Vai começar a maior peregrinação religiosa e festiva da microrregião. Milhares de pessoas marcam presença na Festa de Nossa Senhora do Carmo no Morro.

Falar sobre os tradicionais e centenários festejos e romarias ao Morro do Fogo, localidade escondida numa tira de planície entre as magníficas serras da Chapada no município de Érico Cardoso, é relembrar o nosso passado, rever a nossa própria história, a história de todo o Vale do Paramirim e região.

A romaria, que consiste em caminhos de terra, entre vales, subida das serras, as tradicionais paradas, onde barraquinhas aguardam os romeiros, toda a mística que envolve a festança no Morro do Fogo, é para os que contemplam, mais que homenagens aos santos abrigados na pequena capela, ali no ponto mais alto da comunidade.

O Morro do Fogo, por algum tempo, foi palco de toda a efervescência e glamour propiciado pela riqueza na fase do ouro, tendo sido a sede de toda a povoação regional, origem de todas as famílias nativas do Vale. Com o fim da exploração, escassez do ouro, as famílias desceram os montes adotando novas atividades como a criação de gado e investimentos na agricultura. Espalhando-se, foram povoando todo o Vale do Rio Paramirim.

Na comunidade do Morro do Fogo, permaneceram alguns moradores e com eles ficou guardada toda a história dos antepassados, incluindo a capela erguida à época da povoação em devoção à Santa milagrosa Nossa Senhora do Carmo, que até os dias atuais, acolhe e abençoa milhares de fiéis, que em romaria, pagam promessas, rendem homenagens e cumprem bonito ritual católico, rico em fé, devoção, simbologia e tradição.

Nos dias que antecedem a grande festa católica no Morro do Fogo, visitantes de todos os cantos da Bahia e do Brasil, gente das cidades vizinhas, seguem em romaria, de automóvel, motocicletas, cavalo, carros de bois e até mesmo a pé. Vão se ajeitando nos acampamentos improvisados nos arredores em meio à relva, nas margens do rio, outros alugam casas, organizam reuniões, comerciantes erguem barracas que oferecem pratos típicos do sertão, como a famosa lingüiça, o andu (espécie de feijão), cerveja e cachaça da boa. Todos participantes vão se alegrando com o tradicional forró pé de serra nas noites tipicamente frias da serra e aproveitando toda a bela paisagem, rios cachoeiras, plantações e contato direto com a natureza.

É sentir o clima, tomar poeira, encarar obstáculos na viagem, tocar as nascentes de água doce que ainda resistem apesar de toda a degradação humana, é envolver-se numa mistura de sentimentos indescritível, pisando o mesmo solo, onde Portugueses, índios e escravos, mesmo sem terem conhecimento, davam início há muitos anos, a povoação da região.

O visitante, o romeiro, os jovens que contam os dias para estarem na grande concentração, subindo as trilhas, mirando a magnífica paisagem e se deliciando com as condições rústicas, nos acampamentos improvisados e no forró pé de serra das noites de festa, deveriam ter as informações de que, além de toda essa comemoração católica, aliada a profana com amor e alegria, estão contribuindo de uma forma ou de outra, para a preservação da cultura centenária de um lugar especial, que deu origem às nossas cidades e povoações.

Além dos devotos convictos, os jovens tornaram a romaria cada vez mais animada, com acampamentos em blocos, churrasco ao redor das cabanas improvisadas e o tradicional encontro na praça do povoado para noites inteiras de festa e muita empolgação.

Nossa equipe de reportagem estará conferindo in loco, tanto o percurso de 10km pelos vales e serras, como o folguedo, registrando o entusiasmo e todo encanto da festa do Morro. A gestão municipal também está presente, contribuindo com os preparativos, garantindo boas estradas, segurança, postos de saúde, organização, estacionamentos para ofertar o melhor em comodidade aos milhares de visitantes. Percebemos também os festeiros empenhados em organizar uma edição de destaque. A capela recebe cuidados em limpeza e estrutura visando o conforto e acessibilidade aos romeiros que devem lotar o Morro.

Outra parte que não poderia faltar, as atrações artísticas e musicais o arrasta-pé nos dias de muita alegria e descontração. Vale aqui ressaltar, que informações de autoridades, dão conta de que haverá maior rigor no controle de exageros que ofereçam riscos à integridade física dos romeiros, ou perturbem a paz e harmonia do evento, à exemplo de veículos com equipamentos sonoros cujas potências estejam acima do normal. Providências preventivas que visam melhor diversão e maior comodidade aos participantes, bem como estrutura e organização, ficam por conta da prefeitura, que tem colaborado para o brilho do evento.

Nessa edição de 2023, a festa começa oficialmente no sábado (15/07), indo até a segunda-feira (17), porém, a véspera e o grande dia de comemoração, não são datas oficiais para os mochileiros, madrugadores, amantes de trilhas, que chegam dias antes, estendendo a visitação por até uma semana, levando em conta que o Morro já está movimentado com a presença dos festeiros, organizadores, comerciantes, a montagem das famosas barraquinhas, que servem além de bebidas, pratos típicos, comidas deliciosas, pratos fortes, para que o romeiro resista ao frio das noites e a maratona na peregrinação do sobe e desce entre a igreja e o Arraiá onde o arrasta-pé come no centro.

FOTOS E VÍDEO: ARQUIVO JORNAL O ECO