A situação crítica nunca antes registrada na história, preocupa toda a população dos diversos municípios que dependem direta e indiretamente da barragem do Zabumbão. Desde a sua construção, essa é a primeira vez que o reservatório atinge nível tão crítico. O que antes eram quilômetros de lago, água potável, calma e cristalina, hoje se resume a poças isoladas de água com evidentes sinais de poluição. Nas fotos e vídeo, percebe-se a dimensão da degradação e recuo inédito do espelho d’água, que em alguns pontos, já mostra o antigo leito natural do Rio Paramirim.
Nossa equipe de reportagem sempre preocupada com o total abandono, degradação das nascentes, poluição de garimpos, pedreiras, invasão das áreas de preservação, acúmulo de dejetos, desmatamento, enfim todo tipo de ataques sofridos pelo lago e a bacia, colecionou ao longo dos anos, dezenas de artigos, denúncias e alertas formulados pelos nossos profissionais e também por especialistas, ambientalistas e outros colunistas, na batalha em defesa dos nossos recursos hídricos. Infelizmente, os maus estão vencendo e nossa região inaugura um período crítico na história, ou se faz algo concreto, ou corremos sério risco de desabastecimento.
Refém dos interesses gananciosos de “agricultores comerciais”, grandes latifundiários, contando com total apoio do comitê de Bacias que inclusive solicita e intermedia concessões de outorgas d’água de forma descontrolada, proliferando-se bombeamento para diversas propriedades, inclusive na região mais elevada nas margens da rodovia 156, inviabilizando o curso natural do leito, cuja água não consegue chegar ao vizinho município de Caturama. Outorgas se proliferam, sugando água do Zabumbão de forma desordenada e insustentável. “É bonito de se ver o verde das plantações, do capim, o boi gordo dos fazendeiros, no entanto, o preço da utilização desenfreada, será o esvaziamento total da Barragem do Zabumbão.
Como se não bastasse os derramamentos em regos arcaicos, sistema de rega por inundação promovido pelos “produtores rurais”, o abandono total, degradação do lago e das nascentes, incluindo os rios da Barra e Rio do Morro do Fogo que já interromperam seus cursos, deixando de abastecer o Zabumbão, quantidade considerável da água potável ainda é desviada por mero capricho de um gestor insano, que insiste em derrama-la na lagoa poluída da cidade. Justamente o poder público municipal de Paramirim, que deveria zelar pela preservação, lutar pela recuperação, interferir nesse obscuro e galopante processo de concessão de outorgas, ignora a situação e ajuda a esvaziar o reservatório. Mesmo sabendo que rios estão morrendo, comunidades do município e de todo o Vale já sofrem com a escassez de água, conflitos que podem se tornar mais constantes e até violentos, nada se observa de concreto no sentido de evitar o sofrimento com a falta d’água.
Os órgãos fiscalizadores como a ANA, IBAMA e a empresa responsável pela manutenção e preservação a CODEVASF, já perceberam há uns anos o tamanho do problema e mesmo assim, parecem ignorar. Atitudes como a liberação de vazão, que nem de longe atingiu os objetivos anunciados, provocaram efeitos contrários ao trabalho de conscientização e proteção que a população esperava. Hoje, diante de um quadro caótico, com previsões nada animadoras de chuvas para a região, avalia-se que mudanças de atitude e ações imediatas, são as únicas ferramentas capazes de reverterem um eventual colapso no sistema hídrico da região. Além da sua importância no fornecimento de água e no equilíbrio da biodiversidade local, a região possui grande potencial turístico e econômico, mas nem mesmo isso tem livrado a barragem do Zabumbão e toda bacia da degradação. Um de seus cartões postais, o balneário do Rio Paramirim, localizado na sede do município, também enfrenta problemas com o desequilíbrio das águas, podendo inclusive sofrer interrupções se persistir a escassez.
Quanto à região produtora, somente uma revisão geral de todas as outorgas, regulamentação da irrigação, com implantação de tecnologia, estudos para determinar as reais necessidades, levando em conta a capacidade do reservatório, podem ser capazes de legalizar a área irrigada. Do contrário, será uma questão de tempo o colapso das plantações, como ocorreu em Livramento. “Dizem na televisão que o agro é tudo, mas não é, a água é tudo. Ninguém vive sem água”. Comungando dessa ideia e preocupados com a situação de equilíbrio na região, conclamamos autoridades, ativistas, órgãos e a população, para uma campanha de conscientização sobre a necessidade de ações imediatas de preservação das águas do Zabumbão e de todo o Vale. É necessária e urgente a discussão para visibilizar a situação crítica das águas da Bacia do Zabumbão, precisamos mobilizar a sociedade regional para salvar esse patrimônio natural, bem como o mais fundamental de nossos recursos, a água.