O governador da Bahia, Rui Costa (PT), disse, ontem, que as conversas vazadas do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e o procurador do Ministério Público Federal (MPF), Deltan Dallagnol, vão além da discussão sobre a imparcialidade do julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Lula foi condenado, em primeira instância, por Moro a nove anos e meio de prisão no caso do triplex.
“Acho que essa questão é muito além da questão do Lula. Não se trata da questão de um julgamento, se trata do comportamento de juízes e promotores. Não é admissível que quem deveria, no exercício da sua profissão respeitar a lei e zelar pelo cumprimento, sejam as primeiras pessoas a descumprir a lei. Não se trata de um julgamento. Eu não quero reduzir isso ao julgamento A ou B. É muito mais grave”, declarou Rui Costa, em entrevista à imprensa.
Mensagens trocadas por Sergio Moro, quando era juiz na Operação Lava Jato, e Deltan mostram que o ex-magistrado orientou as ações dos procuradores. As conversas foram divulgadas pelo site The Intercept Brasil. Ontem, Rui Costa defendeu que todo o conteúdo seja divulgado. “Eu acho que fica sempre a necessidade de a sociedade conhecer todo o conteúdo o mais rápido possível”, salientou. Na noite de ontem, o site divulgou mais uma leva de mensagens. Nelas, Moro repreende Dallagnol após a Lava Jato investigar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) para passar uma impressão de imparcialidade. “Melindra alguém cujo apoio é importante”, disse o então magistrado.
O governador baiano ainda quer que o caso seja apurado rapidamente. “Desejo, para o bem da democracia brasileira, que a própria instituição Ministério Público e a Justiça adotem um processo de investigação para garantir transparência de tudo. Além de governador, eu sou cidadão brasileiro. E eu não acredito em democracia, em país desenvolvido, sem uma Justiça forte e respeitada. Não acredito em um país democrático e que seja respeitado internacionalmente sem um Ministério Público que fique de pé e a sociedade possa confiar”, declarou.
Rui Costa sugeriu que Moro usou a Lava Jato para chegar ao Ministério da Justiça. “Não é admissível, em nenhum lugar do mundo, juiz nem promotor fazer política partidária. Usar a Justiça ou o Ministério Público para autopromoção pessoal. Não é possível usar para beneficiar partidos políticos e muito menos para alcançar cargos políticos. Imagine o que será do cidadão brasileiro se qualquer promotor ou qualquer juiz disputar cargo de ministro do Estado, vaga no STF, no STJ, ou no Tribunal de Justiça, através de ações ilegais, conspirações. Isso não é bom para a Justiça e não é bom para o Ministério. Espero que muito, além dos interesses corporativos, prevaleça a força da construção de uma imagem que os brasileiros querem ver de uma Justiça forte, respeitada e de um Ministério Público respeitado”, pontuou.
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) já afirmou que tem a pretensão de indicar Sergio Moro para o Supremo Tribunal Federal (STF) assim que uma vaga for aberta. Rui Costa ainda falou sobre as críticas que tem sofrido da oposição sobre a reforma da Previdência. Os oposicionistas têm acusado o governador de ficar “omisso”. “Não quero comentar. Quem é oposição faz o seu trabalho. Estou buscando ajudar um país, uma nação que inclua as pessoas mais pobres. Não vou ficar respondendo a qualquer pessoa. Espero que as pessoas possam contribuir com ideias e com propostas. Não apenas ficar com crítica aqui ou ali. Não quero ficar no debate com prefeito, vereador ou deputado. Cada um fala o que quer. Eu prefiro me concentrar naquilo que ajuda as pessoas”, pontuou.