Na quarta-feira que antecede o feriado da Semana Santa, o projeto Trilha de Reis lança em Salvador duas obras que retratam a manifestação de fé dos Ternos de Reis do Alto Sertão da Bahia. O livro “Reiseiros, vida de sorte e saúde” e o longa “Tudo tem um tempo” narram e ilustram os simbolismos da tradição religiosa e cultural dos reisados sertanejos, através das vivências e visões de mundo dos seus membros mais antigos e apaixonados. O lançamento, que contará com a exibição do filme em primeira mão para o público soteropolitano, será no dia 28 de março, a partir das 18h, no Espaço Itaú de Cinema – Glauber Rocha. A entrada é gratuita.

Organizado pelos realizadores do projeto, Cristiano Britto e Sabrina Alves, sócios da Olho de Peixe Filmes, o livro traz, em textos e fotos, um relato da vivência experimentada pela equipe do projeto durante o sua realização, que contemplou um período de pesquisa e o registro do Reisado no Alto Sertão da Bahia no ano de 2017, representados por alguns dos Ternos mais tradicionais da região.

A publicação de 128 páginas tem textos assinados pela jornalista Luciana Accioly, mestre em Artes Visuais e especialista em Cultura Brasileira e Linguagens Artísticas Contemporâneas. As imagens são de Ricardo Prado, fotógrafo pesquisador das expressões artísticas e religiosas da Bahia. “Os registros seguem a linha conceitual do projeto que propõe uma narrativa em tom intimista do universo apresentado, através das ‘vozes’ dos próprios retratados e de uma vivência obtida a partir do contato da equipe realizadora com os mesmos”, explica Cristiano Britto, sócio da Olho de Peixe.

O documentário “Tudo tem um tempo” traz a jornada de seis dias de peregrinação dos Reiseiros do Riacho da Vaca, comunidade que abriga um dos Ternos mais antigos da região.  Foi por meio de um reiseiro desta comunidade que surgiu a inspiração para o projeto. “Em 2010, conhecemos José Sabino, reiseiro de 92 anos que acabou falecendo dois anos depois. Apesar da saúde debilitada, esse reiseiro de personalidade intrigante ainda falava sobre a tradição do Reis de forma muito apaixonada e cativante. A partir daí, nasceu o interesse em conhecer o Ritual do Reis e entender o porquê daquela tradição estar sendo perpetuada por aquela comunidade há mais de 150 anos”, explica Sabrina Alves, sócia da Olho de Peixe e diretora do filme.

Após sete anos deste contato inspirador, a diretora Sabrina Alves e o produtor executivo Cristiano Britto retornam à região para realizar o projeto Trilha de Reis, que apresenta o documentário como um dos produtos da obra Reiseiros, vida de sorte e saúde. A equipe de filmagem, alocada na zona rural durante os sete dias de percurso do Terno, acompanhou de perto as experiências e situações vividas pelos Reiseiros, proporcionando ao espectador uma visão sobre esta tradição singular, a partir de questões tão humanas e universais como o amor, a fé e a própria existência.

A iniciativa conta com o patrocínio da Coelba e Governo do Estado, através do Fazcultura, da Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura do Estado da Bahia e contempla também uma websérie com 10 episódios, disponível no site www.reiseiros.com.

Sobre o projeto – A paixão reiseira

A festa dos três Reis Magos do Oriente que, conforme o credo católico, visitaram o recém-nascido Jesus Cristo com presentes e honras é comumente representada pelos personagens bíblicos com figurinos coloridos, alegóricos, guiados com som harmônico. No alto sertão baiano, os sócios Cristiano Britto e Sabrina Alves foram apresentados a uma nova representação da Folia de Reis. “Em 2010, convidados pelo músico e parceiro Anderson Cunha, partimos para uma longa viagem do litoral ao interior e desembarcamos cheios de curiosidade diretamente na zona rural do município de Caetité. Encontramos o primeiro Terno de Reis tocando dentro de uma casa e a cena que foi revelada para nós era diferente de tudo que havíamos construído previamente através das referências mais recorrentes a respeito de uma Folia de Reis. Não havia figurinos, alegorias e instrumentos harmônicos”, comenta Cristiano Britto.

Uma música percussiva, orgânica, quase tribal guia a incursão nesta Festa que se repete em cada casa, mantendo uma simplicidade material, mas que revela uma grande subjetividade e diferentes formas de envolvimento dos personagens. “A breve vivência com eles nos arrebatou de uma forma muito intensa. Era precioso o que se apresentava naquele território tão distante, no meio do nada, no interior do interior, relata Sabrina Alves.

Esta experiência culminou na efetiva realização do projeto que cumpre o papel de apresentar e preservar a identidade dos Ternos de Reis da zona rural do Alto Sertão da Bahia. Além do material captado na festa de 2017, os registros realizados ao longo dos sete anos de desenvolvimento do trabalho estarão à disposição do público interessado em conhecer os bastidores desta iniciativa no site e nas redes sociais do projeto.