Sob o céu sertanejo, a cidade se transforma em altar vivo, celebrando quatro décadas de devoção, tradição e amor à padroeira que guia e protege seu povo
No alto de um planalto aconchegante, rodeada por serras distantes e horizontes largos, repousa uma cidade de alma forte e povo valente. Tanque Novo não é apenas um ponto no mapa do sertão baiano; é um coração que pulsa ao ritmo da fé, do trabalho e da tradição. Um lugar onde o nome mais ouvido carrega amor, proteção e esperança: Maria. Por trás das ruas largas, onde caminhões e carretas cruzam como gigantes em missão, e ao redor do açude que reflete memórias e sonhos, nasce a festa que é o maior símbolo de fé do município. É a celebração do Imaculado Coração de Maria, padroeira de Tanque Novo, que no mês de maio transforma cada esquina, cada casa e cada coração em altar de devoção.
Este ano, a festa ganha ainda mais significado. A Paróquia do Imaculado Coração de Maria comemora 40 anos de missão, evangelização e serviço. São quatro décadas de história construída com orações, mãos que se unem, vozes que se erguem em cantos e corações que se dobram em gratidão. Durante todo o mês de maio, as noites se enchem de fé e emoção. As novenas são encontros sagrados que reúnem famílias inteiras em oração, partilha e comunhão. No coreto da praça, o sagrado se mistura com a cultura popular: os leilões, as barracas, os risos e os encontros tornam cada noite uma experiência que vai além da devoção, é celebração da vida.
Nas mãos dos voluntários, o simples se torna extraordinário. De um pedaço de bolo doado a uma flor colocada no andor, tudo carrega amor. E lá, no cantinho mais doce da festa, segue soberano o tradicional pirulito de mel, que há gerações adoça as bocas e os corações dos tanquenovenses, como se fosse uma extensão da própria bênção. Quando o hino da padroeira, composto pelo ilustre filho da terra Lindoro Marques, ecoa na praça, não é apenas música — é oração. Cada verso atravessa o vento, invade as janelas e toca profundamente quem ouve, despertando memórias e renovando a fé. É a alma da cidade cantando, em uníssono, sua gratidão a Maria.
As ruas e avenidas se transformam em verdadeiros rios de fé. As procissões, com seus carros alegóricos, são desfiles de amor e devoção. Flores, luzes e orações acompanham o andor de Maria, que atravessa a cidade em meio aos aplausos e lágrimas de quem reconhece na padroeira não só uma santa, mas uma presença constante, que guia, protege e fortalece. Atrás de cada detalhe, das fitas às bandeiras, do altar à ornamentação, há um exército de mãos anônimas e dedicadas. Gente que acorda mais cedo, que doa tempo, talento e carinho, movida por uma única certeza: aqui, fé não se assiste, se constrói.
E então chega o momento mais esperado: o Dia da Coroação. A missa festiva reúne milhares de fiéis, que se emocionam ao ver crianças vestidas de anjos atravessando a praça como estrelas vivas, trazendo nas mãos a pureza e nos olhos a esperança. As Marias, tantas e tão simbólicas, entram em procissão, todas de branco, formando um jardim humano em homenagem à Mãe Celestial. No altar, iluminada, a imagem de Maria recebe a coroa que simboliza não apenas sua realeza espiritual, mas também a devoção inabalável de um povo inteiro.
O instante em que a coroa repousa sobre a cabeça de Maria é mágico. Silêncio, lágrimas e preces se misturam, enquanto os fogos de artifício explodem no céu sertanejo, como se o próprio firmamento celebrasse junto. A multidão, embalada pelo canto final, balança rosas, como se quisesse, naquele gesto singelo, tocar o Divino com as mãos. Naquele instante, Tanque Novo se transforma em altar, e cada coração pulsa em sintonia com o Imaculado Coração de Maria.
No dia seguinte, como manda a tradição, a bênção desce do céu na forma de água benta. Motoristas param seus veículos, famílias se reúnem nas portas, e cada gota derramada carrega um sopro de proteção, paz e esperança. Porque Tanque Novo não é só cidade. É oração que caminha, é tradição que pulsa, é fé que se renova a cada amanhecer. E há 40 anos, sob o olhar amoroso do Imaculado Coração de Maria, este povo segue de mãos dadas, provando que, aqui, fé é destino e Maria é caminho.