Um fenômeno raro e lamentável acontece nesse momento em diversas cidades do nosso sertão. A invasão de aves tipicamente silvestres, que tendo suas reservas naturais devastadas pelo homem, numa terra sem fiscalização, onde a impunidade incentiva o desmatamento diário, assoreamento, poluição e aniquilação das nascentes, destruindo os recursos naturais, em consequência, tornando impossível aos pássaros e demais animais a sobrevivência no sertão desertificado, forçando assim a migração das espécies, que na maioria das vezes, morrem pelo caminho, em busca de alimento e água.
É uma cena deslumbrante à primeira vista, observar de tão perto, bandos de periquitos, sabiá, tico-tico, rolinhas, asa branca e fogo pagou, cardeais, canários e tantas outras aves, alimentando-se dos frutos nos quintais de residências da periferia. Sendo no entanto, desesperador, termos consciência de que estes pássaros não vieram em visita espontânea e sim arriscando a própria sobrevivência, para conseguirem se alimentar e até matar a sede. Uma triste realidade, que poderá se tornar irreversível se nenhuma providência for adotada.
Vivemos no pedaço de chão, onde a fiscalização ambiental é zero. Até existem delegacias de órgãos como o IBAMA e Polícia Ambiental em Vitória da Conquista e Bom Jesus da Lapa. Porém, apesar das graves denuncias formuladas, os agentes públicos, que recebem um bom salário, pago com o dinheiro do povo, ignoram tamanha devastação.
Esta semana, nossa reportagem recebeu denuncias alarmentes sobre a instalação de novos e potentes garimpos, que fizeram subir carretas com grandes equipamentos, compressores, dragas, dentre outros, rumo a região serrana de Érico Cardoso. Também a informação de que um dos principais rios da nossa região, o Rio da Caixa, está com a sua nascente completamente seca na divisa dos municípios de Érico Cardoso e Rio de Contas. Causa principal: desmatamento ilegal e garimpagem clandestina. O mesmo fim terá o Rio Paramirim e Rio do Morro, onde um garimpo clandestino destrói toda a serra, cavando e revirando, com dragas potentes, polui e aterra as nascentes, sendo que por diversas vezes foram formuladas denúncias por este jornal e apesar de receberem o periódico, tomarem conhecimento de tão graves fatos, ninguém, nenhuma autoridade se pronunciou ou realizou qualquer movimento de ação no combate e punição dos culpados. Dura realidade. Até quando isso durará?
O fenômeno dos pássaros na cidade em busca de comida e abrigo, trata-se de um pedido de socorro da natureza que agoniza, um aviso desesperado das criaturas da floresta, sinalizando que algo muito danoso está acontecendo, para que o ser humano que por aqui vive, enquanto “sociedade civilizada” reaja enquanto há tempo. Exigindo ações enérgicas e imediatas de autoridades fiscalizadoras, sob pena de presenciarmos o extermínio dessas espécies, a destruição total das nascentes que dão vida ao nosso Vale e por fim, chegarmos a desertificação de uma região que há pouco tempo foi um dos maiores celeiros de alimentos.