Era por volta de 20h30 (hora local) desta segunda-feira (19) quando uma carreta avançou contra uma feira de Natal no bairro Charlottenburg, em Berlim. Pelo menos 12 pessoas morreram e outras 48 ficaram feridas, algumas em estado grave.
O caso é tratado pelas autoridades como um possível atentado terrorista. Por volta das 3h, a polícia de Berlim publicou no Twitter acreditar que o caminhão tenha sido jogado contra a multidão de forma proposital e usou o termo "ataque terrorista". "Todas as medidas policiais em relação ao provavel ataque terrorista na Breitscheidplatz correm sob alta pressão e a cautela necessária", tuitou a polícia.
O Ministro da Justiça, Heiko Maas, disse que as investigações foram encaminhadas para a Procuradoria Federal, que investiga casos envolvendo suspeita de terrorismo. O ministro do Interior, Thomas de Maizière, disse que as autoridades ainda estão investigando as circunstâncias e pediu cautela.
"Eu não quero usar a palavra 'ataque' neste momento, embora muitos indícios apontem para isso. Há um efeito psicológico em todo o país em relação à escolha de palavras, e nós queremos ser muito, muito cautelosos e operar com base nos resultados da investigação, não em especulações", declarou de Maizière. As autoridades alemãs também pediram que os cidadãos de Berlim permaneçam em suas casas e evitem disseminar boatos.
A carreta Scania avançou cerca de 80 metros sobre a feira de Natal próxima à icônica Igreja Memorial do Imperador Guilherme (Kaiser Wilhelm Gedächtniskirche), na região da movimentada avenida Kurfürstendamm.
A repórter da DW Kyra Levine informou que ambulâncias levaram os feridos, e as ruas foram bloqueadas, tornando uma área normalmente movimentada e vibrante em uma cena estranhamente calma, após a polícia pedir que as pessoas ficassem em casa.
Carreta polonesa, motorista desconhecido
O caminhão tinha placas da Polônia e carregava vigas de aço. Segundo as autoridades, o passageiro morto na cabine tinha nacionalidade polonesa, mas não era o motorista. O polonês dono da companhia de transporte, Ariel Zurawski, disse à emissora TVN 24 que seu primo trabalhava para ele e que não o havia conseguido contactar desde as 16h.
Zurawski disse à emissora que não há nenhuma possibilidade de seu primo ter realizado o ataque. "Devem ter feito alguma coisa com ele", declarou.
Um funcionário de Zurawski, que conversou com a DW em condição de anonimato, disse que o caminhão ia da Polônia à Itália para entregar uma carga de aço à ThyssenKrupp antes de eles perderem contato com o motorista. De acordo com o GPS da companhia, a partir das 17h a carreta ficou parada por aproximadamente duas horas no subúrbio de Wedding, norte de Berlim.
Segundo um portal de notícias da Polônia, o chefe de transporte da empresa, Lukasz Wasik, afirmou que o veículo foi ligado várias vezes na segunda-feira. "Como se alguém estivesse treinando para dirigi-lo", disse Wasik. Segundo os dados do GPS, o caminhão foi ligado às 15h44, depois às 16h52 e novamente às 17h37. O veículo, no entanto, foi colocado em movimento apenas às 19h34.
A nacionalidade do motorista ainda é desconhecida, mas a agência de notícias alemã DPA e o jornal Die Welt citaram fontes das forças de segurança dizendo que o homem preso era requerente de asilo do Paquistão ou Afeganistão e teria usado nomes falsos. Ele teria chegado à Alemanha em fevereiro.
De acordo com um porta-voz da polícia, o suspeito fugiu logo após a tragédia e foi preso próximo à Coluna da Vitória, localizada a cerca de dois quilômetros do local do incidente.
Europa em alerta máximo
O provável ataque, um dos maiores a atingir a Alemanha em mais de uma década, ocorre em um momento no qual a Europa está em alerta após uma série de atentados terroristas perpetrados na França e na Bélgica ao longo do último ano.
A França reforçou, prontamente, a segurança nas feiras de Natal, comunicou o ministro do Interior, Bruno Le Roux. As cenas em Berlim lembram o ataque na cidade francesa de Nice, em 14 de julho, quando um extremista tunisiano atropelou uma multidão, matando 86 pessoas.
Embora a hipótese de terrorismo não tenha sido confirmada e nenhum grupo tenha assumido a autoria pelo incidente em Berlim, o autodenominado "Estado Islâmico" (EI) já incitou seus seguidores a realizar ataques terroristas na Europa antes.
"Mesmo que o EI esteja agora bastante enfraquecido como organização, ele ainda consegue inspirar terroristas no Ocidente", disse à DW Max Abrahms, especialista em terrorismo da Northeastern University, nos Estados Unidos. "Objetos do cotidiano, como carros e caminhões podem ser letais, o que torna as ações de contraterrorismo extraordinariamente difíceis."
O aparente ataque terrorista ocorre após a Alemanha ter acolhido mais de um milhão de refugiados ao longo dos últimos dois anos, levantando questões sobre a capacidade do país de lidar com um número tão grande de recém-chegados. O influxo gerou preocupações em relação à segurança e forçou o governo a aumentar as medidas de segurança ante as eleições federais de 2017, nas quais a política migratória de Angela Merkel devem ser tema central.
A chanceler-federal está em contato direto com o prefeito de Berlim, Michael Müller, e com o ministro do Interior, Thomas de Maizière, informou o porta-voz de Merkel, Steffen Seibert. "Estamos em luto pelos mortos e esperamos que os muitos feridos possam ser ajudados", publicou Seibert em seu Twitter.
Ataques frustrados
As autoridades alemãs frustraram diversos ataques planejados recentemente, prendendo dezenas de supostos islamistas. No início de outubro, um refugiado sírio foi detido por alegadamente planejar um ataque a bomba em um aeroporto de Berlim. O suspeito, Jaber Albakr, se suicidou na prisão.
Em julho, um refugiado afegão de 17 anos de idade atacou passageiros em um trem na Baviera, com um machado e uma faca, antes de ser morto a tiros pela polícia. Dias mais tarde, um sírio requerente de asilo morreu ao detonar um colete com explosivos em nome do EI na cidade de Ansbach, deixando 15 pessoas feridas.
Na mesma semana, um alemão-iraniano de 18 anos abriu fogo contra passantes em um shopping de Munique, matando nove pessoas antes de se suicidar. Segundo as autoridades, o homem era obcecado por assassinatos em massa e não tinha ligação com o extremismo islâmico.
No início de dezembro, um menino de 12 anos foi preso por supostamente construir uma bomba caseira que ele tentou detonar em uma feira de Natal na cidade de Ludwigshafen.