Novamente o egoísmo de alguns, aliado à total descaso de órgãos fiscalizadores e principalmente a falta de consciência ambiental, provocam danos quase que irreparáveis à Barragem do Zabumbão e consequentemente, preocupações e temor a milhares de famílias do Vale do Paramirim, que dependem desses recursos hídricos. Ressalta-se inicialmente que, o reservatório em questão, foi construído pelo Governo Federal com os objetivos prioritários de abastecimento humano e dessedentação animal. Com capacidade para armazenar 74 milhões de metros cúbicos, o lago está hoje, quase no seu nível de alerta.

A sociedade regional tem acompanhado há anos, diversas reportagens sobre esse tema polêmico. Os descasos, a falta de fiscalização, decisões totalmente equivocadas de “entendidos” que além de provocarem desastres, complicou a situação do lago. O leitor acompanhou notícias que dão conta da existência de contaminação de rios e nascentes, a presença de garimpos clandestinos que seguem operando livremente, descarga in natura de esgotos domésticos, invasões das áreas de proteção para criação de gado e a famigerada disputa pela água protagonizada por proprietários que se imaginam no tempo dos coronéis. Esses são os principais responsáveis pelo desperdício com um sistema arcaico de irrigação.

VEJA EM VIDEO A ATUAL SITUAÇÃO:

Após a catástrofe ocorrida no mês passado, que praticamente destruiu todo o balneário turístico da cidade de Paramirim, fato que repercutiu em todo o estado através dos maiores veículos de comunicação, dando conta de evidentes falhas na operação da comporta ao liberar equivocadamente, de forma descontrolada mais de um milhão de metro cúbico de água, causando uma inundação que arrastou tudo rio abaixo sob o pretexto de atender comunidades ribeirinhas, a preocupação das comunidades se acentuou. Tanto pelo despreparo de quem deveria ter capacidade para gerir, como pela elevada vazão que contribuiu para a atual situação e risco de colapso no abastecimento dos municípios de Paramirim, Caturama, Tanque Novo e Botuporã, além de diversas comunidades dos municípios circunvizinhos que são atendidas pelo programa de carros pipas coordenado pelo exército brasileiro.

Mesmo diante de uma situação delicada, que clama por ações firmes e eficazes, é comum se observar personalidades, fazendeiros, garimpeiros e até políticos, zombarem das denúncias apresentadas. Tal qual os coronéis do passado, batem no peito e bradam “a água é nossa, temos o direito de fazer com ela o que bem entendermos”. Uma lastimável realidade, pois estão realmente fazendo o querem e ninguém se levanta para impedir tamanha degradação. Não se observa ações do Ministério Público Ambiental no intuito de inibir os garimpos clandestinos que atacam as nascentes, soterrando e poluindo, as derrubadas de matas ciliares, invasões de terrenos dentro das áreas de preservação, expõem a ausência e fragilidade do IBAMA. Também a ANA – Agência Nacional de Águas, a CODEVASF que deveriam gerir com severidade, delegam poderes a leigos que por sua vez, insistem em esvaziar a barragem.

Nossa reportagem esteve mais uma vez checando parte do percurso das águas, desde as nascentes no Morro do Fogo (onde garimpos de ouro operam), passando pela cidade de Érico Cardoso, visitamos o famoso Poção de Água Quente, uma das únicas fontes ainda preservada. Constatamos através de vídeos e fotos aéreas, que a poluição do rio é um desafio a ser vencido. Por se tratar de uma obra que envolve quantias elevadas de recursos, seria impossível para o município arcar com o sistema de esgotamento. Daí a presença do estado será crucial para uma despoluição do leito naquela região. Já no início do lago da barragem, observa-se as invasões de terras da APA, criações de gado e até a presença de outros animais nas margens.

Além do alto nível de poluição acumulado no fundo da barragem, lodo podre de odor insuportável que ficou explícito quando aconteceu a desastrosa descarga d’água, o leito do rio que continua imediatamente após a parede de contenção, encontra-se assoreado, e repleto de bombas e motores que sugam a água para irrigar capim para gado. No trecho percorrido pela reportagem, desde o Morro do Fogo, atravessando todo território de Paramirim até a cidade de Caturama, apenas duas comunidades, Cachoeirinha e São João, produzem alimentos através da agricultura familiar. Em todo o restante do percurso, apenas extração de minerais, assoreamento e motores que captam a água para outros fins. Registra-se que exatamente na sede de Caturama, não mais existe água corrente no leito, ou seja, mesmo com as descargas provocadas, tudo é sugado ou desviado antes de chegar em Caturama.

É fato que a seca é um fenômeno inevitável, um problema climático que ocorre na nossa região frequentemente. Exatamente por estarmos localizados em uma região de pouca chuva. De acordo com nossas pesquisas, a Barragem do Zabumbão foi construída para combater esse fenômeno ecológico, que prejudica milhares de famílias, gerando um grave problema social e político. O Zabumbão representa a segurança hídrica para o Vale do Paramirim, idealizada para solucionar um drama, a falta d’água que tira também o sono do nordestino. Ao denunciarmos a situação de risco de toda a bacia, alertamos para um evidente colapso no abastecimento, caso persista tal situação de abandono, descaso e insensibilidade de pessoas, autoridades e órgãos fiscalizadores. O discurso demagogo, reuniões elitistas, intelectualóides posando como salvadores. Tudo isso em nada contribui com a causa pela revitalização. Expõe as atitudes e ações supérfluas de gente que gosta de aparecer. O caso Zabumbão pode se transformar dentro em breve, em uma tragédia de proporções gigantescas e catastróficas, com o esvaziamento total de um reservatório que até os dias atuais, ainda representa a redenção desse Vale.

Enquanto existir a inércia dos organismos fiscalizadores, avançam as queimadas, derrubadas, desperdícios, poluições, assoreamento. “O sertanejo, herói que vive e passa pela secura da terra, que como os galhos da vegetação do semiárido, se contorce ao ver a terra esturricada, o rebento chorando de fome, o boi morrendo, o cachorro magro agonizando por falta do que comer, mas firme permanece, como se fora rocha. Homem de crença inabalável, de uma fé comovente, ajoelha-se, ergue as mãos para o céu e implora a Deus, por intermédio de São José, para a chuva cair. Inevitável comoção – sertanejo é mesmo um forte”.

Pensando nisso, devemos invocar os mais puros sentimentos de humanidade que residem dentro de cada um, é fundamental que nos dispamos de egoísmos políticos, conscientes de que esse nosso problema tem solução e tudo depende de um pensamento coletivo, sentimento de amor ao próximo e acima de tudo, nos conscientizarmos de que essa não é uma causa local, devemos nos colocar abertos ao sofrimento dos nossos irmãos a nível regional. Compartilhar e combater causas e consequências, pensando no macro. Somente ações determinadas, atitudes abnegadas, serão capazes de recuperar nascentes, proteger o meio ambiente e recursos hídricos, despoluir e ressuscitar as nossas nascentes que dão vida e alimentam todo o Vale.

Quanto aos “Coronéis” proprietários de latifúndios ribeirinhos, esses se esbaldam em cima da miséria alheia, enriquecem protelando a busca de soluções dos problemas hídricos e sociais, para estes, pouco importa as preocupações com o rio, se acham superiores, riem da angústia das famílias sofridas. A ganância se encarregará de sufocá-los nos casulos da insensatez, relegando-os à insignificância que merecem neste plano terrestre.