Técnicos atestam ser impossível abastecer cerca de 173.677 habitantes, sem o reforço da Barragem em Rio do Pires. Autoridades e moradores concordam que pular etapas pode provocar o desabastecimento geral.
O jornal Eco, assim que tomou conhecimento através do Diário Oficial do Estado de que o Governador Rui Costa já licitou as obras da adutora Zabumbão/Boquira, tendo inclusive anunciado a empresa vencedora da licitação e a assinatura do contrato para os próximos dias, colocou a sua reportagem em campo, a fim de apurar os efeitos de tal ato, que inicialmente visa o bem comum, levar água para quem dela necessita. Ocorre que, somente essa barragem é insuficiente para abastecer todos os municípios da calha do Rio Paramirim. Nos surpreendemos com as mudanças no cronograma oficial, discutido previamente com os diversos segmentos da sociedade. A Bacia do Paramirim abrange, segundo dados da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), nove cidades, que hoje integram 158 mil habitantes e 9,6 mil km² de extensão.
Conhecedores da realidade regional, testemunhando há décadas todo o sofrimento das comunidades no que tange à escassez de água, diferentemente de algumas figurinhas estúpidas que há tempos se beneficiam com essa demanda, através de manobras escusas já conhecidas e ainda posam de “salvadores da água”, buscamos cumprir com a nossa função de informar aos cidadãos a verdade dos fatos, para ajudá-los a compreender os complicados processos que envolvem as ações do governo sobre essa obra já apelidada de “Adutora da Discórdia”. Não basta apenas afirmarmos que em respeito a quem tem sede, somos completamente favoráveis que se leve água de qualidade a todos os cidadãos do Vale, mas, também é nosso dever, conscientizar as pessoas de como as decisões tomadas nos níveis mais altos as afetarão. A viabilidade correta dessa obra tem sinergia com ao menos seis dos objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, entre eles, “Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos” (ODS 6).
A imprensa séria tem um importante papel de supervisão e a obrigação de expor os problemas. Seríamos hipócritas se omitíssemos que é justa e necessária a interligação do sistema de abastecimento, para que cada cidadão receba com dignidade a água, bem essencial para a vida, assim como seríamos irresponsáveis se obscurecêssemos que os recentes atos, supostamente eleitoreiros do Governo da Bahia, são irresponsáveis ao ponto de não convencerem sequer as pessoas das cidades que seriam beneficiadas. Não é necessário nos aprofundar tecnicamente para constatarmos que, levar água somente da Barragem do Zabumbão para vários municípios da região, a fim de beneficiar uma população por eles estimada em 100.056 habitantes com o reservatório estagnado em cerca de 50% de sua capacidade e descendo, é inviável e traz sérios riscos de desabastecimento geral em pouco tempo sem as chuvas regulares. Independentemente das definições quanto à gestão de uso da água, a construção da Barragem do Rio da Caixa representa uma esperança por dias melhores às famílias que vivem na região da Bacia do Paramirim, historicamente assoladas pela falta do recurso hídrico.
Apesar de termos quase certeza de que tais obras ainda não serão iniciadas este ano, até que estejam alinhadas com a construção da Barragem do Rio do Caixa, que está localizada abaixo da Barragem do Zabumbão, O Eco defende o início imediato do reservatório que terá volume de acumulação previsto de 30 milhões de metros cúbicos de água e, aí sim, reforçará o abastecimento na Bacia do Paramirim, com o tão falado sistema integrado. Nossa reportagem ouviu recentemente o ex-prefeito de Rio do Pires, Gildásio Antônio dos Santos, que foi enfático ao afirmar ser “a futura barragem capaz de solucionar essas demandas, pois terá uma vazão regularizada semelhante à da Barragem do Zabumbão, dobrando a disponibilidade de água em todo o Território da Bacia do Paramirim, tão castigado por prolongada estiagem”.
