Triste constatar a mortandade de gado e outros animais com sede. Fenômeno que deve durar pelo menos até 20 de dezembro, causa prejuízos incalculáveis e um cenário de devastação no sertão.
Apesar de algumas previsões de chuvas indicadas para terça e quarta-feira desta semana, o volume deve ser insuficiente para amenizar o sofrimento de produtores, comerciantes e de toda a população de diversas cidades do sudoeste baiano, inclusive no Vale do Paramirim e Sertão Produtivo. É triste reviver um cenário de devastação e mortes de animais com sede. Em Oliveira dos Brejinhos, carcaças de animais já são vistas às margens da rodovia, também em Caetité, Igaporã e muitos outros municípios da nossa região padecem com seca prolongada que segundo especialistas, já é uma das maiores já registradas nas últimas décadas. O fenômeno vem causando vários prejuízos para os produtores rurais. A situação se agrava a cada dia, pela falta de água e consequente escassez de alimento.
A ausência das chuvas nesse período que é tradicionalmente chuvoso já fez com que os criadores esgotassem todo pasto, e com a crise, o comércio bovino está desvalorizado, uma grande parte dos pecuaristas, principalmente o pequeno produtor, já não tem como comprar ração, e está sendo obrigado a ver seus animais caindo e morrendo de fome na propriedade. Existem casos de produtores que estão inclusive doando parte do rebanho, para não ver padecerem no campo esturricado. Praticamente todos os municípios decretaram situação de emergência por causa da estiagem, diversas ações de apoio aos produtores estão sendo executadas pelas prefeituras. No entanto, a seca inclemente continua provocando mortes de animais e muita preocupação na região.
As previsões indicam chuvas razoáveis apenas a partir do dia 20 de dezembro, mesmo assim, por um período máximo de cinco dias, o que significa que a situação ainda pode se agravar se o novo ano não trouxer consigo boas precipitações. Nossa reportagem que circula em média 2.500km por semana nas peregrinações de reportagens e pesquisas, constata com amargura o aumento de carcaças de animais, pastos desertos e rebanhos fragilizados nos currais, a espera de alguma ração, cada vez mais escassa, uma vez que as reservas de palmas e outros alimentos também estão se esgotando nas propriedades. Há relatos de que diante do período devastador para o homem do campo, já existem grupos de fiéis fazendo novenas e orações pedindo chuvas do céu. De acordo com o pecuarista Antônio Lajes, um outro fator agravante é que eles tiveram também problemas com pragas. “Tive problemas com lagartas e cigarrinhas, com a irregularidade das chuvas, fica prejudicado o crescimento adequado das pastagens. Mesmo com a pouca chuva que caiu, você perde esse pico de crescimento, você vai ter dificuldade na recuperação dessas pastagens e as pragas atacam os brotos, basta chover um pouco, a cobertura de solo vai estar desprotegida então vai ser um ano de pouco pasto e muitas pragas”, disse.
A irregularidade das chuvas destrói pastagens e ainda pode comprometer a reposição de abates e fornecimento de carnes no próximo ano. O normal é que em novembro e dezembro caiam as chuvas, mas até o momento, com raras exceções, ela não veio, ou veio de forma insuficiente. Para tentar suprir a baixa oferta de pasto e evitar novas perdas, os criadores recorrem à compra de caroço de algodão, palmas e o feno. O suplemento no cocho, no entanto, não é o suficiente para manter o desempenho do rebanho. O sentimento é de impotência, pois os criadores já lançaram mão de tudo o que possuíam como recursos. Tudo isso reflete também no preço, com muita oferta e pouca demanda, também não há possibilidade de negociar gado magro para o abate. Uma situação gravíssima que há muito tempo não se via pela região. Vale reforçar a necessidade de contingenciamento dos reservatórios e de resto, é rogar ao criador que mande chuva para o nosso sertão sofredor.