A notícia caiu como uma bomba na região semiárida baiana, onde o abastecimento de água é sempre um tema sensível.
O governo federal, através do Conselho do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) e com aval do Ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), avança em uma proposta polêmica: a transferência da administração de oito barragens públicas para a iniciativa privada, por meio de parceria público privada (PPP). Entre elas, estão cinco importantes reservatórios baianos — Ceraíma, Cova da Mandioca, Mirorós, Poço do Magro e Zabumbão — todas situadas na Bacia do Rio São Francisco, com destaque especial para a barragem do Zabumbão, que abastece diversos municípios do Vale do Paramirim.
A notícia caiu como uma bomba na região semiárida baiana, onde o abastecimento de água é sempre um tema sensível. Moradores, produtores rurais e representantes de entidades sociais expressaram grande preocupação e revolta com a proposta do governo, que alega que a gestão privada trará maior eficiência operacional e sustentabilidade. Entretanto, a experiência recente com outras concessões públicas, como as rodovias BR-324 e BR-116, administradas pela ViaBahia, serve de alerta: as estradas foram devolvidas ao governo com graves problemas estruturais e administrativos, após anos de tarifas abusivas e serviços precários.
A situação é ainda mais grave quando se considera que o Sistema Integrado de Abastecimento, que depende urgentemente da finalização das obras da barragem do Rio da Caixa — prevista para reforçar o fornecimento de água e dar suporte ao Zabumbão — pode sofrer impactos diretos com a mudança de gestão. A indefinição sobre responsabilidades, prazos e investimentos traz o risco real de atrasos nas obras e de mais prejuízos à população, que já enfrenta a dura realidade do baixo nível de armazenamento da barragem principal da região.
Segundo informações oficiais, a proposta foi qualificada pelo Conselho do PPI e aguarda apenas a aprovação final do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para avançar para a fase de estruturação, quando serão definidos os moldes da concessão e as responsabilidades das partes. Além das barragens baianas, também estão no pacote os reservatórios de Bico da Pedra e Estreito, em Minas Gerais, e Boacica, em Alagoas.
O governo afirma que o modelo de parceria com a iniciativa privada poderá melhorar a gestão hídrica, ampliar a segurança das estruturas e maximizar o potencial de uso das águas para abastecimento, irrigação e geração de energia. No entanto, o histórico das privatizações no Brasil recomenda cautela. Basta observar o nível de insatisfação popular com certas concessionárias privadas: pesquisas de opinião recentes apontam que, em muitos casos, a população considera que a qualidade dos serviços piorou após a entrega de ativos públicos para empresas privadas.
Para a população do Vale do Paramirim, onde a água é um recurso vital e escasso, a simples ideia de terceirizar a gestão das barragens gera incerteza e medo. A região não pode se dar ao luxo de ver suas necessidades subordinadas a interesses meramente comerciais. É fundamental que a sociedade civil se mantenha atenta, vigilante e participativa em todo o processo de concessão. É preciso fiscalizar cada passo, cobrar transparência e garantir que os interesses da população — e não apenas os do mercado — sejam respeitados.
A história recente nos ensina que a transferência de responsabilidade sobre os recursos hídricos para a iniciativa privada, sem o devido acompanhamento, pode ser desastrosa. Afinal, quem mais sofre com a escassez de água é justamente quem menos pode pagar o preço da má gestão: a população mais vulnerável.