Paulo Donizetti de Souza, RBA
Às favas a reputação. Ao tentar impor um fato novo no clima político-eleitoral a caminho de 2018, o Estadão aplicou em sua manchete uma das mais sórdidas máscaras de manipulação de sua história. A chamada “Aprovação a Huck dispara e atinge 60%, mostra pesquisa”, garrafal, induz o observador de manchetes a pensar que se trata de preferência eleitoral. A pergunta do pesquisador no entanto, vem em letras miúdas como as de uma bula: “Aprova ou desaprova a maneira como atuam no país?”
1. Huck, portanto, não está sendo avaliado como potencial candidato, mas como apresentador de TV. Detalhe: ainda assim, 32% dos pesquisados o desaprovam. É possível que sua mulher, também apresentadora global, tenha desempenho melhor.
2. Lula, por sua vez, pré-candidato que já disse torcer para que a Globo tenha um candidato para carimbar-lhe a marca da emissora na testa, tem a menor taxa de desaprovação (56%) entre os políticos citados na pesquisa, e a maior taxa de aprovação (43%). Detalhe: Lula apanha todos os dias de todos os jornais, revistas e emissoras da imprensa comercial.
3. A forma de atuar no país do juiz Sérgio Moro é desaprovada por 45% dos entrevistados da Ipsos e aprovada por 50%. Detalhe: mesmo sendo elogiado e protegido todos os dias por todos os jornais, revistas e emissoras da imprensa comercial, Moro está longe de ser unanimidade e seus métodos dividem o país.
4. O banqueiro Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, candidato preferencial da Globo desde os primeiros dias após a saída de Dilma, tido como “homem responsável pela delirante recuperação da economia”, aparece com elevada taxa de reprovação, 70% rejeitam sua forma de atuar. Detalhe: todos os dias, a maioria da chamada grande mídia, tenta descolar Meirelles do governo de corruptos instalado com o governo Temer.
5. O jeito Geraldo Alckmin (PSDB) de ser não fica muito atrás, com 67% de desaprovação. Detalhe: o governador do estado mais rico do país, governado pelas mesmas forças políticas desde 1983 e pelo mesmo partido desde 1995, é blindado todos os dias pelo Legislativo, pelo Judiciário e por todos os jornais, revistas e emissoras da imprensa comercial.
6. A segunda menor taxa de rejeição (56%), empatada com a de Lula, é de Marina Silva (Rede). Ainda assim, sua taxa de aceitação (35%) fica bem atrás. Detalhe: a mesma mídia nacional isolou Marina, principalmente depois do impeachment. Ainda trabalham na desconstrução da imagem de Marina que é ameça aos interesses dos poderosos.
7. O presidenciável mais atuante nas redes sociais, Jair Bolsonaro (PSC-RJ), tem 60% de reprovação e 24% de aprovação. Detalhe: sinal de que robôs e pessoas remuneradas para agir nas redes sociais ainda não respondem a pesquisas de opinião. Sem esquecer de que os métodos e postura do candidato, desagradam e provoca temor em uma ampla parcela da sociedade.
8. A menor taxa de aprovação (19%) é a do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), o mais exibicionista e marqueteiro dos políticos citados. Detalhe: João Doria ainda acredita que não é político, é gestor, e já está sendo forçado pelos jornais, revistas e emissoras da imprensa comercial a governar a cidade de São Paulo, algo que ainda não conseguiu em sua carreira de sucesso.
9. A “colunista” Eliane Cantanhêde, aquela que chama frequentadores de eventos do PSDB de “massa cheirosa” e que ri com intimidade ao se encontrar com Temer, diz a seus leitores que “Huck vira o novo com Doria fora”. Detalhe: embora a questão da sondagem não seja especificamente eleitoral, ela considera a “principal conclusão” da pesquisa que a sociedade busca um “nome de centro”.
10. A “colunista” Vera Magalhães assinala a assombrosa rejeição de Temer (95%) e de Aécio (93%). E atribui a boa taxa de Huck ao fato de ele se beneficiar da rejeição aos políticos. Detalhe: todos os dias, todos os jornais, revistas e emissoras operam sistematicamente para que as pessoas rejeitem a política.
Pro fim, o articulista José Roberto de Toledo pondera que uma melhora lenta, gradual e segura da economia pode provocar uma reviravolta nas pesquisas eleitorais quando o país estiver mais próximo das eleições. Ele está certo. Ainda que o cenário econômico seja de crise, queda na renda e na qualidade dos empregos, os indicadores tendem a melhorar.
Embora bons números não sejam necessariamente sinônimo de que a vida melhorou, eles podem ajudar jornais, revistas e emissoras da imprensa comercial a criar um clima de otimismo. “Um aumento sustentável de cinco ou seis meses da confiança do consumidor teriam o potencial de diminuir o pessimismo e aumentar a esperança”, escreve Toledo. E a história, ele observa, mostra que o bolso elege e que sua memória é curta.