Consideramos como naturais as manifestações, promovidas por parte da comunidade, políticos e grandes proprietários que, por sinal, irrigam suas terras de forma irregular, em flagrante desrespeito às normas legais para tais atividades, utilizando regos arcaicos por inundação, ao invés de tubulações por gotejamento (outra promessa não cumprida pelo Governador). Fato é que o Sistema Integrado de Abastecimento (SIA) é uma tendência irreversível, pois a prioridade sempre foi e continuará sendo o abastecimento humano e dessedentação animal. A questão do momento, é que o Governador falhou, tenta pular etapas para desviar-se do que prometeu. Ele falou de público e também em entrevista à nossa reportagem, que as obras seriam iniciadas e finalizadas ao mesmo tempo, sendo enfático ao nominar de “Sistema Integrado de Abastecimento”. O interesse das autoridades, técnicos da área e até moradores das mais diversas cidades a serem beneficiadas é a segurança hídrica e não colocação de canos que dentro em breve podem secar.
Para que se iniciasse da forma correta, como foi previamente acertado, um sinal de boa vontade do Governador, que certamente iria encher de esperança todos da Bacia do Paramirim, seria a inversão das prioridades, ou seja, utilizar os valores destinados à adutora R$ 186.456.980,57 (cento e oitenta e seis milhões, quatrocentos e cinquenta e seis mil, novecentos e oitenta reais e cinquenta e sete centavos), para dar início às obras da Barragem do Rio da Caixa, que desde o ano de 2017 possui estudos finalizados sobre a construção. Dados divulgados pela SIHS, que indicam “vazão com 100% de garantia e volumes de armazenamento com a mesma magnitude do Zabumbão”, segundo o Diretor de Projetos Estratégicos e Obras Hídricas, à época, Dr. Oscar Harth. Aqui fica evidente que a desconfiança da população tem sentido, pois, com a adutora pronta e escoando água, pelo menos até surgirem graves disputas em decorrência da escassez, temem que o governo não falará mais em construção da Barragem do Rio da Caixa.
Vale registrar, mais uma vez, que diferentemente do que imaginam os privilegiados proprietários e “falsos protetores do Zabumbão”, a obra projetada, se realizada dentro dos parâmetros definidos inicialmente (Incluindo a Barragem do Rio da Caixa), será fundamental para garantir o abastecimento humano de aproximadamente 174 mil habitantes que residem em Paramirim, Caturama, Tanque Novo, Botuporã, Rio do Pires, Ibipitanga, Macaúbas, Boquira e ainda uma região do Baixio em Ibitiara. Podendo inclusive permitir a implantação de hectares irrigados, sem o risco do desabastecimento, criando novos empregos e gerando renda em todo o território da Bacia do Paramirim. Acreditamos que esse é o momento para refletirmos sobre um tema tão polêmico, exigindo ações corretas, para evitar catástrofes amanhã. Afinal, todos os maiores especialistas em recursos hídricos são unânimes em afirmarem que “a escassez de água no futuro poderá aumentar os riscos de conflitos no mundo,” imaginem mais de 150 mil pessoas dependendo de uma única fonte debilitada.
Por fim, não há o que se discutir que esse é um projeto muito importante e esperado pela população do Território da Bacia do Paramirim. “É um sonho nosso aqui de toda região. Desde criança eu ouço sobre a possibilidade de ter uma barragem aqui”, relembra produtor rural Reginaldo Pereira Carvalho, 42 anos, no povoado de Varzinha, em Rio do Pires. Ele vive da agricultura familiar e sofre com a escassez de água na região. “Nos meses mais críticos (maio, junho e julho), temos grandes dificuldades de acesso à água, daí a importância de termos reservatórios, ou essa água vai toda embora. Essa barragem seria muito útil”, afirma o agricultor. A garantia de segurança hídrica para a região da Bacia do Paramirim, passa obrigatoriamente pela futura Barragem do Rio da Caixa, que deve ser construída em Rio do Pires. Assim como a Adutora, o processo licitatório da barragem também foi finalizado há algum tempo e pode ser renovado, possibilitando o próximo passo, a assinatura do contrato com a empresa vencedora para o início das obras.