Mundo desperta em luto com a notícia do falecimento de Francisco. O corpo do pontífice ficará exposto para visitação e oração dos fiéis, mas, conforme desejo manifestado pelo próprio Francisco, permanecerá dentro do caixão

O mundo se despede hoje de Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, que morreu aos 88 anos. O anúncio oficial foi feito pelo Vaticano nesta manhã e marca o fim de um dos pontificados mais emblemáticos e progressistas da história recente da Igreja Católica.

Francisco foi o 266º papa da Igreja e o primeiro nascido na América do Sul, além de ser o primeiro jesuíta a alcançar o cargo máximo da instituição. Sua morte encerra um ciclo iniciado em 13 de março de 2013, quando surpreendeu o mundo ao surgir na sacada da Basílica de São Pedro com um simples “Boa noite”, marcando o início de um pontificado pautado pela humildade, proximidade com os pobres e desejo de reforma.

Como é tradição, os ritos fúnebres tiveram início na Basílica de São Pedro. O corpo do pontífice ficará exposto para visitação e oração dos fiéis, mas, conforme desejo manifestado pelo próprio Francisco, permanecerá dentro do caixão — uma mudança em relação à prática de exibição sobre o catafalco. A missa de corpo presente será celebrada na Praça de São Pedro. Atendendo a outro pedido pessoal, o papa será sepultado na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, fugindo da tradição de ser enterrado nas criptas da Basílica de São Pedro, onde estão 91 papas.

Um pontificado marcado pela transformação
Francisco nasceu em Buenos Aires, Argentina, em 17 de dezembro de 1936. Filho de imigrantes italianos, formou-se em química antes de ingressar na Companhia de Jesus, em 1958. Ordenado sacerdote em 1969, teve uma carreira acadêmica e pastoral de destaque, até ser nomeado bispo auxiliar de Buenos Aires em 1992, arcebispo em 1998 e cardeal em 2001, pelo papa João Paulo II.

Ao escolher o nome Francisco — em homenagem a São Francisco de Assis — o pontífice indicava o caminho que pretendia seguir: uma Igreja voltada para os pobres, simples e mais próxima dos que sofrem. “Como eu gostaria de uma Igreja pobre para os pobres”, declarou dois dias após sua eleição, citando o conselho de Dom Cláudio Hummes, cardeal brasileiro e amigo próximo.

Sua recusa em habitar o Palácio Apostólico e a escolha de viver em um quarto simples na Casa Santa Marta foram os primeiros sinais de que aquele seria um papa diferente.

Saúde frágil e despedida anunciada
Os últimos anos do pontificado foram marcados por sinais de fragilidade física. Desde 2022, quando apareceu em cadeira de rodas devido a um ligamento rompido no joelho, Francisco passou por episódios recorrentes de problemas respiratórios, como bronquites e inflamações pulmonares. Em fevereiro de 2025, foi submetido a uma cirurgia considerada “complexa”.

Em abril de 2024, o próprio papa surpreendeu os fiéis ao dizer que “tudo já estava pronto” para sua morte e ordenou mudanças no ritual fúnebre, visando simplificar as cerimônias e aproximá-las de sua visão de Igreja despojada.

Um papa progressista e de diálogo
Francisco será lembrado como um papa progressista, que promoveu reformas internas e rompeu com formalismos da Igreja. Reformou a Cúria Romana, combateu privilégios clericais, incentivou a transparência financeira e ampliou o espaço de atuação de mulheres e leigos em estruturas de poder dentro do Vaticano.

Ao longo de seu pontificado, fez declarações marcantes que reverberaram em todo o mundo. Em 2023, declarou que mulheres transexuais são “filhas de Deus” e merecem ser acolhidas com dignidade. Suas falas sobre meio ambiente, justiça social e fraternidade renderam importantes documentos, como a encíclica Fratelli Tutti, publicada em 2020, no auge da pandemia de covid-19.

Foi também um líder de forte atuação simbólica. Sua imagem solitária sob chuva, rezando na Praça de São Pedro vazia durante a pandemia, tornou-se um ícone de fé, coragem e comunhão em tempos de incerteza.

Legado e memória
Francisco deixa como legado uma Igreja mais aberta ao diálogo, mais próxima das periferias sociais e geográficas, e menos concentrada nos palácios do Vaticano. Foi um papa que buscou mais escutar do que impor, que defendeu a dignidade humana acima de regras rígidas e que enfrentou, com coragem, as estruturas anacrônicas da própria instituição.

Seu pontificado ficará marcado pela tentativa sincera de fazer da Igreja Católica uma casa para todos, sem exceção. E, como ele mesmo desejava, sua memória certamente será perpetuada entre os pobres e os humildes, entre os que foram tocados pelo seu sorriso, sua firmeza e sua ternura.

“Rezem por mim”, dizia sempre. Agora, milhões em todo o mundo o fazem — em agradecimento, em saudade e em fé.