Apesar das ‘explicações e supostos arrependimentos’, falas retratam que a intolerância vem sendo estimulada em todos os cantos do país e não vem só dos chamados sulistas.

Após assistirmos estarrecidos a diversas reportagens sobre ataques racistas, xenofóbicos e todo tipo de discriminação para com os nordestinos, descobrimos que dentre as postagens que viralizaram nas redes, duas foram de autoria de profissionais da saúde (um médico e uma enfermeira), que são filhos de Boquira, a cidade mais lulista da Bahia no primeiro turno das eleições 2022. Fontes idôneas, que preferem não se identificar, confirmaram que tanto a enfermeira, cujo print viralizou ao pedir desculpas ao Brasil em nome dos nordestinos, que segundo ela “querem dinheiro sem trabalhar”, quanto o médico que estimulou a abstenção, sugerindo oferecer “excursões” para incitar a abstenção dos baianos, são da cidade de Boquira. Ela reside em São Paulo e o médico presta serviços em cidade próxima a Salvador.

É de fato lamentável que a intolerância, a discriminação, o ódio destilado contra o direito de escolha no processo democrático, esteja também presente entre nós, em cada canto da Bahia e do Brasil. Um fenômeno alimentado por líderes fascistas de extrema direita, cujo veneno tem penetrado na militância e até em pessoas comuns, que passam a odiar o vizinho, o parente, simplesmente pela sua opção de voto. No print que está público em diversos veículos e redes sociais, o médico afirma que, o povo baiano é, em sua maioria, “vagabundo” e “corrupto”, por isso ofertar viagens gratuitas fariam os eleitores desistirem de exercer seu direito de cidadão, de modo que os eleitores em questão viajariam no Dia do Servidor Público, celebrado na sexta-feira (28) que antecede as eleições, e só retornariam após as 17h do domingo, quando as urnas já estariam fechadas.

Quando procurado pela reportagem do site BNews de Salvador, o médico explicou que o print “foi retirado de um grupo privado em que estava havendo uma discussão política de ânimos exaltados. No contexto dessa discussão, houve agressões pessoais e a minha intenção era atingir apenas esta pessoa específica que fazia parte da discussão (opositor político) que agiu de modo premeditado e maldoso para me atingir”, justificou Fábio.  Ainda segundo ele, após se dar conta do que havia escrito, se arrependeu. “Logo em seguida à publicação, pedi desculpa e exclui o comentário do grupo pois me arrependi das palavras que não condizem com meu pensamento e meus valores”, disse o médico que compartilhou com o site BNews o conteúdo desse pedido de desculpas.

Depois da divulgação da conversa em questão, o médico e sua família estariam sendo agredidos: “Algumas pessoas, inclusive, que não sei quem são, tem agredido a minha esposa e família em decorrência disso, sem qualquer justificativa para tal além de maldade”, contou Quinteiro, que ressaltou que é “nordestino e baiano e me orgulho pois, considero essa terra abençoada onde nasci e cresci”. Na opinião de especialistas do comportamento humano, tanto o ataque, quanto o arrependimento, evidenciam que a polarização está atingindo o seu ápice e é necessária muita reflexão, autocritica e discernimento nesses últimos dias, exortando pela paz, pela liberdade de escolha e pelo respeito ao direito de cada brasileiro exercer a sua cidadania.