Suspeita de ser a mentora do crime do brigadeirão envenenado, Suyany Breschak se apresenta nas redes como Cigana Esmeralda.
Imagem: Reprodução/Redes Sociais.
Apontada pela polícia como a possível mandante do assassinato do empresário Luiz Marcelo Antônio Ormond, no Rio de Janeiro, a cigana Suyany Breschak havia sido acusada em 2023 de furtar o veículo de um ex-namorado, com o qual ela desfez o relacionamento. Conhecida nas redes sociais como Cigana Esmeralda, Suyany possui mais de 500 mil seguidores em perfis no Instagram e TitTok. Em seus vídeos, ela ensina simpatias, realiza leituras de tarô e cartas e oferece seus serviços de “amarração”.
Em agosto de 2023, Suyany publicou um vídeo no seu perfil no TikTok, onde conta que estava sendo acusada de furtar um veículo, pertencente a um homem chamado Orlando, seu ex-namorado. No post, ela se explica dizendo que tem as chaves do carro e que os documentos estão em seu nome. Em um vídeo posterior, ela pede socorro aos seguidores, dizendo-se perseguida não só pelo homem, mas também pela família dele. Em um terceiro vídeo publicado em seu perfil, ela mostra um boletim de ocorrência registrado no dia 26 de agosto de 2023 pelo homem, chamado Orlando Ianoviche Neto, no 27° DP do Rio de Janeiro, e reproduz uma série de vídeos em que ele a acusa de ter furtado o carro, uma camionete.
Em contrapartida, há seis dias o Cigano Orlando, como é conhecido, relatou ter sido vítima de roubo e sequestro por parte da ex-namorada. Ele publicou em seu perfil, após a prisão de Suyany, um post em que diz: “Minha ex foi presa por homicídio”. No vídeo que acompanha a postagem, o homem, que também lê cartas e conta com mais de 180 mil seguidores, afirma que foi salvo por um “livramento”, sugerindo que, se não tivesse se separado dela, poderia ter sido vítima do “brigadeiro envenenado”.
Suyany foi presa no dia 29 de maio em Cabo Frio, na Região dos Lagos (RJ) por suspeita de ajudar a namorada do empresário, a psicóloga Júlia Andrade Cathermol Pimenta, presa temporariamente desde a noite de terça-feira (4), a vender bens de Osmond. A polícia apura se ele foi morto com um brigadeirão envenenado por Júlia e se a cigana teria sido mentora da trama mortal.
Segundo a polícia, Suyany tinha se apossado de um veículo do empresário morto, como parte de pagamento de uma dívida de R$ 600 mil que Júlia devia a Suyany, por serviços espirituais prestados a ela. Em depoimento à polícia, a cigana relatou que recebeu o carro da vítima para abater parte da dívida. Ela também deu detalhes sobre a forma como a psicóloga usou o medicamento para envenenar o brigadeirão. A defesa de Suyany negou envolvimento no crime.
A irmã de Suyany, Daniele Ivanovich, fez uma série de postagens em seu perfil no Facebook, alegando que conseguirá comprovar a inocência da irmã. Ela diz que a cliente dela, a psicóloga Júlia Andrade Cathermol Pimenta, seria a verdadeira responsável pela morte do empresário.
Em um vídeo, onde ela se comunica com a comunidade cigana na língua romani, ela chega a chorar ao contar a história. Ao responder um seguidor, nos comentários, ela explica: “Vê as matérias, minha irmã foi presa e ela é inocente. Ela não matou ninguém, quem matou foi Júlia”. Depois, complementa: “Quem morreu foi um empresário que uma cliente prostituta matou para tirar o dinheiro dele e pagar para Suyane, e a Júlia é culpada”.
A Cigana Esmeralda é presente massivamente nas redes. Seus vídeos, em plataformas como Kwai, TikTok e YouTube somam milhões de visualizações. Seus trabalhos de magia incluem amarrações amorosas, simpatias para ganhar dinheiro e até trabalhos mais pesados, para deixar homens “brochas”.
Desde que foi presa como suspeita de participar do homicídio do empresário, os comentários agressivos em suas postagens foram substituindo os elogiosos. “Você vai apodrecer na cadeia”, escreve uma internauta. “Você é atriz, uma mentirosa. Exu vai cobrar de você”, escreve outra, nos comentários de um vídeo onde Suyany mostra um trabalho feito para a entidade.
Ouvida pelo UOL, uma cliente de Suyany, que pediu para não ser identificada, diz que chegou a pagar R$ 5 mil para a “Cigana Esmeralda” fazer um trabalho de amarração. Ela havia sido deixada pelo namorado em 2022 e, no ano passado, procurou os serviços da cigana. “Ela me prometeu que ele voltaria para mim em 90 dias. Não demorou 30, 40, e ele já estava de volta. Funcionou”, comentou a cliente, que pediu para não ser identificada. “Ela é muito boa, não sei como ela pode ter se envolvido com esse crime”.
Apesar da associação simplista com magia e excentricidade — como no caso de Suyany Breschak, o povo cigano tem uma história de perseguição e preconceito, que vai além dos estereotipos propagados. Segundo a Comissão Arns, em 2021, estima-se que cerca de 800 mil ciganos de três ramificações étnicas distintas vivam no Brasil, os Kalon, os Rom e os Sinti. Mais conhecidos por serem povos nômades, vivem em acampamentos provisórios, mas também é comum que fixem seus acampamentos ou tenham domicílio permanente nos bairros das cidades.
A única estatística oficial existente sobre eles é da Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic) do IBGE, que apresenta informações sobre seus acampamentos. Na de 2014, foram identificados acampamentos desses grupos em 337 municípios do país (73 em áreas públicas destinadas para esse fim). Desses, a maioria estaria localizada no litoral das regiões Sul, Sudeste e Nordeste, destacando-se o estado da Bahia.