Em meio às manifestações de fé dos Ternos de Reis em todo estado, a obra Reiseiros, vida de sorte e saúde lança o documentário “Tudo tem um tempo”. O longa retrata a peregrinação dos reiseiros da comunidade do Riacho da Vaca, situada no Alto Sertão da Bahia, durante os seis dias de ritual do Santo Reis. O lançamento acontecerá no dia 12 de janeiro, às 19h, no cine-teatro da Casa Anísio Teixeira, com a presença dos realizadores e do grupo do Terno de Reis do Riacho da Vaca. A entrada é gratuita e aberta ao público. O filme integra a obra Reiseiros, projeto enquadrado com o título Trilha de Reis. A iniciativa conta com o patrocínio da Coelba e Governo do Estado, através do Fazcultura, da Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura do Estado da Bahia
Produzido pela Olho de Peixe Filmes, o documentário de 90 min, traduz, numa linguagem intimista, as peculiaridades da manifestação de fé e cultura sertaneja. “Através das narrações e vivências dos integrantes do tradicional Terno de Reis dessa comunidade quilombola, buscamos ressaltar a visão de mundo do sertanejo e a importância de se cultivar valores como a fé, a simplicidade e a solidariedade como a melhor forma para se viver e aproveitar a vida”, explica Sabrina Alves, sócia da produtora Olho de Peixe e uma das idealizadoras do projeto. O lançamento abrirá o fim de semana no qual será realizado o XXXII Festival de Reisado de Caetité, evento que reúne os principais Ternos de Reis da região, preservando a cultura milenar que atravessa gerações.
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“Retornar para a região no mês de janeiro, período simbólico para a cultura do Reisado e poder lançar o filme do projeto, juntamente com um evento tão tradicional, é a melhor forma de iniciarmos essa fase do trabalho e dar visibilidade a essa tradição que não pode acabar”, afirma Cristiano Britto, sócio da Olho de Peixe. O projeto contempla também uma websérie com 10 episódios, disponível no site www.reiseiros.com, e um livro. A publicação, que reúne fotos e textos do tradicional e singular Reisado do Alto Sertão da Bahia, será lançada em março, no Espaço Glauber Rocha, em Salvador. O evento de lançamento também contará com a exibição inédita do filme na capital baiana.
Sobre o projeto – A paixão reiseira
A festa dos três Reis Magos do Oriente que, conforme o credo católico, visitaram o recém-nascido Jesus Cristo com presentes e honras é comumente representada pelos personagens bíblicos com figurinos coloridos, alegóricos, guiados com som harmônico. No alto sertão baiano, os sócios Cristiano Britto e Sabrina Alves foram apresentados a uma nova representação da Folia de Reis.
“Em 2010, convidados pelo músico e parceiro Anderson Cunha, partimos para uma longa viagem do litoral ao interior e desembarcamos cheios de curiosidade diretamente na zona rural do município de Caetité. Encontramos o primeiro Terno de Reis tocando dentro de uma casa e a cena que foi revelada para nós era diferente de tudo que havíamos construído previamente através das referências mais recorrentes a respeito de uma Folia de Reis. Não havia figurinos, alegorias e instrumentos harmônicos”, comenta Cristiano Britto.
Uma música percussiva, orgânica, quase tribal guia a incursão nesta Festa que se repete em cada casa, mantendo uma simplicidade material, mas que revela uma grande subjetividade e diferentes formas de envolvimento dos personagens. “A breve vivência com eles nos arrebatou de uma forma muito intensa. Era precioso o que se apresentava naquele território tão distante, no meio do nada, no interior do interior. Naquele lugar esquecido, um ritual religioso traduzido de forma tão autêntica, única, particular se apresentou para nós como uma representação encantadora de conceitos tão universais como a existência, a fé, o amor e a empatia”, relata Sabrina Alves.
Esta experiência culminou na efetiva realização do projeto que cumpre o papel de apresentar e preservar a identidade dos Ternos de Reis da zona rural do Alto Sertão da Bahia. “Decidimos ressaltar as histórias e características dos reiseiros mais apaixonados, sem restringir a denominação de reiseiro aos integrantes. Reiseiro é aquele que ama o reis, seja aquele que vai, seja aquele que recebe”, conclui Cristiano Britto. Além do material captado na festa de 2017, os registros realizados ao longo dos sete anos de desenvolvimento do trabalho estarão à disposição do público interessado em conhecer os bastidores desta iniciativa no canal oficial do projeto.