O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em campanha eleitoral no Nordeste, em 1989 (CLAUDIO VERSIANI/Dedoc)
Era 13 de julho. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) havia sido condenado no dia anterior a nove anos e seis meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá. Para dar uma resposta ao juiz federal Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato na primeira instância, Lula se cercou de aliados no Diretório Nacional do partido, em São Paulo, e reivindicou do PT o direito de ser candidato à Presidência em 2018.
Do lado de fora do diretório, dezenas de militantes reagiam a discursos inflamados de lideranças petistas. Entre um ataque e outro a Moro, o senador Lindbergh Farias (RJ) traçou a estratégia que o PT adotaria semanas depois. “Nós vamos lançar Lula imediatamente como candidato à Presidência. Vamos viajar esse país. Tem que ter muita garra e determinação. Vamos desmoralizar a sentença do juiz Sergio Moro.”
Transcorrido pouco mais de um mês do episódio, Lula se prepara para a primeira das muitas caravanas que pretende realizar pelo Brasil até as eleições de 2018. Nesta quinta-feira, às 15h30 (de Brasília), o ex-presidente desembarca em Salvador para um giro de vinte dias por 25 cidades dos nove estados do Nordeste, seu principal reduto eleitoral. “Vamos fazer campanha, sendo candidato ou não. Vamos andar pelo Brasil”, disse o petista, no dia 28 de julho, em entrevista à rádio Som Maior, de Criciúma.
A caravana ocorre em um momento de incertezas para o petista. Líder nas pesquisas de intenções de voto, Lula pode não ter a chance de se candidatar à Presidência caso a sentença expedida por Moro seja confirmada em segunda instância pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4). Publicamente, o PT nega que a caravana tenha caráter eleitoreiro. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) poderá aplicar sanções aos pré-candidatos que desrespeitarem os prazos estipulados para o início das propagandas eleitorais.
“Lula decidiu realizar a caravana e viajar pelo Brasil. Havia muitas solicitações dos estados do Nordeste pela sua presença, por isso decidimos começar pela região”, declarou Márcio Macêdo (PT-SE), vice-presidente nacional do partido e coordenador da viagem do ex-presidente. “A caravana não é eleitoral. Ela não apresentará nenhum plano A, B, C ou D. Servirá para discutir o país”, disse o deputado José Guimarães (PT-CE), líder da minoria na Câmara.
Lula fará os trajetos de ônibus e avião, ficará hospedado com a sua comitiva em hotéis e não terá nenhum esquema especial de segurança à sua disposição. Em cada cidade visitada, o petista realizará reuniões com lideranças locais, políticas e da sociedade. O PT diz que arcará com todos os custos, mas não revela qual foi o orçamento estipulado para a caravana. A ideia do partido é repetir o formato de viagem nas outras regiões do Brasil.
Coincidentemente – ou não -, a caravana de Lula ocorre no momento em que outros presidenciáveis participam de eventos e palestras em todo o país. Os últimos a irem para a estrada foram o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito paulistano, João Doria, que travam uma disputa silenciosa pela indicação do PSDB. Neste mês, Alckmin se reuniu com políticos em Brasília e participou de evento em Porto Alegre. Já Doria foi a Curitiba, Salvador, Palmas e Natal nos últimos dias. O prefeito também irá a Recife, Vila Velha (ES), Campina Grande (PB), Aracaju, Belém e Fortaleza.
Cabo eleitoral
Caso seja impedido de disputar a eleição, Lula disse que usará seu cacife político para ser um “grande cabo eleitoral” em 2018. Nas eleições municipais de 2016, o PT pagou o preço por seu envolvimento em sucessivos escândalos de corrupção e passou de 630 prefeituras para 236. Na Bahia, escolhida pelo ex-presidente para ser o ponto de partida da caravana, a legenda foi de 93 prefeituras para 39.
Por: Edoardo Ghirotto – Vejaonline