Enquanto gasolina e etanol tiveram redução em média de 22,5%, o diesel teve acréscimo de quase 2% desde abril, segundo dados da ANP.

Os levantamentos semanais da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostram que os postos de combustíveis têm reduzido paulatinamente os preços de gasolina e etanol há mais de um mês. A exceção é o diesel, que permanece quase estável.

A redução do produto desde a semana de 25 de junho foi de apenas 1,9%, o que significa R$ 0,15 o litro em termos nominais. O diesel passou de R$ 7,57 para R$ 7,42 nesse intervalo. Enquanto isso, a gasolina passou de R$ 7,39 para R$ 5,74, um corte de 22,3%. O etanol enfileira quedas há 13 semanas e foi de R$ 5,53 a R$ 4,21 o litro, também um recuo de 23,8%.

No episódio mais recente, os russos limitaram ainda mais o fornecimento de gás natural para a Europa, por meio do gasoduto Nord Stream. O gás natural é uma importante fonte de energia para casas e para indústrias europeias e cerca de 40% do gás consumido na União Europeia vem da Rússia. O substituto natural, de curto prazo, é o diesel. “O receio com a Rússia faz a Europa estocar diesel, o que eleva o preço em todo o mundo. Isso fez a cotação do diesel descolar do barril de petróleo e ter grande volatilidade”, diz Rodrigues. É essa variação dos preços que faz a Petrobras “jogar parada” com o diesel. O vaivém da cotação no mercado internacional pode fazer uma redução precipitada se transformar em uma alta depois de pouco tempo. “O volume consumido no Brasil é muito grande, então a empresa não pode correr um risco de desabastecimento”, afirma o especialista, que acredita que a empresa está certa em deixar uma “margem de segurança” para o combustível.

A própria Petrobras indicou que são altas as chances de o preço do diesel seguir elevado por causa de um “descasamento” entre oferta e demanda. Pelo lado da demanda, a tendência é de um aumento da procura pelo combustível nos próximos meses por conta do inverno no hemisfério norte. Já no Brasil, a busca pelo diesel também deve ser maior com o escoamento da safra de grãos, feito majoritariamente por transporte rodoviário. Já pela oferta, a Petrobras espera efeitos da temporada de furacão nos Estados Unidos, o que pode comprometer a produção e incentivar aumentos de estoque de diesel. Mas especialistas ouvidos pelo g1 também colocam na conta uma possível extensão nos cortes no fornecimento de energia pela Rússia em momento decisivo.

O economista Cláudio Frischtak, sócio-fundador da consultoria Inter B, lembra que a situação pode se complicar porque o consumo de diesel é de difícil substituição. Na Europa, por exemplo, além do transporte de carga, há dependência de diesel para abastecimento dos carros de passeio e, eventualmente, para o aquecimento de casas. “Diesel tem uma demanda muito mais inelástica, enquanto as refinarias estão com problemas de aumento de produção. O Brasil importa cerca de 25% do diesel e acaba sofrendo bastante com o mercado internacional”, diz Frischtak.

Apesar do projeto que limita o ICMS sobre itens como diesel, gasolina, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo a uma faixa que não deveria superar de 17% a 18%, dependendo da localidade. Acontece que, o imposto que incidiu no diesel sempre foi mais baixo e boa parte dos estados já tinha uma cobrança inferior ao novo limite estabelecido pelo projeto. Com o custo do diesel aumentando, até o auxílio para caminhoneiros acaba sendo inócuo”, afirma Carla Beni, economista e professora da FGV. // G1.