O país das próximas eleições tem como característica central a regressão acelerada em relação aos períodos de maior avanço econômico e social, entre os anos 1940 e meados da década de 1970 e em menor escala de 2002 a 2015.

A maioria das pessoas, descreve o economista Paulo Gala, da Fundação Getulio Vargas, está hoje empregada em pequenos comércios, restaurantes, cabeleireiros, padarias e farmácias. Não há grandes indústrias high tech nem serviços empresariais sofisticados e com escala. Não há inovação tecnológica nem novos produtos. “É a economia da padaria”, compara Gala.

A situação deplorável do mercado de trabalho destaca-se no quadro de retrocesso e bloqueia a retomada a partir do consumo de massa. Outro aspecto desalentador é o virtual descarte, pelo governo e a maioria do Congresso, dos principais motores de desenvolvimento tecnológico e da inovação no País, da Petrobras, controlada pelo Estado e em processo de desmonte acelerado, e da Embraer, empresa privada de alto interesse nacional, mas prestes a passar para o controle da estadunidense Boeing.

“Somando-se 13 milhões de desempregados com cerca de 13 milhões de subocupados, tem-se um quarto da força de trabalho de 104,2 milhões de pessoas à deriva. É um quadro revelador da gravidade da situação econômico-social atual”, chama atenção o economista Marcelo Manzano, professor da Facamp.
A situação é muito ruim e vai piorar quando se generalizar a adoção da nova legislação trabalhista, prevê o economista Eduardo Fagnani, da Unicamp e do site Plataforma Política Social. Os sindicatos buscam a negociação coletiva, mas, como a taxa de desemprego é alta, fica difícil mobilizar os trabalhadores, relata a socióloga Adriana Marcolino, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Os três especialistas debateram o tema em encontro organizado pelo Le Monde Diplomatique.

O mercado de trabalho fraco não gera consumo suficiente para levar as empresas a investir em tecnologia e aumento da produção e sem investimentos elas não criam empregos. “O Brasil caminha para ter um capitalismo sem consumidor, porque as pessoas não terão renda para consumir”, dispara Fagnani. No segundo trimestre, a população desocupada recuou -5,3%, de 13,7 milhões para 13 milhões, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, portanto não houve mudança significativa.

Segundo Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, o declínio aconteceu principalmente em função do número de pessoas procurando trabalho. A pesquisa mostra também uma redução expressiva na população empregada com carteira de trabalho assinada, que atingiu o menor nível anual desde o início da série, criada em 2012. O aumento da população trabalhando na indústria, principalmente na têxtil e de confecções, divide-se entre trabalhadores com carteira e aqueles que trabalham por conta própria, principalmente costureiros, destaca Azeredo.

Além da estagnação e da degradação do mercado de trabalho em consequência da recessão, da austeridade e da nova legislação trabalhista, o eleito em outubro encontrará um setor industrial fragilizado pela liquidação selvagem de ativos da Petrobras, a maior empresa do País e centro de articulação da principal cadeia produtiva, e pela desnacionalização da Embraer.

A facilidade com que o País se desfaz da petroleira e da fabricante de aviões é de estarrecer, pois no centro da disputa mundial polarizada entre EUA e China estão a tecnologia e a inovação, as impulsionadoras do crescimento sustentado, da geração de empregos de qualidade e do aumento de produtividade. No Índice Global de Inovação de 2018, apesar de ter subido cinco posições, o País aparece só no 64º lugar entre 126 economias, abaixo do Chile, da Costa Rica e do México.

Imagine-se então qual seria a colocação sem a Petrobras e a Embraer, as que mais investem entre as nove brasileiras integrantes das 2,5 mil corporações com maiores desembolsos em pesquisa e desenvolvimento no mundo, segundo o Industrial Research and Innovation Monitoring and Analysis (Irima), da Comissão Europeia. WEG, Vale, Totvs, Natura, BRF, CPFL e Braskem, as duas últimas recentemente desnacionalizadas, completam a lista das companhias locais que participam com 0,25% dos gastos com pesquisa e desenvolvimento entre as 2,5 mil maiores corporações globais.

Os propalados cortes de verbas do governo para pesquisa seriam o epílogo do processo de degeneração que ameaça devolver o Brasil aos primórdios do desenvolvimento da ciência local, no início do século XIX.

“A gravidade da situação do mercado de trabalho fica evidente na precariedade dos empregos que estão surgindo. Do fim de 2013 até junho, o País perdeu 3 milhões de empregos formais e quase 4 milhões de empregos informais. A pequena recuperação que houve foi no trabalho informal, basicamente de mão de obra menos qualificada. São empregos na margem do mercado de trabalho ocupados em grande medida por jovens com baixo grau de escolaridade, baixa remuneração e precários”, analisa Manzano.