Os índices, que levam em conta o consumo dentro e fora de casa, tiveram uma queda este ano, o que indica uma retração em comparação com o ano anterior.
O avanço da vacinação e os sinais de retomada da economia observados nos primeiros meses do ano não foram suficientes para evitar que o consumo dos brasileiros atingisse seu pior patamar desde o início de 2019, de acordo com o estudo Consumer Insights, da consultoria Kantar. O índice, que leva em conta o consumo dentro e fora de casa, teve uma queda de 6% entre abril e junho deste ano, o que indica uma retração em comparação com o ano anterior.
Embora o consumo dentro de casa — de itens como alimentos e produtos para limpeza e higiene — tenha crescido 25%, o fora de casa — de itens como refeições, água mineral, energéticos, sucos, sanduíches, bolos, chocolates e barras de cereal — caiu 36%. A combinação levou ao pior resultado da pesquisa desde que ela começou a ser realizada, no começo de 2019. O índice, que ficou positivo em torno de 4% a longo do ano passado, despencou no primeiro trimestre deste ano e ficou negativo em 5%. Agora, piorou ainda mais.
O único bom sinal veio dos jovens entre 18 e 29 anos das classes A, B e C, segmentos em que o consumo fora de casa teve um ligeiro aumento. Mas ainda está longe de ser a realidade dos brasileiros mais velhos e mais pobres. “Começamos a ver um aumento do consumo fora de casa com o progresso da imunização e a queda dos índices de contágio, mas a população com mais de 50 anos ainda se mantém isolada, e não vemos a mesma tendência de crescimento entre os jovens das classes D e E”, diz Elen Wedemann, presidente da divisão Worldpanel da Kantar, responsável pelo levantamento.
Um dos motivos estaria no desemprego, que cresce junto com a pobreza. Dados da Kantar mostram que, em 17% dos lares brasileiros, ao menos uma pessoa perdeu o emprego neste ano. Destes, 80% eram das classes C, D e E. A taxa teve uma melhora em relação ao final de 2020, quando 28% disseram que ao menos uma pessoa foi demitida no ano passado. “Há um movimento de retomada do emprego, mas ele favorece mais as classes A e B”, diz Wedemann.
Ao mesmo tempo, o auxílio emergencial encolheu e chegou a menos gente neste ano. Isso reduziu ainda mais o poder de consumo das famílias mais pobres. Em paralelo, a alta da inflação trabalha contra qualquer benefício que a tímida retomada da economia traz. “Estamos em um momento muito delicado, em que essas classes sociais começam a sofrer cada vez mais e precisam reduzir e revisar tudo que consomem dentro e fora de casa”, diz Wedemann.