Para a maioria dos órgãos de imprensa, a ofensiva do bolsonarismo contra o Supremo Tribunal Federal (STF) neste domingo (17) foi um fracasso; grupos de extrema-direita como MBL e Vem pra Rua prometeram grandes mobilizações em todo o país contra a Suprema Corte, pedindo “o impeachment” de todos os seus membros, uma possibilidade inexistente nos marcos da Constituição. No entanto, nas principais cidades do País, as manifestações foram marcadas pela presença de apenas dezenas de pessoas.
Manifestantes se reuniram na manhã deste domingo em frente em Supremo Tribunal Federal, em Brasília, para protestar contra a decisão da Corte que prevê que casos de corrupção e lavagem de dinheiro, quando investigados junto à caixa dois, sejam julgados pela Justiça Eleitoral.
A manifestação começou por volta das 10h da manhã com cerca de 50 pessoas, que entoavam o Hino Nacional. A estimativa da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) é que, cerca de 100 pessoas, até as 11h, participavam do ato.
A representante do movimento Vem pra Rua em Brasília, Celina Gonçalves, considera a decisão do STF inadequada. Ela disse temer que a tramitação desse tipo de crime na Justiça Eleitoral fique travada e que os atos prescrevam.
O auditor Júlio Bessa, 54 anos, citou, durante o ato, palavras proferidas pelo ministro Luis Roberto Barroso na última sexta-feira (15) condenando a migração dos crimes para a Justiça Eleitoral.
“Estamos aqui hoje para corroborar esse entendimento do Barroso. O plenário está rachado”, disse, ao fazer referência ao resultado do julgamento, realizado na sexta-feira (15), quando seis ministros julgaram a favor do envio dos processos para a Justiça Eleitoral e cinco contra.
A manifestação foi organizada por grupos de pessoas, por meio de rede social na internet, e previam atos em várias cidades, entre elas, São Paulo e Rio de Janeiro. Os mais empolgados acreditavam em multidões durante as manifestações, que na opinião dos críticos, ainda analisando os motivos, o movimento desidratou-se e mingou.
O fiasco foi saudado com ironia:
No Rio de Janeiro apenas alguns gatos pingados gritavam “vergonha, vergonha nacional”, fazendo uma paródia com a música de Ivete Sangalo, como se vê no vídeo abaixo:
São BILHÕES de pessoas nas ruas do RJ nesse momento. O clima de protesto é contagiante! pic.twitter.com/Tz3eZMV3BB
— v.torres (@vitortorres) March 17, 2019
Centro-oeste – Percebeu-se a fraqueza das manifestações logo no início da manhã de domingo, em Brasília. Em Goiás, a cena não era diferente. Dezenas de pessoas gritavam “fora STF”. No Sudeste, especialmente em São Paulo, nem mesmo as vias fechadas e as “personalidades” do MBL como “Mamãe falei” e Fernando Holiday atraíram a multidão para a causa dos apoiadores de Bolsonaro e contra o STF. No local, as pessoas aglomeravam-se no vão do Masp para ouvir os jovens de extrema-direita.
Em Belo Horizonte, a manifestação também não ultrapassou a barreira das centenas de pessoas. No Sul, região com grande apelo conservador, a manifestação em Florianópolis também seguiu murcha e não passou de 50 pessoas. Já em Curitiba, terra mãe da Lava Jato, algumas centenas de pessoas seguiam o carro de som com palavras de ordem programadas pelo MBL.
Afinal, o que esta em jogo? O movimento “pelo fim do STF” ganhou impulso depois que Bolsonaro (presidente da República) postou vídeo de um de seus filhos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, com ataques ao STF.
O estopim da mobilização da extrema-direita foi a decisão do STF de determinar que os processos relativos a uso de caixa 2 nas campanhas eleitorais sejam julgados pela Justiça Eleitoral e não mais pela Justiça Comum. Na decisão, na última quinta-feira (14), o STF definiu a competência da Justiça Eleitoral para julgar crimes comuns – como corrupção e lavagem de dinheiro – conexos com delitos eleitorais; no dia seguinte, nesta sexta, em outra contundente derrota da Lava Jato, o STF suspendeu todos os efeitos do acordo entre a força-tarefa, a Petrobrás e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que previa a criação de uma fundação com R$ 2,5 bilhões. O ministro Alexandre de Moraes disse que os procuradores, liderados por Deltan Dallagnol, “exorbitaram das atribuições que a Constituição Federal delimitou”.