy, Filhos do Congo, etc.
Cada gestor vai criando seus modelos. Na gesatão Imbassahy surgiu o Bloco da Cidade e o arrastão com Brown. Já foram sepultados. Com JH não se criou nada e o prefeito resolveu abrir o Momo em Cajazeiras. Ademais, montou numa égua na Mudança do Garcia. Com ACM Neto surgiu o Furdunço e agora o Fuzuê. São engrenagens paleativas porque quando muda o gestor essas inovações desaparecem.
O que resiste são as coisas emanadas das estruturas empresariais e do povo. A Mudança do Garcia é um exemplo. E os trios elétricos, outro exemplo. O MP que gosta de dar opinião em tudo deveria sugerir uma união prefeito e governador para equalizar recursos, eles que se queixam tanto da falta de dinheiro, de crises e outros.
O governador Rui quer marcar seu mandato como incentivador do Carnaval Pipoca. E a Bahiatursa e empresas privadas investem forte. Esse pipoca nunca pegou. Até hoje, o maior sucesso foi o pipoca com Igor Kannário, mas, com esquema especial da PM.
É todo um caldo de cultura que Salvador ainda não absorveu. Mudar esse Carnaval da guerra para Carnaval da paz demora tempo, educação e outros ingredientes. Mas, vale, desde já ir tentando.