Não é só o baixo contingente policial que atrai assaltantes de banco às pequenas cidades do interior da Bahia, onde, segundo dados do Sindicato dos Bancários, ocorreram 85% dos ataques a agências bancárias este ano.

Com acesso fácil por estradas de chão, muitas delas com possibilidades de ligação direta com outros estados, os bandidos buscam as cidades pequenas porque perto delas estão matas e zonas fechadas, informa a Secretaria da Segurança Pública (SSP-BA).

Foi o que ocorreu, por exemplo, logo após a explosão das agências do Bradesco e do Banco do Brasil de Macarani, no Sudoeste, no último dia 12 de fevereiro: parte dos bandidos foi se esconder em uma fazenda em Itapetinga, cidade vizinha.

Depois de localizar três bandidos na fazenda com o auxílio de um drone, a Polícia Civil descobriu que era o gerente da propriedade rural que estava dando cobertura aos criminosos e os informou também sobre rotas de fuga, caso a polícia aparecesse.

Na fazenda, os bandidos esperavam “a poeira baixar” para fugir, mas acabaram presos 48 horas após o crime. Rogério Oliveira Gomes, vaqueiro e gerente da fazenda, Bismark Silva Rocha (olheiro) e Joilson Belmiro dos Santos foram presos com R$ 16 mil em espécie e armas.

Segundo o delegado Antonio Roberto Júnior, coordenador da 21ª Coordenadoria de Polícia do Interior (Corpin), Joilson Belmiro é um traficante local e foi quem contratou os demais integrantes da quadrilha para executar o crime.

“Há outros integrantes que são de outros estados e estamos na busca dos mesmos. Todos já foram identificados”, afirmou o delegado, segundo o qual os presos logo após o crime já foram condenados e pegaram entre 10 e 17 anos de prisão.

Ainda de acordo com Antonio Roberto Júnior, o objetivo da quadrilha ao cometer o crime era financiar o tráfico de drogas e a compra de armas, uma tática que vem sendo cada vez mais usada e aperfeiçoada por facções criminosas em todo o Brasil.

Investimentos
Para fazer frente às ações criminosas das facções e outros grupos criminosos, os bancos investem R$ 9 bilhões por ano em segurança, segundo informações da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban).

O investimento corresponde a pouco mais da metade do lucro de R$ 17,4 bilhões que os quatro maiores bancos do Brasil – Itaú, Bradesco, Banco do Brasil e Santander – tiveram somente no terceiro trimestre do ano, informa o Sindicado dos Bancários.

A Fabraban, no entanto, destaca que o investimento atual é “o triplo do que era investido dez anos atrás em sistemas e equipamentos de segurança”.

“Ao longo de mais de uma década, as instituições financeiras adotaram uma série de medidas preventivas: instalaram cofres com dispositivo de tempo, circuitos fechados de televisão, sistemas de detecção e de monitoramento, alarme etc”, diz.

Além disso, informa a Febraban, “são investidos recursos em tecnologia para realização de operações de forma rápida e segura por meio dos canais digitais”, o que reduz a necessidade de dinheiro nas agências bancárias.

Nos locais, as instituições financeiras são obrigadas a colocar, no mínimo, dois vigilantes. A quantia de pessoas na segurança não segue um padrão por tamanho de agência, depende de vários fatores, sendo um dos principais a localização.

Ano a ano, contudo, o plano de segurança dos bancos precisa ser revisto e aprovado pela Polícia Federal. No Brasil, segundo a Febraban, há 65 mil vigilantes em 23 mil agências bancárias, o que dá média de três profissionais por unidade.

Blindados
Presidente do Sindivigilantes (sindicato da categoria) na Bahia, José Boaventura diz que os bancos precisam investir mais em equipamentos que possam fazer com que os bandidos se sintam menos poderosos quando forem atacar uma agência bancária.

“Lutamos há muito tempo, por exemplo, para que eles coloquem vidros blindados, mas não fazem esse investimento. Tem agências que se parecem mais com fachadas de boutiques”, criticou.

“Pensamos que armas não são as principais formas de se defender o patrimônio. Não acho, por exemplo, que o vigilante de um banco deva portar um fuzil, pois isso poderia ocasionar uma carnificina num banco, em caso de um assalto”, comentou Boaventura.

Os fuzis e outros armamentos mais pesados, acrescenta o sindicalista, deveriam ser mais usados por vigilantes que trabalham em empresas de transporte de valores, que são quem mais guardam dinheiro hoje em dia.

O ataque sofrido pela empresa Prosegur, em 6 de março deste ano, em Eunápolis, ilustra essa necessidade apontada por José Boaventura. No crime, durante a madrugada, o vigilante noturno que estava na guarita foi a única vítima fatal.

Segundo a Polícia Federal, o crime foi organizado por um consórcio das facções criminosas Mercado do Povo Atitude (MPA), que tem base na vizinha Porto Seguro, e Primeiro Comando da Capital (PCC) – cerca de 40 bandidos participaram da ação.

O CORREIO tentou contato com o Sindiforte da Bahia, sindicato que representa os seguranças que trabalham em empresas de transporte de valores, mas ninguém atendeu às chamadas feitas ao telefone na entidade.

A SSP-BA informou que pelo terceiro ano consecutivo os roubos a banco apresentam queda na Bahia. Entre janeiro e outubro de 2018, comparando com o mesmo período do ano passado, a diminuição ficou em 31%.

Entre os casos consumados (quando tem subtração de quantia) e tentados (sem roubo de numerário), foram contabilizados 55 registros, quando em 2017 ocorreram 80 investidas criminosas, informa a SSP-BA.

“No mesmo período de 2018, as ações policiais desarticularam 14 quadrilhas. Foram 103 assaltantes presos e 26 mortos em confronto”, afirma a secretaria, que realiza o combate de forma integrada com a PF e polícias dos outros estados.

“Em uma das operações deste ano, uma organização criminosa, com atuações em estados nordestinos, terminou desarticulada, na cidade pernambucana de Salgueiro”, lembra a SSP-BA.