Na reta final de preparação para o Enem e para os principais vestibulares da Bahia e do país, uma das maiores expectativas entre os estudantes é quanto ao tema da redação. Cada prova tem características próprias, e é difícil dizer com precisão quais assuntos serão propostos. Ao mesmo tempo, é possível identificar alguns “estilos” de prova, o que sugere possíveis temas ou áreas de interesse que poderão ser abordadas.
No Enem, por exemplo, são comuns aparecerem problemas sociais ou que emanam de assuntos ligados ao governo e ao país, de maneira geral. A coordenadora de Português do Grupo Etapa, Simone Motta, cita ainda outros temas que são possíveis de aparecer no exame. Um deles é a superação pessoal, a capacidade do ser humano de se adaptar a situações negativas. “Exemplos de força e superação em vários níveis são assuntos que favorecem os Direitos Humanos, o que é perfil do Enem”, observa.
Outros temas que têm chance de aparecer no Exame:
Direito à cultura: em uma sociedade democrática, todos devem ter acesso à cultura.
Envelhecimento: a sociedade está aparelhada para amparar o envelhecimento da população?
Preconceitos: preconceito na publicidade, em relação a mulheres, grupos minoritários e diferenças de oportunidade. “Dentro desse tópico, um assunto interessante é o preconceito em relação aos nomes sociais. Entra aí a questão das escolhas de gênero”, explica Motta.
Novo conceito de família: a família no século XXI. Uso de bebidas na adolescência: “Esse assunto, dos adolescentes que bebem, pode virar tema porque é um problema social, uma questão a ser resolvida”, explica Motta.
Vacinação infantil: “Tenho percebido que existem alguns problemas relacionados às campanhas de vacinação infantil como, por exemplo, boatos que surgem na internet e que fazem com que os pais não vacinem as crianças. Essa problemática tem tudo a ver com o Enem, pois é um tema de responsabilidade social e que requer soluções factíveis”, observa a professora.
E nos outros vestibulares?
De maneira geral, existem temas típicos que aparecem todos anos, em pelo menos algumas das provas de vestibular. A questão do meio ambiente pode entrar, por exemplo, atrelada ao aquecimento global e à saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris. Além disso, formas alternativas de obtenção de energia, mobilidade urbana nas grandes cidades, crise de refugiados e radicalismo são outros temas recorrentes.
Fundação Vunesp: temas polêmicos
Responsável pelos vestibulares da Unesp e da Unifesp, a Fundação Vunesp costuma abordar temas polêmicos em suas redações. “Por exemplo, essa questão do envelhecimento tratada no Enem, apareceria nestes vestibulares com uma abordagem voltada para a questão da aposentadoria e das mudanças nas políticas públicas e governamentais”, compara Simone Motta, lembrando de outros temas que podem aparecer, como a crise da segurança pública e as novas propostas de regras para regulamentação do trabalho.
Fuvest: questões subjetivas
A Fuvest é uma prova que apresenta questões mais subjetivas. Em anos anteriores, a redação tratou de temas, como “utopia” e “menoridade do homem”, este último baseado em texto de Kant. “A Fuvest exige do aluno um texto atual, mas com uma visão pessoal. Não exige uma proposta, uma solução de problemas, como o Enem”, explica Motta.
Por esse motivo, é mais difícil prever um assunto a ser abordado, mas a professora lembra que neste ano houve a morte do filósofo polonês Zygmunt Bauman, e seus conceitos de liquidez aplicados à modernidade, entre outras possibilidades, talvez pudessem ser aproveitados pela Banca, de alguma forma.
Unicamp: duas propostas de redação
A Unicamp tem um formato diferente de redação: pede duas propostas no mesmo dia e no mesmo horário. Segundo Simone Motta, a filosofia da instituição é de que a redação tem que ser espontânea e sair do universo cotidiano do aluno. “Ela entende que o candidato, ao se preparar para uma prova, faz a leitura de jornais e revistas, inclusive dos editoriais, o que lhes permitiria, por exemplo, produzir esse tipo de texto, pois isto faria parte do universo deles”. Ela lembra, ainda, de outros vestibulares em que foram cobrados gêneros como editorial, carta ao leitor e verbete de enciclopédia eletrônica, por exemplo.
