É cada dia mais inevitável o equilíbrio que indica novo embate entre Jerônimo e ACM Neto. Somados os votos da base do governo alcançaram 2,68 milhões de votos para prefeito, enquanto as seis siglas da oposição alcançaram 2,58 milhões de votos.
Ignorando a frente de Camaçari que foram pífios 2.902 votos, as eleições municipais do 1º turno na Bahia consolidaram um cenário de polarização entre os grupos liderados pelo governador Jerônimo Rodrigues (PT) e pelo ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil), indicando um novo embate entre ambos na eleição estadual de 2026. Afinal o grupo do governo obteve pouco mais de 10 mil votos a mais em toda a Bahia. Em tese, os nove partidos que formam a base aliada do governador vão controlar 309 prefeituras dentre os 417 municípios baianos, o equivalente a 73% do total. Números que não levam em conta dezenas de municípios, cujos novos prefeitos, especialmente do AVANTE e do PP não estão nada satisfeitos com Jerônimo.
Aprofundando um pouco mais a análise, o jogo se equilibra na régua da votação por partido no primeiro turno, mesmo considerando que o partido de Carletto estivesse completamente fechado com o governo. Juntos, os postulantes das legendas da base do governador tiveram 2,68 milhões de votos para prefeito no primeiro turno, enquanto as seis siglas da oposição alcançaram 2,58 milhões de votos. Os números dão um norte, mas não são estanques. Isso porque a oposição apoiou candidatos de partidos da base do governo.
Caciques dos dois grupos políticos se declararam vitoriosos e apresentaram seus trunfos após as eleições. Em privado, governistas e oposicionistas avaliam que terão uma dura caminhada para consolidar suas bases, afinar o tom do discurso e se preparar para a disputa de 2026. De um lado, o governo afirma que consolidou sua presença nas pequenas cidades do estado, quando na verdade, existem derrotas marcantes de candidatos que se sentem traídos por Jerônimo e seus aliados. Além do AVANTE, existem muitos novos prefeitos e gestores reeleitos, inclusive do PSD do senador Otto Alencar, que conquistou 115 prefeituras não tão satisfeitos com o governador.
Apesar de muito barulho do PT que no segundo turno, venceu em Camaçari (60 km de Salvador), cidade que abriga um polo industrial, tem o terceiro maior orçamento municipal do estado e é um dos berços do Partido dos Trabalhadores, tendo a vitória sido classificada pelos petistas como “um bálsamo”, sendo determinante para manter a força após derrotas na maioria das cidades médias baianas. O resultado fez o partido sair das cordas, com provocações a ACM Neto.
“O candidato derrotado [em 2022] está parecendo que já está em 2026. Eu já disse: ‘Tenha calma. Eleição de governador é em 2026, você está muito afoito’. Parece que não conseguiu deglutir a derrota para o novato Jerônimo”, afirmou o senador Jaques Wagner (PT) em entrevista à rádio Metrópole. A verdade é que todos da capital, RMS e interior, têm consciência de que a oposição conquistou 103 prefeituras, com destaque para o PP, com 44 cidades, e o União Brasil, com 38. Os adversários do governador concentraram suas forças nas cidades grandes e médias, saindo vitoriosos em 19 dos 30 maiores municípios baianos.
Maior vexame para o governo e principal vitória do grupo oposicionista, aconteceu em Salvador, onde Bruno Reis foi reeleito com 78% dos votos. O vice-governador Geraldo Júnior (MDB), que disputou a prefeitura como único nome da base do governador, foi superado por Kleber Rosa (PSOL) e amargou um terceiro lugar. A vitória elástica fortaleceu o nome de Reis, que passou a ser citado como possível candidato a governador pela oposição em 2026. Mas a tese foi refutada por ele mesmo em seu discurso da vitória, no qual ungiu ACM Neto como seu candidato.
Criticado por priorizar a capital e as maiores cidade, ACM garantiu que irá atender as cobranças dos aliados que querem uma maior presença do ex-prefeito de Salvador no interior do estado, onde poderá conquistar muitos prefeitos descontentes com o grupo do PT. Além disso, a oposição afirma que a eleição de 2026 dependerá também do cenário nacional –em 2022, a força do hoje presidente Lula (PT) foi considerada determinante para a vitória de Jerônimo.
Em 2022, ACM Neto se manteve neutro na eleição principal e foi fustigado pelos adversários, que o acusaram de favorecer Jair Bolsonaro (PL). Desta vez, há uma expectativa de que a sigla respalde eventual candidatura à Presidência do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil). Por enquanto, ACM Neto tem apostado sua estratégia nas redes sociais com seguidas críticas ao governo Jerônimo, sobretudo no campo da segurança pública. A Bahia enfrenta uma disputa entre facções criminosas que ampliou a sensação de insegurança.
O governo do estado apresenta números que apontam uma redução das mortes violentas intencionais em 2023 e projeta uma nova queda em 2024. Por outro lado, ampliou o número de mortes decorrentes de ações policiais, fazendo da Bahia líder, com folga, em óbitos causados pelas forças de segurança. No campo governista, Jerônimo deve ser candidato à reeleição em 2026, mas as demais peças do tabuleiro estão em aberto. O principal imbróglio está nas duas vagas para o Senado que estarão em jogo na próxima eleição. Decano do PT baiano e responsável por iniciar o atual ciclo de 20 anos de governos petistas no estado, Jaques Wagner já afirmou que será candidato à reeleição. A outra vaga será disputada pelo atual senador Angelo Coronel (PSD), que se apoia na força de seu partido nos municípios baianos, e pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, que não concorreu na eleição de 2022 para manter a coesão de seu grupo político.
Em julho, Rui, ex-governador do estado, sinalizou que gostaria de concorrer ao cargo. Aliados do PT, contudo, resistem a um cenário em que o partido ocupe os três principais postos da chapa majoritária. O embate tem ainda como pano de fundo o racha entre Jaques Wagner e Rui Costa, que disputam espaços dentro do PT, da base aliada e do governo Jerônimo. Aliados de ambos, contudo, descartam a possibilidade de um rompimento, cujo resultado seria a implosão da base petista na Bahia.