Especialistas concordam que pode ser tarde demais para uma nova realidade mundial, com a China em ascensão e os Estados Unidos isolado comercialmente

O mundo assistiu, atônito, a mais um capítulo de imprudência na política global. Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, lançou o planeta em uma crise comercial sem precedentes — e, ao tentar amenizar os estragos, apenas confirmou o que muitos temiam: sua imprevisibilidade não é estratégia, é insanidade política.

Na última semana, Trump anunciou tarifas agressivas de importação, com potencial para colapsar o comércio global, prejudicar a economia americana e acelerar o declínio da influência dos EUA. A reação global foi imediata. Países como Vietnã, Camboja e até a União Europeia se prepararam para retaliar. Investidores entraram em pânico, bolsas despencaram. Foi só então que Trump recuou — suspendeu, por 90 dias, as tarifas mais drásticas, trocando-as por um imposto padrão de 10%. Chamou de “gesto de boa vontade”. Mas o estrago já estava feito. A exceção foi a China, que respondeu com força. Em poucos dias, os produtos chineses enfrentavam 145% de tarifa nos EUA, enquanto os americanos pagavam 84% para entrar na China. A escalada acentuou a tensão. A guerra comercial já não era só ameaça — era realidade.

Ecos globais do tarifaço – A instabilidade promovida por Trump provocou reações estratégicas. Países começaram a se preparar para proteger seus próprios interesses, reforçando políticas internas e, ao mesmo tempo, elevando o grau de hostilidade com os Estados Unidos. Para especialistas, essa movimentação marca o início de uma nova era no comércio global. A tentativa de Trump de reorganizar o sistema econômico mundial sob os interesses americanos mostra-se, até agora, desastrosa. Como apontou Edward Alden, do Conselho de Relações Exteriores, o impacto se assemelha à Revolução Cultural da China — destruição com a promessa de reconstrução, sem garantia de sucesso.

Com 73% dos celulares e 78% dos laptops americanos vindos da China, os impactos no consumo interno são inevitáveis. A Tax Foundation estima queda de quase 2% na renda líquida da população americana. Enquanto isso, grandes bancos, como Goldman Sachs, já preveem crescimento pífio do PIB dos EUA: apenas 0,5% em 2025, contra 2,8% do ano anterior.

Cadeias produtivas em colapso: A confusão tarifária também atingiu diretamente empresas e cadeias globais. A Stellantis, montadora de carros, suspendeu produção no Canadá e no México. Indústrias químicas chinesas, dependentes do petróleo americano, fecharam. Investimentos de quase 2 trilhões de dólares em solo americano estão agora em risco. Mesmo países que poderiam se beneficiar da disputa, como o Brasil, seguem no escuro. O tarifaço sobre o aço e o alumínio já trouxe prejuízos concretos a setores estratégicos. E a incerteza impede qualquer planejamento.

China em ascensão, EUA isolado – Curiosamente, a China — historicamente vista como rival — surgiu como defensora do livre mercado. Ao responder com firmeza, reorganizar sua produção e estimular o consumo interno, o país asiático pode sair ainda mais forte, consolidando sua liderança em mais de 730 segmentos industriais. Trump, ao tentar enfraquecer Pequim, pode ter lhe dado um presente. Desde que Trump iniciou sua cruzada protecionista, os EUA perderam mais de 10 trilhões de dólares em valor de mercado. Gigantes como Apple, Amazon e Tesla sentiram o baque. O petróleo caiu ao menor nível em quatro anos, o minério de ferro em seis meses — sinais claros de que o mundo está, de fato, mais pobre.

Apesar do alívio temporário com a suspensão parcial das tarifas, a instabilidade persiste. A incerteza se tornou regra. E a marcha da insensatez, iniciada por Trump, continua, deixando cicatrizes que levarão anos para cicatrizar.

No fim das contas, Trump fez o mundo repensar suas alianças. O comércio internacional nunca mais será o mesmo — e os Estados Unidos, agora vistos como um parceiro volátil, podem pagar caro por isso.