Eu te salvei, gritou a mulher/E você me picou, mas por quê?/Você sabe que sua picada é venenosa e agora eu irei morrer/Oh, cale-se, mulher tola, disse o réptil com um sorriso/Você sabia muito bem que eu era uma cobra antes de me acolher”. Esta fábula de Esopo é um alerta e cai muito bem para os tempos atuais. Serve para políticos aventureiros e regimes autoritários. As cobras venenosas estão ai. Com suas picadas já mataram milhares e, mesmo assim, de tão dissimuladas se fingem de inofensivas para serem acolhidas e continuar picando.
A grande maioria do povo brasileiro desconhece sua história e não está nem aí para está tal liberdade de expressão, mesmo porque, nem entende seu significado e importância. O mesmo pode-se dizer da democracia esquartejada e desacreditada. A crise moral e ética, a bagunça e a usurpação dos poderes, os quais deveriam ter respeito e dar exemplo de cidadania, nos levaram a esta triste realidade.
O caos, a desordem e a corrupção bateram forte na nossa porta! Então, chame as forças armadas para baixar o pau e por ordem na casa! Já ouviu papo de botequim sobre esta questão? Os bebuns (não só eles) aprovam intervenção militar, falam bem da ditadura e tascam conversas tortas, deturpadas e desconexas sobre aquele tempo. “Naquela época havia moralização e não existia corrupção” – grita de lá do canto o mais exaltado defensor, entornando mais um gole da maldita.
A FALÊNCIA E O MEDO
Por que o exército e as outras corporações militares correlatas estão no topo das aprovações entre todas as outras instituições do Brasil, inclusive da Igreja Católica? Tem suas razões, a começar pela falência das outras (legislativo, judiciário e o executivo) que levou o povo a perder as esperanças e a ter muito medo da violência de morte. A ignorância sobre a história passada é outro fator que contribuiu para elevar o índice de aceitação.
Pois é gente! A que ponto chegamos! E os aplausos efusivos e arrogantes ao Bolsonaro ditador e à bancada da bala no Congresso Nacional! Desilusão e revolta sufocadas de quem já tomou vários socos no estômago e não crê mais em nada. O jeito é se apegar a qualquer aventureiro que se diz salvador da pátria. Quando o barco está afundando, não se pode recusar socorro, até mesmo de piratas malfeitores e sanguinários.
Não são poucos os indivíduos que não têm nenhuma admiração pela liberdade, mesmo porque já perderam a capacidade de pensar e de refletir, pois há muito tempo engolem tudo que vem de cima. Para essa gente, liberdade é uma porta aberta para a entrada do anarquismo e do comunismo.
Por sua vez, somos um povo submisso que só se comporta com um policiamento ostensivo presente. Um exemplo são as festas populares. Tem que ter muita polícia, senão é mais que previsível o registro de confusões e brigas de desordeiros. Com militares ao lado, todos procuram ser “educados” e respeitar os outros, embora muitos descambem para a violência depois do efeito das bebidas alcoólicas e das drogas.
A INTERVENÇÃO NO RIO
Peço desculpas por todo este introdutório para falar diretamente da intervenção militar (eles corrigem como federal), no Rio de Janeiro. Todos são unânimes ser medida necessária para conter a bandidagem que tomou o território que deveria ser administrado pelo Estado através de programas sociais de redução das desigualdades.
Nesta hora todos querem morte sem piedade aos bandidos, traficantes e assassinos assaltantes, mas quem criou os monstros? Os geradores responsáveis pelos Frankenstein, os governantes corruptos conluiados com o capitalismo burguês e a oligarquia agora chamam os militares para trucidá-los e matá-los com seus tanques, bombas e metralhadoras.
Como o “bicho pegou” mesmo pra valer, ninguém agora se importa com violação da liberdade e dos direitos humanos. Vale o estrangulamento. Qualquer atitude do interventor general é aceita e justificada pela população em geral como forma de proteção, como fotografar moradores para arquivos e conseguir mandados coletivos de busca e apreensão. Direito civil passa a não ter mais relevância e quase ninguém se incomoda com isso. Deixe os homens meterem a pua!
Em seu trono, nesta semana o interventor falou exclusivamente para a “Grande Rede” (o restante da mídia não interessa) como governador do Rio quando anunciou que, além de ocupar militarmente os espaços nas favelas, vai implantar atividades complementares de saúde, educação e outros benefícios sociais nas comunidades.
Ora, como está dito no decreto federal, sua função na intervenção não é somente na área da segurança pública, deixando a administração dos outros setores para o governo e o prefeito? Cadê o governador Pezão (denunciado na Lava Jato) e o prefeito fujão Crivella? Eles sumiram e a “Grande Rede” dos vídeos, que oferece fama em 15 segundos (todos querem aparecer), nem cita mais eles. Está colada na intervenção que é sua especialidade.
Na força, o interventor general promete deixar tudo bonitinho e ainda transformar o Rio de Janeiro num laboratório para outros estados da federação, que também foram invadidos pelos bandidos devido a incompetência e os desmandos dos governos corruptos. Aliás, eles não estão na mesma classe? Não poderiam também ser julgados, sentenciados e presos? A promessa agora do comando é tornar a vila Kennedy numa vitrine. Já vimos isso com a UPP da favela Santa Marta. Como confiar?
Em entrevista à rádio Jovem Pan, o mordomo de Drácula disse que existe “preconceito” em relação à atuação das forças armadas no país e receitou que os militares precisam participar mais da administração pública. Destacou que não vê nas corporações a vontade de assumir o poder, mesmo gozando de credibilidade perante a sociedade. Engana que eu gosto!
Não custa lembrar que ele foi um dos informantes da Embaixada dos Estados Unidos durante a ditadura de 1964, cujas cicatrizes continuam abertas (os torturadores que cometeram crimes de lesa-humanidade não foram punidos), mas, como poucos conhecem a história, isso não importa.
Tenho minhas dúvidas quanto a realização das eleições neste ano. Houve quebra da ordem pública, chama o exército. A Constituição garante, e o artigo neste sentido foi posto por pressão dos generais. Num país tão conservador onde mandam as elites, de profundas desigualdades sociais, egoísta e individualista (olha os vídeos ai da “Grande Rede”!), ambiente propício existe para tal.