Após alguns anos de impasses, batalhas na justiça, protestos nas ruas, projetos recusados, análises e decisões judiciais, o Governador do Estado Rui Costa, anunciou há alguns dias em Boquira, que, “Superadas as demandas na justiça, uma nova licitação está em andamento para o início de um sistema integrado de abastecimento de água a partir do Zabumbão”, ainda segundo Rui, “a intervenção inclui a construção de uma nova barragem no Rio da Caixa, município de Rio do Pires, com objetivo de reforçar uma adutora que levaria água até Boquira”. Disse
Ocorre que, diante da escassez de água no Zabumbão, total falta de cuidados na preservação desde as nascentes até o lago, má distribuição com sistemas arcaicos de irrigação, nenhum controle por parte dos órgãos competentes, os moradores de Paramirim e Caturama, com temor de que aconteça um desabastecimento em grande escala, estão de fato preocupados com a viabilidade de tal projeto e a segurança hídrica.
Marcada para hoje (06), uma nova audiência pública na sede do município de Paramirim, na qual técnicos de instituições pró e contra o projeto integrado de abastecimento, discorrerão sobre necessidades e eventuais consequências da intervenção. Latifundiários, irrigantes, lideranças comunitárias prometem aquecer o clima, contra a obra, que segundo eles, esvaziaria o reservatório dentro de pouco tempo.
Acontece que, como em todo processo democrático de discussão sobre assuntos de interesse da comunidade regional, sempre existem os que se apresentam com boa intenção, desarmados de rancor, preconceito, desejando participar, discutir civilizadamente os melhores caminhos, que, na questão hídrica, passa obrigatoriamente pela recuperação de uma bacia que agoniza, por amplos projetos de revitalização, antes que se fale em redistribuição.
No entanto, tem-se percebido que nesses encontros “interessados” em continuarem se fartando, dos milhões de metros cúbicos derramados em suas propriedades, sem sequer preocuparem-se com a preservação, aqueles que pouco ou nada fazem pela barragem, exceto se armarem para a guerra quando o assunto é matar a sede de famílias necessitadas, já se arvoram, mobilizando gente, conclamando moradores, para “defenderem a água do Zabumbão”. Quando na verdade, não estão preocupados com a barragem, com economia de água, a ganância fala mais alto, não querem dividir e aterrorizam com o fantasma da escassez.
No episódio de hoje, há um fato novo que vem recebendo críticas. A presença de prefeitos cujas cidades já beneficiadas com as águas do Zabumbão, mesmo não estando inclusas no Vale do Paramirim, como é o caso de Botuporã e Tanque Novo, que segundo informações, estão arregimentando servidores municipais e pessoas próximas, disponibilizando transporte e até lanches, atrativos que segundo se apurou junto a fontes idôneas, servirão para somarem números de pessoas inocentes, no intuito de fazer pressão para proibir que outros municípios tenham a chance de ao menos discutir a viabilidade do abastecimento. O intrigante é que tais alcaides, que negam uma cesta básica, dizem não ter dinheiro nem para trocar um lâmpada de poste, suas cidades abandonadas, amargam o descaso generalizado. Possuem recursos para patrocinarem passeios. Cuidado para o tiro não sair pela culatra e seus municípios também perderem o direito à água do Zabumbão.
A verdade continua sendo a mesma que sempre expomos aqui ao longo de décadas. Enquanto a discussão, ações e obras não priorizarem a revitalização, eliminação de esgotos, poluição de garimpos, inibir desmatamento, promovendo reflorestamento adequado, fiscalização verdadeira e eliminação de aproveitadores na mesa de negociação, nada poderá ser feito no sentido de ampliar a oferta. Enquanto insistirem no fingimento esquecendo o mais importante de todo esse debate a coisa não anda. “Nossos Rios Estão Morrendo! A Barragem do Zabumbão está sendo poluída diariamente com toneladas de esgoto, garimpos e lixo”. Enquanto se preocupam com suas plantações e seus bois, o problema se agrava nas nascentes!
A questão da distribuição e do acesso à água é um problema grave, que se resolve com espírito democrático, buscando soluções viáveis e sustentáveis. Enquanto não se garantir a preservação, revitalização de verdade, para que o acesso e a gestão da água siga sob supervisão e participação cidadã, continuará o lengalenga, a exposição ridícula de oportunistas, nas suas guerras da água para “interesses particulares”. Vale ressaltar o que ocorreu em encontros anteriores, com direito a ataques covardes, fugindo totalmente do tema em pauta.
Não se deve transformar uma questão social e ambiental tão delicada, em jogo de interesses particulares e políticos. A poluição, desmatamento, contaminação por produtos químicos e esgotos, deverá ser o alvo a ser combatido. “Antes de se falar em proteger os tais direitos de outorga d’água que vem dos tempos dos Coronéis,” devemos nos unir pela preservação, pela saúde do Zabumbão que maltratado, agoniza. Esse sim deve ser o tema estratégico que tem repercussões humanas muito profundas.
Nunca é demais lembrar que as figurinhas carimbadas, que vivem sucumbidas no anonimato, nada produzem pelo bem da comunidade. Oportunistas que são, basta que se tenha alguma chance de aparecer e lá estão, exercendo o papel de lideranças, que irão consertar o errado, proibir isso, impedir aquilo. Onde estavam quando garimpos se instalaram nas comunidades de Barra, Paramirim das Creoulas e Morro do Fogo? O que fizeram quando o Jornal O Eco alertou para a situação das pedreiras que se proliferam e nada trazem de progresso? Qual a posição diante do fato de estar o Prefeito de Paramirim desviando água da Barragem para lagoa poluída? O que dizer dos Prefeitos de Tanque Novo e Botuporã fornecendo veículos e liberando servidores para protestos?
É fácil e muito oportuno, transformar uma questão de distribuição de água para quem tem sede, numa vitrine de promoção política, profissional e pessoal. Não se nota por parte dessas figuras, ao longo da história recente, nenhuma preocupação, ou ação concreta, em defesa do meio ambiente, contra a degradação.
A população atual é politizada e consciente. Deve lutar junto ao governo do estado, para que, em primeiro plano, seja concretizada a revitalização de todo o sistema, isso ocorrendo, dentro do que é legal, as discussões avançarão no contexto social humanitário. Por último, deverá ser revista à questão dos direitos de irrigação, que, como todos tem conhecimento, as propriedades, em sua maioria, utilizam a água de forma desordenada, alagando terrenos improdutivos, outros, com as famigeradas bombas, evitam a perenização natural do rio. Nesse meio, uns poucos latifundiários consomem a maior parte da água para molhar capim.