Como fazer uma redação para o Enem – Confira dicas para elaborar o seu texto e mandar bem na prova
Única etapa escrita de todo o Enem, a redação demanda que os estudantes demonstrem a sua capacidade de argumentação, domínio da Língua Portuguesa e conhecimento sobre o assunto abordado. Costuma ser uma das principais preocupações dos candidatos, e não sem motivos. O exame se tornou, nos últimos anos, uma das principais avaliações do país para ingresso nas universidades.
A extensão da prova demanda um nível de concentração muito grande: são 45 questões em cada matéria, cerca de quatro horas de teste por dia. “O Enem é quase uma maratona física. O candidato tem que se habituar a ficar sentado durante muitas horas e a trabalhar a estratégia de tempo. É uma prova que tem um DNA diferente e, somada a todos esses fatores, temos a redação”, observa a coordenadora de Português do Grupo Etapa, Simone Motta.
A redação do exame tem algumas características bastante específicas. O tema, por exemplo, geralmente se refere a um assunto de abrangência nacional e relacionado a questões sociais. Outro elemento que diferencia a prova de redação do Enem das demais avaliações do país é a necessidade de o candidato propor uma solução ao fim do texto.
“A redação do Enem funciona assim: há o tema e ele passa por uma análise, a qual resulta numa argumentação com a apresentação dos problemas e, por fim, na conclusão deve ser proposta uma solução, tudo isso respeitando os direitos humanos”, explica Motta.
O que fazer em cada etapa da redação do Enem?
Introdução: o aluno deve apresentar o tema e a sua tese. Ele precisa deixar claro qual foi o assunto escolhido pela banca e apresentar a opinião dele sobre esse tópico. Lembrando que o candidato deve respeitar os direitos humanos, obrigatoriamente. O Enem deixa claro que esse é um dos critérios de avaliação.
Desenvolvimento: é o momento de defender a opinião apresentada sobre o assunto, com uma boa argumentação. No primeiro parágrafo do desenvolvimento, o candidato justifica o que apresentou como tese. No segundo, elabora uma complementação natural do primeiro, apresentando uma ideia de valor equivalente ou uma nova ideia. “O aluno deve escolher com muito cuidado o que vai falar na introdução, porque a opinião dele é justamente o que ele terá que defender depois”, alerta Motta.
Conclusão: é preciso colocar a chamada “proposta de intervenção”, isto é, a solução para o problema desenvolvido ao longo do texto.
“Essa solução deve resolver, necessariamente, os problemas que foram apresentados no texto do aluno. Os candidatos se confundem, achando que devem resolver o tema. Não é isso. É preciso abordar o tema, apresentar os problemas, argumentar e propor uma forma de resolvê-los na conclusão”, observa Simone.
E para os outros vestibulares?
Apesar de as provas não serem exatamente iguais, existem estratégias que valem para redações em geral e que o aluno pode seguir na hora de elaborar o texto. Confira:
Manter-se fiel ao tema da redação: o estudante não pode fugir do assunto escolhido pela banca, tem que ter argumentos e conhecimento para abordá-lo. Por isso, a leitura de notícias é tão importante. Quanto mais dominar e conhecer o tema, mais facilidade o candidato terá na hora de colocar o raciocínio no papel;
Buscar adequação à proposta do texto: se for proposto um texto dissertativo-argumentativo, você terá que mostrar capacidade de escrever nesse formato;
Seguir a norma culta: isso significa seguir as regras da gramática, como ortografia, acentuação, regência e concordância, ter coerência (lógica de raciocínio) e coesão (união entre as partes do texto).
Algumas dicas:
Não usar a primeira pessoa do singular;
Não escrever gírias ou coloquialismos;
Não fazer uso de elementos que não são de Língua Portuguesa, como emoticons e hashtags;
Não fazer piadas;
Tomar cuidado com as ironias, porque elas podem não ser entendidas pelos avaliadores;
Evitar posicionamentos ideológicos radicais;
Defender os direitos humanos sempre, em especial no Enem;
Cuidado com a ortografia, a acentuação, a regência e a concordância.