Investigações mostram detalhes dos desvios de recursos para combate a seca, especialmente de emendas parlamentares. Fontes nos bastidores políticos revelam preocupações com possíveis investigações em curso nas chamadas “emendas para custeio da saúde”.

O ano 2024 deve terminar aquecido nos bastidores políticos. Enquanto deputados fazem queda de braço pela liberação de emendas, os escândalos envolvendo tais recursos não param de inundarem os noticiários. A operação Overclean que revelou desvios milionários de recursos, especialmente no DNOCs, parece que segue tendo desdobramentos e tirando o sono de muita gente grande. Antes mesmo de se ter um desfecho final, ficam cada vez mais fortes os boatos de bastidores sobre possíveis investigações em curso, que rastreiam os recursos de emendas destinadas à saúde. Ocorre que, podem estar na mira da PF, os chamados “artífices” sob suspeita de aliciarem, parlamentares, com facilidades, empresas e laranjas, também na destinação destes recursos.

Na Operação Overclean, o empresário Alex Rezende Parente, apontado como um dos líderes de uma quadrilha envolvida em fraudes licitatórias e desvio de recursos públicos por meio de contratos com o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), na Bahia, foi preso com mais de R$ 1 milhão em espécie na última terça-feira (10). A prisão ocorreu durante a Operação Overclean, quando ele deixou o aeroporto de Salvador e desembarcou em Brasília. A prisão ocorreu em Brasília, após a Polícia Federal (PF) interceptar um voo em que Parente estava a bordo, acompanhado de Lucas Maciel Lobão Vieira, ex-coordenador do DNOCS no estado baiano. As imagens foram obtidas pela TV Globo.

Segundo as investigações, Alex, sócio da Allpha Pavimentações e Serviços de Construção Limitada, que firmou vários contratos com o DNOCS, estava transportando R$ 1,535 milhão em espécie. Parte do dinheiro, aproximadamente R$ 35 mil, foi encontrado em uma mochila e alegado pelo empresário como sendo para gastos pessoais. Contudo, em outra mala, foi encontrada a quantia considerável de R$ 1,5 milhão, valor que Parente tentou justificar como sendo destinado à compra de máquinas agrícolas, mas não conseguiu comprovar.

Além do montante em dinheiro, a operação revelou uma extensa rede de corrupção, com documentos e planilhas indicando que o grupo criminoso atuava em pelo menos 14 estados e acumulava mais de R$ 820 milhões em contratos fraudulentos. A polícia ainda apreendeu outros bens de alto valor, como 23 carros de luxo, três iates, seis imóveis e joias, além de mais de R$ 3 milhões em espécie. Nesse contexto, com o aumento de boatos nos bastidores do poder em Brasília, as preocupações se voltam para possíveis investigações em curso sobre outros destinos das emendas parlamentares, incluindo a área da saúde.

Os envolvidos no esquema fraudulento, que inclui empresários, servidores públicos e vereadores, são acusados de movimentar pelo menos R$ 1 bilhão em contratos superfaturados e pagamentos de propina. Ao todo, 17 pessoas foram presas, incluindo alguns nomes de peso no cenário político e empresarial.

A operação revelou uma extensa rede de corrupção, com documentos e planilhas indicando que o grupo criminoso atuava em pelo menos 14 estados e acumulava mais de R$ 820 milhões  |   Reprodução / TV Globo

O aprofundamento das investigações revelou que a organização criminosa era liderada pelos irmãos e empresários Alex Rezende Parente e Fábio Rezende Parente, sócios da Allpha; pelo empresário conhecido como “Rei do Lixo”, José Marcos de Moura; e pelo ex-Coordenador Estadual do DNOCS na Bahia, Lucas Maciel Lobão Vieira. O grupo, segundo a Polícia Federal, cometia fraudes licitatórias, superfaturamento de contratos públicos e desvio de recursos.

A reportagem apurou que em interceptações telefônicas realizadas, ficou claro que os líderes da organização, incluindo o empresário Alex Rezende Parente, estavam conscientes do risco das investigações e tentaram apagar rastros de suas atividades criminosas. Foi registrado o uso de máquinas trituradoras para destruir documentos e apagar dados digitais relacionados ao esquema.